sábado, 21 de fevereiro de 2009

SEXTA-FEIRA 13

(Aviso: essa resenha contém alguns "spoilers". Se você ainda não viu o novo filme, a leitura do texto abaixo poderá estragar algumas surpresas!)

Há algumas horas atrás, vi no cinema o novo Sexta-Feira 13, filme que "reinicia" essa famosa série de horror.

Para ser sincero, inicialmente fiquei desanimado ao saber que estavam fazendo um novo Sexta-Feira 13. Depois do péssimo Jason Goes to Hell (1993) e do absolutamente ridículo Jason X (2002), acho que era natural temer mais um fiasco do psicopata mascarado mais famoso do mundo.

Pior foi quando soube que o filme iria "recomeçar a série". Pensei algo como "ai, meu saco, mas é muita pretensão". No entanto, olhando em retrospecto, concordo que foi a decisão mais acertada. Simplesmente não haveria como dar continuidade para uma série de DEZ filmes (onze, se você contar o ótimo "spin-off" Freddy Vs Jason de 2003), ainda mais considerando que quase a metade deles são desastrosamente ruins. Realmente, era o jeito: ou deixavam Jason morto e enterrado para sempre, ou recomeçavam em bases novas.

Quando o filme enfim saiu (na semana passada), eu já estava na maior expectativa. Primeiro, porque as bilheterias nos EUA foram excelentes. Segundo, porque o trailer do filme era ótimo e realmente prometia. Agora que vi o filme, devo dizer que gostei bastante. Está longe de ser perfeito, mas certamente irá agradar aos fãs do gênero e faz bonito em apresentar o personagem homicida para novas platéias.


Vou começar falando das coisas boas da película. Primeiro: o ponto de partida do filme. Os realizadores, sabiamente, decidiram "canonizar" o clássico primeiro filme da série, mantendo-o como premissa deste novo filme. De fato, ele parece uma espécie de novo "Sexta-Feira parte 2", ou seja, dá por ocorridos todