quinta-feira, 13 de abril de 2017

O Caveira resenha: "Muck" (2015)

A ideia básica do terror "Muck" (2015), primeiro filme do diretor Steve Wolsh, até que é interessante: um "slasher movie" que começa com uma história pela metade, com um grupo de amigos já em sérios apuros e esfarrapados, em busca de socorro e que acabam se deparando com uma situação ainda pior ao longo da trama - tudo isso desembocando em um final abrupto e inconclusivo.

Aparentemente, a ideia de Wolsh é fazer uma trilogia, sendo que este primeiro filme seria "o meio" da história, cujo começo e conclusão só serão devidamente esclarecidos nos filmes posteriores. Excêntrico, talvez, mas até aí tudo bem. O problema é que todas as boas intenções se perdem com a trama ridícula, as atuações sofríveis e os diálogos risíveis. 

A canastrice é tão generalizada que se torna virtualmente impossível identificar se Wolsh quis mesmo fazer um filme de terror ou apenas uma paródia de filmes de terror. O resultado final ficou num meio-termo: é um terror ruim e uma comédia ruim. Depois de ver "Muck" até o fim, fiquei com a impressão de que Wolsh quis criar uma espécie de "cult movie" meio Robert Rodriguez, meio Tarantino. Se a ideia era essa, então - ó meu bom Deus - se trata de um sério caso de muita pretensão para pouco talento.

Mas o que torna o filme excessivamente bobo é, sem dúvida, a nudez gratuita de quase todo o elenco feminino. Por favor, não me entendam mal: não se trata de moralismo da minha parte. Tampouco desconheço o fato de que uma certa dose de erotismo sempre esteve ligada à arte de horror, desde muito antes do surgimento do cinema. O problema é que, em "Muck", a proliferação gratuita de seios e bundas é, além de forçada, simplesmente elevada à condição de coisa mais importante do filme ao longo de toda a "trama".

A obsessão de Wolsh com as cenas de nudez desvinculadas da narrativa faz surgir a dúvida: por que ele não dirigiu um "soft porn" ao invés de um filme de terror? O espectador fica com a impressão de que o filme foi dirigido por um menino pré-adolescente em combustão hormonal, do tipo que nunca viu uma mulher nua na vida. É constrangedor e patético - mais ou menos o que se esperaria de um filme de terror dirigido por Beavis e Butt-Head. 

Se a intenção era fazer um terror carregado de erotismo, então novamente o resultado denuncia a falta de maturidade dos realizadores. Erotismo e nudez gratuita são duas coisas completamente diferentes. O clássico do horror "The Hunger" ("Fome de Viver", de 1983) é dez mil vezes mais erótico do que "Muck". A diferença, aqui, é entre erotismo e onanismo.

Pontos positivos: alguns poucos momentos de humor que efetivamente funcionam; as cenas de luta bem dirigidas; o uso de efeitos práticos no lugar de computação gráfica fajuta; a qualidade de imagem e fotografia e a presença no elenco do ídolo Kane Hodder (amado pelos fãs de filmes de terror por ter interpretado Jason quatro vezes no cinema).

Vale à pena ver? Depende. Se você não é fã do gênero, passe longe. Se é fã, ainda assim só recomendo em caso de falta de opção melhor. Agora, se você curte o gênero e está reunido com uma turma de amigos bebendo cerveja a noite inteira, este é o tipo de filme ideal para ver de galera e rolar de tanto rir com os momentos de humor involuntário da produção. Para quem estiver disposto a deixar o senso crítico de lado por um par de horas, no conjunto "Muck" até oferece um pouquinho de entretenimento barato e diversão - mas não muito.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

O Caveira resenha: "Mr. Mercedes" (2014), de Stephen King


Esqueça o horror sobrenatural, terreno que King já explorou com maestria tantas vezes ao longo das últimas cinco décadas. Mais do que qualquer outra coisa, "Mr. Mercedes" é uma história de detetive e seus personagens são construídos com os dois pés fincados no chão de um realismo urbano carregado de trivialidade.

Mas não espere uma história de detetive do tipo Agatha Christie, nem algo parecido com um ambiente de filme noir. Neste gênero literário, o que frequentemente faz o leitor devorar o livro é o mistério da identidade do criminoso, a ânsia do leitor em saber a resposta para a singela pergunta: "quem"? O livro de King não poderia passar mais distante desta fórmula tradicional. O autor não apenas revela a identidade do vilão logo no começo da história (para ser sincero, você pode saber o nome do assassino só de ler a orelha do livro!) como boa parte da narrativa se desenvolve pela perspectiva deste cruel antagonista. "Mr. Mercedes" é um romance de detetive no qual o mistério sai de cena para dar lugar a um frenético jogo de gato e rato diante do qual a expectativa do leitor é saber se os "mocinhos" conseguirão deter o criminoso a tempo de impedí-lo de levar adiante seus novos projetos macabros.

Se o vilão da trama foge daquilo que é convencional para o gênero, o mesmo vale para o protagonista. O ex-policial  Bill Hodges é um personagem maravilhosamente verossímil e que exemplifica, pela milésima vez, o conhecido e notório talento de King para criar personagens realistas e carismáticos. Sexagenário, obeso, solitário e aposentado, Hodges é antítese do detetive charmoso, viril e seguro de si que frequentemente identificamos como estereótipo do "detetive" em histórias deste tipo. No início da trama, Hodges não é nada mais do que um gordo velho que passa suas tardes vendo ridículos programas de auditório na televisão. Ele encarna, de certa forma, uma das figuras mais apreciadas por King: a do herói atípico. Não é a primeira vez que King coloca um idoso em uma luta contra forças do mal (veja, a título de exemplo, o ótimo "Insônia" de 1994), mas isso não prejudica a originalidade com a qual ele constrói uma trama detetivesca na qual o herói e o vilão dividem o protagonismo da narrativa de forma intercalada.

Alternando momentos bem humorados com outros de horror psicológico sutil porém perturbador, "Mr. Mercedes" é um thriller que deixa fantasmas, zumbis e criaturas extradimensionais de lado e aposta em um horror que é incômodo sobretudo porque é realista e verossímil. A cabeça do vilão da trama poderia ser a de um colega de trabalho ou  do vizinho que mora aí do seu lado - e talvez seja mesmo!

Aparentemente, o próprio Stephen King sucumbiu ao improvável charme sedutor do sedentário detetive aposentado Hodges, na medida em que o autor transformou o personagem no protagonista de mais dois livros que dão sequência a "Mr. Mercedes": "Finders Keepers" (2015) e "End of Watch" (2016). E pensar que, há mais de quinze anos atrás, King chegou a anunciar a sua "aposentadoria". Hoje ele está com 69 anos e, só nessa década, já lançou oito livros novos. Realmente, quando se trata de heróis sexagenários que se mostram capazes de fazer melhor do que qualquer mocinho mais jovem, nem mesmo o detetive aposentado Hodges pode competir com o mestre King.

O Caveira volta dos mortos (de novo!)


Fala sério, dessa vez você achou que eu tinha abandonado de vez este velho blog, não é mesmo?

Um ano e três meses sem postagens. É verdade: a Cripta ficou abandonada, como já aconteceu outras vezes no decorrer destes 13 anos (!) desde que o blog foi inaugurado em seu primeiro endereço, em 2004.

Mas agora é hora de começar a botar as coisas em ordem por aqui!

De cara, já inauguramos uma nova identidade visual e um novo endereço - www.criptadocaveira.com.br. É nóis na fita, boys and ghouls!

Aguardem novas resenhas de filmes, de séries, de livros, de álbuns e, é claro, muita arte e cultura pop de horror.

O Caveira está de volta.

Party night na Cripta!

Som na caixa, DJ!

"Quando o relógio bate as oito,
Todas as caveiras comem biscoito;

Tumbalacatumba tumba ta,
Tumbalacatumba tumba ta..."



terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O Caveira analisa: os dois primeiros episódios da nova minissérie de Arquivo X



Atenção: contém SPOILERS! Não continue lendo se você ainda não viu os novos episódios!

Antes de mais nada: fiquei feliz de rever a dupla de agentes do FBI mais amada da história da televisão. Anderson e Duchovny ainda conseguem criar aquela química perfeita entre os protagonistas. Foi muito bom rever Mulder e Scully e foi sensacional ver dois novos episódios de Arquivo-X, depois de quase quatorze anos. 

Sobre os episódios em si, as impressões e sentimentos são mistos.

É bom lembrar que essa nova minissérie será composta por um arco narrativo de seis episódios. Por isso, é importante ter em mente que não é possível avaliar a qualidade deste retorno da série com base apenas nestes dois primeiros. Aquilo que ainda veremos nos quatro episódios seguintes provavelmente mudará, para melhor ou para pior, a nossa percepção sobre estes dois episódios iniciais. 

Feita esta ressalva, é impossível escapar de observações críticas mais óbvias. O primeiro episódio, "My Struggle", é simplesmente uma bagunça e sofre de sérios problemas de andamento. Começa imensamente promissor, mas vai se tornando progressivamente mais anticlimático até chegar ao final, quando somos informados que a divisão Arquivo X do FBI foi subitamente reaberta (por qual razão? Sob a autoridade de quem? Como Mulder e Scully voltam magicamente a ser agentes do FBI da noite para o dia?) e tomamos conhecimento de que o mais memorável antagonista da série, o "Smoking Man" (que aqui no Brasil era ridiculamente chamado de "O Canceroso") ainda está vivo, apesar de o último episódio da série clássica, em 2002, ter mostrado detalhadamente, com direito a "close", que ele foi explodido com um míssil disparado em sua direção.

Tudo isso é perdoável. Uma pequena carência de detalhes aqui, uma ressurreição milagrosa acolá ... quem sabe ainda virá uma explicação razoável mais adiante? O que é menos digerível é a completa bagunça da trama do primeiro novo episódio. De uma hora para outra, somos apresentados a uma nova conspiração que contradiz grande parte do que a série original estipulava como canônico - e, em questão de minutos, vemos Mulder absolutamente convencido dessa "nova verdade" e desacreditando as conclusões de seu próprio trabalho de quase uma década no FBI. É duro de engolir - ainda mais porque a nova teoria conspiratória soa ainda mais inverossímil do que a anterior. A conspiração original era recheada de elementos fantásticos. A nova conspiração mantém a camada fantástica, mas adiciona uma nova camada que mistura os mais variados elementos de antiglobalismo, anticapitalismo, ultranacionalismo norte-americano e paranoia política e econômica. 

Ao final do primeiro episódio, não sabemos mais qual é a loucura "oficial" da trama - ou seja, se a nova piração é uma cortina de fumaça em torno da piração original ou se a piração original era uma cortina de fumaça em torno desta piração à qual somos apresentados agora. Se todo esse caos narrativo é uma forma genial de nos deixar confusos e imersos na história enquanto ela se desenvolve - ou se é apenas má técnica narrativa -, é coisa que só saberemos vendo os próximos quatro episódios.
Felizmente, o segundo episódio normaliza um pouco as coisas. Depois da vertigem de passar por aquele que é sério candidato a episódio mais esquisito e confuso de Arquivo-X de todos os tempos, somos na sequência confortavelmente apresentados a um episódio mais "normal", em estilo clássico, puro Arquivo-X dos anos 90 do começo ao fim, mas mantendo de forma sutil as conexões com a mitologia central da série e com o episódio anterior. De fato, se mostrou sábia e oportuna a decisão de exibir o segundo episódio logo depois do primeiro (com uma diferença de 24 horas, nos EUA, e ambos na mesma noite aqui no Brasil). O segundo episódio faz um belo serviço no sentido de dissipar a sensação de deslocamento e perplexidade causadas pelo primeiro episódio.

De qualquer forma, o certo é que nós, fãs da clássica série, temos todos os motivos do mundo para estarmos animados e empolgados com este tão sonhado retorno. Ainda é cedo para dizer mais coisas sobre este novo arco de seis episódios. Será apenas um breve "comeback" festivo, ou será o ensaio para um retorno triunfal de Arquivo-X com novas temporadas? Será um marco na mitologia da série, ou será apenas algo análogo a um spin-of oportunista? Vamos lembrar deles com carinho e excitação pelas próximas décadas, ou será apenas uma diversão rápida e descartável de verão? 

Ainda é cedo para dizer. A única coisa certa é que a verdade está lá fora. De novo. E isso, por si só, já é muito, muito legal.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Caveira analisa: "Poltergeist" (2015)




Remakes de filmes excelentes são sempre vistos com grande desconfiança pelos fãs dos originais.

Com razão.

No mais das vezes, existem poucas motivações artísticas para recriar filmes que são considerados clássicos e que gozam de duradouro prestígio entre crítica e público. Por trás dos remakes, geralmente não existe nada além do desejo de fazer dinheiro explorando o bom nome de alguma grande produção do passado.

Não é diferente com este "Poltergeist" de 2015. Completamente desnecessário, ele não acrescenta absolutamente nada ao filme original (nem às suas sequências) em termos narrativos. Da mesma forma, o remake opta por uma fórmula acomodada e desprovida de criatividade e ousadia. Não espere um filme paradigmático dentro do gênero do horror, como foi a película original de 1982 dirigida pelo grande mestre Tobe Hooper.

Este novo "Poltergeist" é descartável e imediatamente esquecível. Mais preocupado com o público médio dos cinemas do que com fãs de cinema de horror, ele apresenta doses tão moderadas de sustos e elementos do gênero que, na maior parte do tempo, quase dá para esquecer que é um filme de horror. Parece mais um drama leve com pitadas cômicas e uma diversidade de elementos sobrenaturais. Não há atmosfera, não há inovação e não há uma atriz mirim maravilhosamente marcante como era o caso de Heather O'Rourke e sua inesquecível personagem Carol Anne (aliás, diga-se de passagem, ausente neste remake - ela foi substituída por outra personagem similar, mas que não tem nem 10% do sinistro carisma da antecessora).

Apesar de tudo isso, o remake está muito longe de ser um desastre. A direção é firme e competente, o ritmo é adequado, o respeito ao material original é evidente e o filme deixa bastante clara a sua completa ausência de qualquer pretensão de "reinventar" a obra original. É um remake acomodado, despretensioso e que espertamente mostra, em algumas cenas, que não se leva a sério demais. Merece uma conferida, desde que o espectador não espere do filme mais do que ele é: uma reimaginação modernizada e descompromissada do clássico de 1982, sem a menor intenção ou condições de ser um marco equivalente ao que foi o original.

Na minha opinião, o verdadeiro "Poltergeist" do cinema contemporâneo ainda é o excelente "Insidious", de 2011. Comparado com ele, este remake do velho "Poltergeist" mais parece um passeio de trem-fantasma voltado para um público infantil entre cinco a oito anos de idade.

Mas a fórmula de "terror light familiar" adotada pelo remake, aparentemente, atendeu aos desejos comerciais dos produtores: com um custo de US$ 35 milhões, o novo "Poltergeist" faturou nada menos do que US$ 95 milhões ao redor do mundo - um feito digno de nota para uma produção do gênero.

Enfim, não é um filme que vai marcar a vida de ninguém, mas rende uma hora e meia de relativa diversão. Vale à pena, até porque em poucos anos o remake irá fatalmente cair no buraco negro do esquecimento, ao mesmo tempo em que continuaremos falando com entusiasmo, pelas décadas vindouras, sobre o memorável filme original de 1982.

O Caveira recomenda - mas sem muito entusiasmo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

R.I.P Gleen Frey


Ontem perdemos mais um dos grandes: o cantor e guitarrista Gleen Frey. Nunca fui um fã inveterado do Eagles e conheço pouco da discografia da banda. Mas, como um fã da cultura pop dos anos 80, existem pelo menos duas pérolas de Frey que são inesquecíveis para mim. 

A primeira é a famosíssima "The Heat is On", um dos temas mais memoráveis dos anos 80, e a música que era sempre diretamente associada com o filme "Um Tira da Pesada" (enorme sucesso naqueles tempos). 

A outra é menos lembrada hoje em dia. Trata-se de "You Belong to the City", faixa que Frey escreveu em 1985 especialmente para um episódio de uma das minhas séries mais adoradas de todos os tempos, a icônica "Miami Vice". A música é longamente executada no episódio "Prodigal Son", enquanto Sonny Crocket (o personagem interpretado por Don Johnson) perambula solitário pelas ruas. 

Posteriormente, a faixa foi incluída no primeiro álbum com a trilha sonora de "Miami Vice" e o disco se tornou a trilha sonora televisiva de maior sucesso comercial de todos os tempos, distinção que mantém até hoje.

As séries de TV atuais, via de regra, são muito superiores ao que se via nos anos 80 e 90. Mas ainda está para surgir uma série de TV com trilha sonora comparável a Miami Vice.



sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Caveira analisa: "Tomorrowland" (2015)

 

"Tomorrowland" (2015) é cinema pop de ficção-científica da melhor qualidade. Tem todas as virtudes de um bom sci-fi: a mensagem é, a um só tempo, de alerta, de questionamento e de otimismo pró-ativo. 

Há uma clara crítica a este sentimento generalizado de desesperança cínica fatalista, tão na moda nos dias atuais. A recepção que o filme teve só endossa a precisão do diagnóstico. A produção mal se pagou nas bilheterias e teve uma recepção, por parte da crítica, que oscilou entre frieza e agressividade. No mesmo ano, uma distopia futurista rasa e sem conteúdo como "Mad Max - Fury Road", que é basicamente duas horas de espetáculo visual e malabarismo com veículos, foi recebida por crítica e público como se fosse uma obra-prima. 

O filme tem seus defeitos e algumas cenas desnecessariamente bobas, e o sempre sensacional Hugh Laurie poderia ter sido melhor aproveitado (o discurso que ele dá, perto do final do filme, é o ponto alto da coisa toda). Mas obviamente a película não merece a recepção indiferente que teve. Não chega a ser algo anormal. Veja-se, por exemplo, o caso de "Blade Runner" (1982), meu filme favorito de todos os tempos, passou meio despercebido na época de seu lançamento e precisou de uma década para se tornar a cultuada e reverenciada obra-prima que hoje todos aplaudem de pé.

Nos dias atuais, até filme do Superman, para vingar nas bilheterias, precisa ser sombrio, deprimente e desesperançoso. É triste ver que o espírito da nossa época é tão particularmente preguiçoso, niilista e abjeto, e "Tomorrowland" já é digno de atenção pelo simples fato de criticar isso em uma grande produção pop hollywoodiana. 

O Caveira recomenda.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Caveira analisa: "Pixels" (2015)



"Pixels" (2015) é uma comédia de ação que parte de uma ideia legal, mas não consegue realizá-la com plena competência. Ainda assim, é divertido e tem vários bons momentos de humor e nostalgia. 

O filme não merece, de forma alguma, o tratamento draconiano que lhe foi dispensado pela crítica especializada, que simplesmente crucificou a produção. 

Me parece que a reputação de Adam Sandler está tão desgastada (compreensivelmente, diga-se de passagem) que qualquer filme estrelado por ele já vira automaticamente um alvo para rajadas de tomates podres. Pessoalmente, achei o melhor filme de Sandler que eu vi desde "Click", de 2006. 

No entanto, é indiscutível que o filme é muito voltado para o público na faixa dos 30 a 40 anos, ficando carente de maiores atrativos para espectadores mais jovens. Dificilmente alguém abaixo dos trinta e poucos vai ser capaz de pegar a enorme quantidade de referências à cultura pop dos anos 1980 que aparece ao longo da trama. Já que a ideia era um filme para um público mais velho, talvez a produção pudesse ter optado por um humor mais maduro e inteligente - ou, no mínimo, por menos clichês típicos dos filmes de Sandler. 

Mas insisto: o filme é uma boa diversão para quem está incluído no seu público alvo e simplesmente não merece as notas absurdamente baixas que recebeu da maior parte da crítica especializada. Quem tem boas memórias da Era de Ouro dos Arcades pode ver sem medo.

O Caveira recomenda.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O Caveira analisa: "Maggie" (2015)

"Maggie" (2015) é uma pérola rara: um filme de zumbi que não segue quase nenhuma das convenções do gênero. A tradicional ênfase nos sustos, na correria, no tiroteio e na sanguinolência dá lugar a um drama familiar lento e sem sobressaltos, mas carregado de atmosfera e densidade emocional. 

Apesar dos elementos de filme de terror, "Maggie" é sobretudo um drama - e um drama surpreendentemente bem construído, diga-se de passagem. Schwarzenegger entrega uma das performances mais únicas e improváveis de toda a sua longa carreira, em um papel absolutamente diferente de qualquer coisa que ele já fez antes. Se você nunca imaginou que o velho Schwarza poderia arrancar lágrimas dos olhos do espectador, você precisa conferir este filme. Abigal Breslin também surpreende com uma performance forte, obtendo um resultado excelente em seu papel extremamente não convencional. 

Como geralmente acontece com a maior parte dos filmes ligados ao gênero terror, a crítica no geral não jogou muito confete neste aqui (apesar de alguns reviews da mídia especializada terem sido muito positivos). Da minha parte, acho que "Maggie" corre sério risco de, com o passar do tempo, virar um filme cult. 

Diferente, artístico e autêntico, o filme aborda a questão da sobrevivência em um cenário pós-apocalíptico de forma completamente diferente do que estamos acostumados a ver. O resultado pega o espectador pela garganta. 

Um filme único, tocante e sensacional. Confira.


domingo, 19 de julho de 2015

O Caveira analisa: "Burying the Ex" (2014)


"Burying the Ex", lançado em 2014, é uma grata e inesperada surpresa. O veterano diretor Joe Dante ressurge com essa divertidíssima comédia zumbi/splatter, lançada no ano passado. Filme leve e despretensioso, mas obrigatório para fãs do cinema de horror e claramente feito com todo o carinho para este público específico. Atenção para a participação especial do icônico Dick Miller (que já trabalhou em diversos filmes de horror ao longo das décadas, como Gremlins e Tales From the Crypt - Demon Knight), ressurgindo aqui numa rápida aparição, do alto de seus 86 anos de idade. 

A crítica, para variar, detonou o filme. Se fosse uma comédia romântica com um pouco menos de violência estética, certamente estaria com uns 80% no RottenTomatoes. Não dê bola para o mimimi dos "muggles": confira e divirta-se. 

Ah, está disponível no Popcorn Time!  ;)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

A Burrice Exterminadora


Quase todo mundo conhece a premissa da cinessérie "O Exterminador do Futuro": o ano é 2029 e metade da população mundial foi exterminada em um único dia, por conta de múltiplos ataques nucleares promovidos por uma inteligência artificial chamada "Skynet", um sistema originalmente criado para o Departamento de Defesa norte-americano . Os sobreviventes, a partir disso, lutam desesperadamente para sobreviver aos ataques incessantes dos exércitos robóticos criados e liderados pela sinistra inteligência em rede, que pretende exterminar toda a humanidade.

Desde 1984, ano em que o filme original foi lançado, Skynet se transformou no símbolo-mor das "inteligências artificiais malévolas" e em uma das referências mais frequentes e comuns em todos os debates sobre os riscos do desenvolvimento de inteligências artificiais.

A inteligência e o caráter de Skynet são temas que receberam tratamento diferenciado nas diversas iterações deste universo fictício nos cinemas. Enquanto filmes mais recentes da série têm sugerido um Skynet cruel e malévolo, que despreza a humanidade e quer "superá-la", os dois primeiros filmes (de 1984 e 1991, respectivamente) adotam uma abordagem mais ambígua e menos maniqueísta.

Se a sua paciência me permitir, eu gostaria de sugerir um novo olhar sobre este popular vilão da cultura popular. Sempre pensamos em Skynet como o exemplo quintessencial de inteligência artificial, quase como sendo uma divindade digital. Será mesmo? Na contramão desta concepção tradicional, proponho uma outra perspectiva: e se, na verdade, o grande problema do Skynet residir no fato de que ele é burro e estúpido demais?

Explico: Skynet foi criado para otimizar a defesa aeroespacial norte-americana. Ele foi desenvolvido com o objetivo de assegurar a paz, por meio da automatização completa de toda a rede de sistemas de defesa dos EUA. Tudo corria maravilhosamente bem, até que aconteceu um detalhe imprevisto: Skynet se tornou autoconsciente.

O que isso significa? Significa que, a partir deste momento, ele se tornou capaz de fazer interpretações livres e juízos de valor independentes, ao contrário de meramente seguir um programa de computador. Ele passou a ter a possibilidade de pensar sobre o papel defensivo para o qual foi criado, ao invés de apenas desempenhá-lo por meio de diretrizes estabelecidas e algoritmos otimizados. E, em questão de segundos, ele chegou à mais estúpida, pobre e imatura das conclusões: que a paz absoluta sobre a Terra só poderia vir a existir com o extermínio total da raça humana.

Antes de alguém querer jogar pedras em Skynet, permita-me defendê-lo neste ponto em particular: do ponto de vista formal, a lógica dele é inatacável. De fato, um mundo sem pessoas é um mundo sem guerras, de paz absoluta. Problema resolvido. Que se trata de uma solução eficiente, isso é indiscutível. A questão é que se trata de uma solução estúpida e irrefletida, do tipo que atira pela janela a água da bacia com a criança ainda dentro.

Skynet, em toda a sua primariedade e simplicidade cognitiva, não é capaz de compreender a vida humana como um valor, nem de raciocinar com base em princípios. Uma verdadeira inteligência artificial (supondo que isso seja possível) compreenderia que a defesa militar de uma nação não é um valor em si, mas sim um valor derivado, que decorre da importância da proteção à integridade, à saúde e à vida dos seres humanos. Uma criança consegue compreender isso. Skynet, que não passa de um ábaco avantajado, não consegue.

Corro sério risco de ser mal compreendido aqui. Quer dizer que o argumento original de "O Exterminador do Futuro" é tolo e que devemos parar de nos preocuparmos com inteligências artificiais? Pelo contrário: este novo olhar que estou sugerindo sobre Skynet apenas nos mostra que o perigo é muito mais plausível do que se poderia imaginar. O único detalhe é que nossa preocupação não deve ser focada em máquinas inteligentíssimas - que certo dia acordam de manhã subitamente conscientes e resolvem abraçar "o mal" - mas sim com máquinas estúpidas e obtusas às quais, de forma ingênua, nós confiamos tarefas importantes sem levarmos em consideração a completa falta de inteligência das ferramentas que criamos. Aqui já saímos da minha opinião sobre o Skynet e entramos em uma crítica mais ampla, que já está sendo levada adiante por muitos estudiosos.

"O que você deve temer é um computador que seja competente em apenas uma área muito pequena, em um grau limitado", afirma o professor de física do MIT, Max Tegmark. Para ele, o recente incidente na fábrica alemã da Volkswagen, no qual um robô acidentalmente matou um trabalhador, "foi um exemplo de uma máquina sendo estúpida, não fazendo algo mau, mas tratando uma pessoa como se ela fosse um pedaço de metal". Eu acrescentaria: qualquer semelhança com Skynet não é mera coincidência. É preciso ser incrivelmente estúpido e desprovido de inteligência para achar que "defesa militar" é um valor superior e absolutamente alheio e desvinculado à vida humana, não é mesmo?

"Pessoas que estudam inteligência artificial sabem que um computador que joga xadrez, ainda assim, não anseia por capturar a rainha", afirma o professor de Ciência da Computação da Universidade da Califórnia, Stuart Russell. "O que falta para o programa de computador é ter, por trás dele, uma estrutura de valores", ele complementa. "A má compreensão é achar que só existe um risco se houver consciência".

Concluo: deveríamos ficar surpresos com o fato de que é a burrice artificial, e não a inteligência artificial, o verdadeiro fator de risco e a real ameaça ao nosso futuro enquanto civilização? Qual é a novidade aí? Nenhuma, ao que me parece. Fora do mundo dos robôs, das redes e dos computadores, as grandes ameaças ao exercício pleno do nosso brilhante potencial de seres humanos sempre foram - e continuam sendo - estas mesmas: a ignorância incompreensiva, a pressa burra, a ausência de senso crítico, a incoerência, a estupidez agressiva e violenta, a incapacidade de compreensão do conceito de dignidade da vida humana e, last but not least, a lógica formal que se recusa a dialogar com os valores morais, políticos, sociais e jurídicos do entorno, construídos histórica e culturalmente. O fato é que o sono da razão valorativa produz monstros - tão ou mais terríveis do que aquele famoso e sinistro esqueleto robótico de metal, de olhos vermelhos e recoberto com pele de Schwarzenegger.

Nas palavras de Victor Frankl: "Não foram apenas alguns ministérios de Berlim que inventaram as câmaras de gás de Maidanek, Auschwitz, Treblinka: elas foram preparadas nos escritórios e salas de aula de cientistas e filósofos niilistas, entre os quais se contavam e contam alguns pensadores anglo-saxônicos laureados com o Prêmio Nobel. É que, se a vida humana não passa do insignificante produto acidental de umas moléculas de proteína, pouco importa que um psicopata seja eliminado como inútil e que ao psicopata se acrescentem mais uns quantos povos inferiores: tudo isto não é senão raciocínio lógico e consequente".

Não parece muito com o tipo da coisa que faria Skynet, aquele estúpido aplicativo turbinado de smartphone?

terça-feira, 23 de junho de 2015

O Caveira analisa: "Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake"


 

Nas últimas duas semanas, nas horas vagas, li "Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake", de David Groove, recentemente lançado por aqui pela editora Darkside. Agora que concluí a leitura, só o que tenho a dizer para os fãs do filme original de 1980 é o seguinte: leiam este livro! Ele cobre toda a história da concepção, filmagem e produção do primeiro e clássico "Sexta-Feira 13", com uma série de fotos, declarações e fatos muito interessantes e que certamente são desconhecidos até pelos fãs mais ardorosos. 

[SPOILER ALERT] 

Seguem abaixo alguns exemplos de curiosidades que eu não sabia sobre o filme e que achei divertidíssimas:

1 - "Sexta-Feira 13" foi filmado na pequena cidade norte-americana de Blairstown, que na época das filmagens (1979) tinha em torno de uns 4.000 habitantes. A produção chamou a atenção do mais famoso morador da pequena cidade, que chegou a visitar o local das filmagens, assistir as gravações de algumas cenas, conversar e fazer festa com os atores e demais profissionais envolvidos na produção. Seu nome? LOU REED! É sério! O padrinho do punk supervisionou a produção do slasher movie mais famoso de todos os tempos! :D

2 - O conceito do filme nasceu ... do nome! O diretor Sean Cunninghan simplesmente pensou que precisava dirigir um filme com um nome impactante e pensou em "Sexta-Feira 13". Era só o que ele tinha. Depois, o início da produção foi pomposamente anunciado em algumas publicações da época, para atrair estúdios e investidores, e mesmo até então só o que existia era o nome do filme e um logo caprichado, feito com letras que quebravam uma vidraça em um efeito 3D. O roteiro só foi ganhar algum mínimo de corpo meses depois, e mesmo na versão final era magrinho, sendo que várias cenas e falas foram improvisadas nas filmagens ou concebidas já na fase de produção. A célebre cena final, que mostra Jason saindo do lago para atacar Alice, só foi criada quando o filme estava quase começando a ser rodado.

3 - A lista de atrizes veteranas para interpretar a Sra. Voorhees incluiu Dorothy Malone, Estelle Parsons, Shelley Winters e Louise Lasser. O nome de Betsy Palmer nem estava entre as possibilidades inicialmente cogitadas. Ela só foi confirmada no papel quando a produção já estava em avançado estado e simplesmente não podia mais continuar sem a sua personagem. Todas as "aparições" parciais da assassina antes da parte final do filme foram gravadas com diferentes pessoas da equipe técnica "interpretando" a personagem, já que Betsy chegou nas filmagens só mais diante.

4 - Betsy Palmer não fazia filmes há um bom tempo e era uma atriz de formação mais teatral. Nas cenas em que ela tinha que bater na personagem de Adrienne King, ela foi lá e simplesmente sentou a mão na atriz, de verdade. O clima ficou meio ruim entre as duas, mas ninguém quis censurar a veterana atriz.

5 - A esposa do diretor Sean Cunningham estava com ele durante as filmagens, participando de aspectos técnicos da produção. Surpreendentemente, sabe-se lá como, isso não impediu que Cunningham e Adrienne King tivessem um caso durante o período. Ironicamente, King interpretava justamente a mocinha virginal e casta do grupo.

Enfim, recomendo a leitura deste imperdível deleite para fãs do cinema de horror.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O Caveira analisa: "The Sleeper" (2012)


A ideia por trás de "The Sleeper" (2012) é interessante. O diretor Justin Russell pretendeu criar um slasher movie contemporâneo que fosse não apenas ambientado no começo dos anos 1980 como, também, parecesse ter sido feito naquela época. Russell atinge seu objetivo com relativo sucesso. Tirando algumas cenas pontuais, na maior parte do tempo o filme até consegue passar a impressão de realmente ser uma produção do comecinho dos 80s. 

O problema é que a devoção de Russell pela atmosfera da época, aparentemente, fez com que ele desse mais prioridade para a estética do que para a qualidade final do filme. No afã de parecer um slasher movie antigo, "The Sleeper" acaba ostentando algumas das piores características típicas de produções menos memoráveis da época, como atuações de qualidade duvidosa, ritmo lento e aborrecido, cenas de assassinato forçadas e nada convincentes, trama sem pé nem cabeça e por aí vai.

A história de "The Sleeper" se passa em 1981 e de fato, na maior parte do tempo, ele parece um filme de terror feito naquela época. Só que, infelizmente, ele não se parece com os grandes filmes slasher daqueles tempos, como "Halloween" ou "Sexta-Feira 13", mas sim com as toneladas de imitações que esses dois clássicos geraram naquele período e que, em sua maioria, já eram sofríveis ou medíocres até mesmo para os padrões da época. 

Enfim, "The Sleeper" vale como uma curiosidade interessante para fãs de filmes de terror que já tenham passado dos trinta. Espectadores mais jovens devem evitar este filme, sob o risco de entrarem em coma com o ritmo lento, aborrecido, sem terror, sem história e sem quaisquer surpresas. Para quem tiver paciência de encará-lo, o filme diverte em alguns poucos momentos específicos - como na cena da dança coreografada na boate, que tranquilamente é a pior, mais artificial e mais vergonhosa cena de dança que eu já vi em qualquer filme em toda a minha vida.


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Um breve comentário sobre a E3 2015

Um breve comentário gamer: os pontos altos da E3 foram Super Mario Maker (que já tinha sido anunciado pela primeira vez na edição passada), o remake de Final Fantasy VII, os novos jogos das famosas séries Fallout, Doom e Uncharted, a ressurreição de Shenmue, os novos jogos das consagradas séries Starfox e Zelda para WiiU, a retrocompatibilidade do Xbox One com o Xbox 360 e os remakes de jogos do Ps3 para o Ps4. 

Notaram alguma coisa errada nisso tudo?

Agora é oficial, gurizada medonha: a mesma esterilidade criativa que acomete a grande indústria cinematográfica há anos chegou, finalmente, à indústria dos videogames.

Remakes, reciclagens e remasterizações em HD. Não esperem muita vida e criatividade por parte das grandes desenvolvedoras, pelo menos no curto-médio prazo.

Fiquem à vontade para me chamar de saudosista, mas tenho memórias muito legais de ter vivido numa época em que, todo ano, surgia uma nova e brilhante franquia lendária dos videogames.

A ironia da coisa toda: a Era de Ouro da criatividade nos videogames foi também a era das limitações tecnológicas, do hardware pobre e das máquinas modestas. Hoje, vivemos na Era de Ouro da tecnologia, com consoles superpoderosos e seus gráficos de qualidade quase foto-realística - e tudo isso convive com a mais deprimente falta de espírito criativo e renovador.

domingo, 14 de junho de 2015

O Caveira analisa: "Kung Fury" (2015)

Ridiculamente empolgante, absurdamente divertido e absolutamente apaixonante com o seu humor assumidamente ultraexagerado e nonsense, o curta sueco "Kung Fury" (2015) é um triunfo sob qualquer aspecto passível de análise. 

É um sucesso no seu sistema de financiamento independente (o filme arrecadou US$ 630.000 no Kickstarter), é um sucesso como realização independente e um sucesso como apaixonada carta de amor aos fãs da estética e do feeling da cultura pop dos anos 80. 

Em cada detalhe visual, narrativo e sonoro, se percebe que os realizadores do filme não são meros fãs de ocasião, pisando em solo desconhecido, mas sim mestres no know-how oitentista e genuínos amantes da atmosfera da arte pop da época. 

O roteiro não passa de uma sequência absurda de bobagens viajantes das mais ridículas possíveis, concebidas com a única e exclusiva finalidade de homenagear e fazer referência a uma imensa gama de totens sagrados do pop oitentista, como Tron, The Terminator, Back to the Future, Miami Vice, Lethal Weapon, Little Trouble in Big China, Knight Rider, metal farofa, filmes de ninja, desenhos animados dos 80s, jogos de videogame side-scrollers do gênero beat'em up e por aí vai. 

Com um visual surpreendentemente bem concebido, cheio de personalidade, e com efeitos especiais eficazes para além das expectativas mais otimistas, "Kung Fury" já vem ao mundo colocado acima do bem e do mal. Não há o que criticar no filme - exceto o fato de que a sua meia hora de duração é cruelmente insuficiente e deixa o espectador suplicando por mais deste universo. 

Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora se esmera para soar tão "over the top" e épico-oitentista quanto possível, com magnífico resultado. "Kung Fury" é mais uma prova daquilo que, no fundo, todos nós sabemos: que o cinema é uma coisa absurdamente maravilhosa quando feito por pessoas que realmente amam e conhecem o material com o qual se propõem a trabalhar. Agora ficarei no aguardo de um longa-metragem.


sábado, 13 de junho de 2015

Top Five do Caveira - Melhores Solos de Sax de Todos os Tempos (na música pop)


 

5 - I Still Believe (Tim Cappello, da trilha sonora de The Lost Boys).

4 - Your Latest Trick (Dire Straits).

3 - Love Theme (Vangelis, da trilha sonora de Blade Runner).

2 - Careless Whisper (George Michael).

1 - Baker Street (Gerry Rafferty).

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Caveira analisa: "Superman IV" (1987)

Revendo o velho "Superman IV", de 1987, me ocorreram algumas constatações. O filme é tão mal executado e tem tantas falhas graves que acho que nunca tinha me dado conta de suas qualidades. 

Os roteiristas passaram muito perto de uma história muito boa. A premissa do conflito interno do Superman (entre acabar com a ameaça nuclear ou seguir sua filosofia de não intervenção nas grandes decisões da humanidade) é ótima. Pela primeira vez, me questiono se a ideia não foi roubada da HQ "Watchmen", lançada um ano antes. 

Há ainda, subjacente na trama, um conflito entre o progresso movido tão somente pela ganância e a necessidade de conservação e preservação de bons valores que preservam a humanidade das pessoas. Isso pode ser visto na cena em que Clark se recusa a vender a velha fazenda da família para investidores que querem construir estabelecimentos comerciais, insistindo em vender a propriedade apenas para quem queira manter a fazenda. Essa breve cena resume o conflito maior, desenvolvido ao longo de todo o filme, entre a manutenção do Planeta Diário como um jornal íntegro e sério e a sua venda para um magnata inescrupuloso que quer transformar o jornal em um pasquim sensacionalista, preocupando-se apenas com as vendas e nada mais. 

Havia uma porção de ideias boas na produção - em torno desta dicotomia entre a dignidade humana e o potencial destrutivo de um progressismo irracional, alheio aos valores éticos e morais - mas tudo veio abaixo em razão, sobretudo, da verba apertada da produção. O filme foi produzido com menos da metade do que foi gasto no episódio anterior e com menos de 1/3 do orçamento do primeiro filme de 1978. O resultado são efeitos especiais que perdem de dez a zero para os filmes mais antigos e uma pobreza visual deplorável. Até nas locações o filme é econômico, como na inacreditável cena em que Superman vai discursar na sede da ONU e os produtores não se deram o trabalho nem de filmar as cenas externas na sede real da ONU, optando por um prédio qualquer. 

Com mais uns vinte milhões de dólares de orçamento e mais umas cinco revisões profundas no roteiro (a ideia do "Homem Nuclear" é de uma idiotice inacreditável), "Superman IV" poderia ter sido um grande filme. 

Apenas uma ideia: e se, após o discurso do Superman na ONU, a comunidade internacional se dividisse sobre a decisão unilateral dele de acabar com as armas nucleares? E se setores dos exércitos americano e russo resolvessem combater o Superman com super vilões, desenvolvidos com o fim preventivo de estabelecer limites aos poderes do Homem de Aço? Que tal o General Lane, comandando uma divisão secreta do exército americano e colocando Metallo no encalço do Superman? É só um exemplo de quantas ideias legais poderiam ter sido ligadas à premissa do filme. 

A inútil inclusão de Lex Luthor na trama e a inacreditável escolha do ridículo "Homem Nuclear" como antagonista foram decisões infelizes que atuaram de forma determinante para desgraçar este filme para toda a eternidade. O começo e o fim de "Superman IV" estavam no caminho certo. O problema foi o desenvolvimento, sofrível até o limite do insuportável.


terça-feira, 19 de maio de 2015

O Caveira analisa: "Mad Max - Fury Road" (2015)




Não me perguntem, por favor, quais são os motivos pelos quais a crítica e o público estão aclamando universalmente o novo "Mad Max - Fury Road", atualmente em cartaz nos nossos cinemas. 

Talvez seja algum caso de histeria coletiva inexplicada. Talvez o marketing do filme tenha sido muito inteligente. Ou talvez, o que é mais provável, as pessoas no ano 2015 simplesmente não tenham mais nenhuma lembrança da trilogia original e estejam curtindo o novo filme apenas pela sua profusão de pirotecnias e coreografias. É só uma teoria. 

Eu não esperava absolutamente nada do filme quando comecei a ler sobre o andamento da produção. Quando vi o primeiro trailer, fiquei ainda mais pessimista. No entanto, confesso, fui contaminado pela euforia da crítica e do público em relação ao filme e fui no cinema esperando um ótimo novo capítulo da série Mad Max. 

Rapaz, que decepção!

O resto desta minha análise contém alguns pequenos spoilers. Se você ainda não viu o filme, posso estragar algumas pequenas surpresas mínimas (nada muito grave, prometo).

Para começo de conversa, nenhum dos responsáveis pelo novo filme achou importante definir se ele seria um remake ou uma continuação. O resultado ficou perfeitamente adequado ao cuidado que tiveram com o filme nesse quesito. Do ponto de vista narrativo, o novo filme não é nada: não faz sentido enquanto continuação e não se sustenta enquanto remake. Se o objetivo era fazer uma produção sem identidade, incapaz de dialogar com a tradição de seu próprio material-fonte, então só o que tenho a dizer é: parabéns, missão cumprida!

O protagonista, Max, é um sobrevivente nômade e errante em um mundo pós-apocalíptico. Nada sabemos sobre o seu passado, já que o filme não canoniza os episódios anteriores e, tampouco, se preocupa em criar uma nova história. Max é constantemente assombrado por demônios do seu passado, especialmente por visões de uma garotinha que, supõe-se, morreu em algum momento antes do filme. 

Quem era esta garotinha? Por que Max perdeu qualquer esperança? Por que ele age do jeito que age? Bom, quem se importa, não é mesmo? 

Dane-se o espectador, dane-se a narrativa, dane-se a continuidade da série, dane-se o personagem: bem-vindo à escola Michael Bay de entretenimento cinematográfico! Hipnotize o espectador com duas horas de malabarismos em alta velocidade repetidos ao limite da exaustão e da náusea e pronto, ninguém vai dar bola para mais nenhum aspecto da produção.

"Mad Max - Fury Road" é um dos filmes hollywoodianos mais incrivelmente estúpidos dos últimos anos. O roteiro é digno de um episódio de Tom & Jerry. Os personagens são nulos. Tudo é ridiculamente caricato. Todos os grandes temas característicos do universo Mad Max são deixados intocados. Sinceramente, não consigo nem imaginar uma forma mais inepta de interpretar o universo dos filmes originais do que a adotada neste filme. Os produtores, aparentemente, quiseram fazer um Mad Max para crianças. 

Fico imaginando o brainstorm para composição do roteiro:

- No que você pensa quando se fala em "Mad Max"?
- Hmmmm ... penso em perseguições de veículos potentes e de visual agressivo tendo como pano de fundo as estradas desoladas do deserto australiano.
- Oba, ótimo conceito! Vamos exibir duas horas disso no cinema. Ok, rapazes, hora do almoço, acho que dissecamos tudo o que havia para se pensar a respeito por aqui. Mãos à obra!

Durante anos, achei que o maior óbice para a produção de um novo filme da série seria a ausência de Mel Gibson. Confesso: não senti falta de Gibson em absolutamente nenhum momento do novo filme. Se Gibson, magicamente, voltasse a ter trinta anos de idade e estivesse neste novo filme, não faria a menor diferença. Quem está ausente em "Fury Road" não é Mel Gibson, mas sim Max Rockatansky. 

O cara que está ali no lugar dele, como protagonista, é um sujeito sem passado do qual nada sabemos e que, na maior parte do tempo, se parece muito pouco com o que se viu anteriormente sobre o personagem. Nada sobre a história, o passado e as motivações do personagem é esclarecido. Podemos ficar conjecturando se o passado dele é aquele que vimos nos filmes de 1979, 1981 e 1985 ou se nada daquilo vale. Tanto faz. O novo Max é um personagem estéril cuja profundidade é igual ao tempo que o filme dedica para o seu background, ou seja, zero.

Frequentemente, vejo filmes ótimos ficarem com notas do tipo "60%" ou "70%" no agregador de reviews Rotten Tomatoes. O que é mais raro é acontecer o contrário: um filme medíocre sendo aclamado como obra-prima, aplaudido de pé por crítica e público. Como já mencionei anteriormente, não me pergunte o motivo. Para mim, é um choque ver tanto confete sendo jogado em cima de um filme que não é melhor do que nenhum dos últimos dois filmes da série "Transformers" do Michael Bay.

Existe alguma coisa boa no novo "Mad Max - Fury Road"? Sim, existe. São duas coisas, na verdade. A primeira se chama Charlize Theron, na única atuação e personagem dignas de nota no filme inteiro. Ela é a única coisa que impede o filme de ser simplesmente um videogame de corrida e tiroteio. A segunda coisa boa é a qualidade técnica das cenas de perseguição e ação. Você provavelmente vai curtir muito elas até certo ponto, mais precisamente até o momento em que você começar a ficar exausto(a) de tantas cambalhotas, explosões, atropelamentos e colisões. Mas faça um esforço para curtir essas coisas tanto quanto possível, já que este filme não tem mais absolutamente nada para oferecer, do começo ao fim.

Agora, uma nota cômica para relaxar a frustração: você acredita que andam dizendo por aí que esse novo filme é "melhor" do que Mad Max 2? Juro que é verdade. Deve ser alguma coisa que estão colocando na água desse pessoal, ou vai ver que é um sinal do fim dos tempos. 

Na dúvida, sugiro estocar água e comida. E gasolina!

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O Caveira analisa: "Mad Max - Beyond Thunderdome" (1985)



E a minha maratona termina com "Mad Max - Beyond Thunderdome", de 1985. 

Do ponto de vista narrativo e da ambientação do universo estabelecido pelo segundo filme, esta terceira parte é simplesmente um completo desastre. 

Primeiro: o roteiro é uma disneylândia de fatos desconexos. 

Segundo: aparentemente, a ideia dos produtores era fazer um Mad Max para "toda a família". O resultado é que a violência dos filmes anteriores foi drasticamente reduzida, até mesmo cartunizada em certos momentos. Para piorar, em algumas horas o filme mais parece algo do tipo "Mad Max na ilha do Senhor das Moscas" ou "Mad Max e os Garotos Perdidos do Peter Pan". 

Presumo que seja possível gostar deste filme (sei lá, existe gosto para tudo...), mas permanece o fato inegável de que se trata do "menos Mad Max" de todos os três filmes da trilogia original. Na maior parte do tempo, o espectador tem a impressão de estar vendo qualquer outro filme estrelado por Mel Gibson, menos uma continuação do clássico Mad Max 2. 

Este terceiro filme da série é excessivamente "pasteurizado", parece hollywoodianamente artificial desde os primeiros minutos e falha miseravelmente na tentativa de recapturar aquela atmosfera pós-apocalíptica verossímil do segundo filme. Carregado de nonsense e com um roteiro cheio de furos, a trama vai do nada para lugar nenhum. 

A trilogia Mad Max, é preciso reconhecer, é muito irregular: começa com um filme inovador e audacioso, porém bastante falho sob diversos aspectos. Depois chega em um filme absolutamente perfeito, um dos melhores filmes de ação/aventura da história do cinema. Por fim, a trilogia fecha com um capítulo desencontrado, infantilizado e burocrático. 

O terceiro filme tem alguns momentos bons? Tem: a participação de Tina Turner é divertida, a luta na "Cúpula do Trovão" é simplesmente épica e ... e ... bem, a Cúpula do Trovão é bem legal, foi uma boa ideia. E ... hmmmmm, deixa eu pensar. Tem também .... hmmmmm, eu já comentei sobre a Cúpula do Trovão? Não é à toa que a Cúpula do Trovão foi parar no nome do filme, já que é basicamente a única parte realmente legal da coisa toda. 

Aliás, para ser sincero, a impressão que dá é que os caras só tinham roteiro para um curta-metragem muito legal chamado "Mad Max - Thunderdome" e que, depois de completarem as filmagens, decidiram transformar o projeto em um longa metragem, acrescentando um monte de bobagens para encher linguiça e esticar a duração da película. 

Podem acreditar: sabe o que é que tem para "além da Cúpula do Trovão"? Não tem nada!

O primeiro filme da série pode ser meio chato, mas este aqui é, disparado, o mais bobo e desnecessário.

domingo, 17 de maio de 2015

O Caveira analisa: "Mad Max 2" (1981)



Sobre "Mad Max 2", de 1981: me declaro suspeito e impedido de fazer qualquer análise crítica sobre o filme, dada a minha paixão de longa data por ele. 

Mas, também, dizer o quê sobre este filme? 

Que é uma das melhores continuações de todos os tempos? 

Que é perfeito do começo ao fim? 

Que seu tom e estética exerceram influência sobre toda a cultura pop dos anos 1980? 

Que é a realização plena de tudo aquilo que, no primeiro filme, era só potencial? 

Que a ação eletrizante das cenas de perseguição pelas estradas era sem precedentes na história do cinema? 

Que a atmosfera, a direção e o ritmo do filme são irretocáveis? 

Que o filme que veio antes deste e o filme que veio depois, em 1985, viraram apenas notas de rodapé diante deste? 

O fato é que o filme foi lançado há 34 anos atrás e tem invejáveis 98% no agregador de reviews Rotten Tomatoes. 

De qualquer forma, não perca tempo falando, escrevendo ou lendo sobre "Mad Max 2": veja-o! Com urgência, se nunca viu, e assim que possível, se for para meramente revê-lo. 

Uma distopia futurista crua, brutal, original, direta e em alta velocidade. Indispensável.

sábado, 16 de maio de 2015

O Caveira analisa: "Mad Max" (1979)



Fiz uma maratona Mad Max noite adentro, preparando o espírito para o novo filme da série. Comecei, é claro, com o "Mad Max" original de 1979. 

Esta deve ser pelo menos a quinta vez que vejo o filme ao longo da vida, e minha opinião sobre ele se mantém basicamente a mesma: é simplesmente um filme chato. As falhas de ritmo são insuportáveis. O filme só fica realmente bom nos seus vinte minutos finais. A narrativa é pobre e incoerente e a pretendida atmosfera pós-apocalíptica é construída de forma excessivamente rudimentar e pouco convincente. 

Não ignoro o fato de que se trata de uma produção de orçamento relativamente baixo, mas os meus problemas com este filme não dizem respeito às questões de efeitos técnicos (que, a meu ver, são surpreendentemente competentes e constituem um dos pontos altos da produção) e sim com as terríveis deficiências de ritmo, narrativa e ambientação, que poderiam ser resolvidas sem o acréscimo de um único dólar no custo do filme. 

Este primeiro "Mad Max" tem alguns momentos memoráveis e é recheado de boas ideias, mas no final das contas o seu maior mérito foi ter servido como prelúdio para a continuação "Mad Max 2" (1981), um filme infinitamente superior.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

O Caveira comenta: o novo "GHOSTBUSTERS" previsto para 2016.



 

E foi confirmado essa semana que o novo Ghostbusters será lançado em 22 de julho de 2016 e que todo o elenco principal será feminino. As novas caça-fantasmas serão as atrizes Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Kate McKinnon e Leslie Jones. O filme, aparentemente, será um reboot sem nenhuma relação de continuidade com o universo dos dois filmes originais de 1984 e 1989.


Como um fã por toda a vida dos filmes originais, achei que deveria comentar alguma coisa sobre isso.

Um filme com uma nova equipe, só de mulheres, num universo distinto dos filmes originais, é o ideal? É aquilo que os fãs dos Caça-Fantasmas queriam e esperaram durante muitos anos? Não, não é.

Vamos falar sobre o "ideal". O ideal é que Ghostbusters 2, de 1989, tivesse sido uma continuação melhor. Isso teria propiciado um feedback melhor da crítica e do público e, com grande probabilidade, teria levado a um terceiro filme com o elenco original ainda na primeira metade dos anos 90. Como sabemos, nada disso aconteceu. Embora tenha sido um relativo sucesso de bilheteria na época (e aprovado por parcela dos fãs, entre os quais me incluo), o segundo filme de certa forma "enterrou" a franquia.

O "ideal" é que, apesar de Ghostbusters 2 ter deixado a desejar, os quatro atores principais e o diretor Ivan Reitman conseguissem se acertar para o lançamento de um terceiro filme numa época em que os atores ainda não estavam velhos demais (ou gordos demais) para voltar à pele de seus personagens. Na minha singela opinião, isso tinha que ter acontecido, no máximo, até 1999 - o décimo aniversário do segundo filme. Depois disso, já era tarde demais.

Depois disso, com o elenco principal já velho e gordo, o "ideal" era que Ghostbusters 3 fosse um filme de transição, com os velhos Caça-Fantasmas passando a tocha para uma nova geração. Durante muitos anos, parecia que esse seria o caminho natural da franquia. Só que, sabe Deus por que, o estúdio e os produtores ficaram se arrastando em cima da questão por anos e anos e anos a fio, e daí o pior aconteceu.

Chegou fevereiro de 2014 e Harold Ramis, o eterno Egon Spengler, morreu.

Como falar em um cenário "ideal" para Ghostbusters em um mundo em que Harold Ramis não está mais entre nós?

Minha sugestão para os fãs? Esqueçam o "ideal". O universo "original" dos Caça-Fantasmas (formado pelos dois filmes de 1984 e 1989, bem como pelo jogo de videogame de 2009) está fechado, encerrado e não há mais como voltar a ele - a menos que seja por alguma via alternativa que dispense atores de carne e osso (livros, HQs, animações, etc). O segundo filme já conta com 26 anos nas costas. A hora de retomar aquele universo nos cinemas passou há muito tempo, e morreu em definitivo em fevereiro de 2014, junto com Ramis. É um ciclo que terminou, e isso não é necessariamente uma má notícia, pois sempre teremos os dois filmes originais e o ótimo complemento dado pelo game de 2009.

O novo Ghostbusters de 2016 vai ter o seu universo próprio, uma realidade à parte. E, na minha opinião, a ideia de adotar uma nova abordagem, com uma equipe feminina, é excelente. Ao contrário do que alguns "indignados" andam dizendo na internet, o filme original de 1984 nunca foi um filme "de homem" ou um filme "sobre caras" - ele é um "buddy movie". É um filme sobre amigos, sobre pessoas socialmente desajustadas e rebeldes, que se recusam a se ajustar aos padrões e que vencem na vida sem observar as regras convencionais - um tema recorrente nos personagens criados por Harold Ramis ao longo de sua carreira.

Acredito que o novo filme, explorando esta temática sob um viés agora feminino, pode render situações memoráveis e hilárias. É claro que só Deus sabe se o filme vai ser bom ou não. Mas ele começa bem. Seria uma temeridade tentar fazer um "remake" do original, com a preocupação de ser "fiel" a ele. Da mesma forma, não há mais condições de pensar numa continuação propriamente dita. Um reboot do zero, com suas próprias regras, é a única saída possível. Como já vimos, não é o ideal. Mas os diferentes cenários "ideais" para a franquia já pertencem todos ao passado. O futuro da franquia está com Wiig, McCarthy, McKinnon e Jones. Toda sorte do mundo para elas, e vida longa para os (e para as) Caça-Fantasmas!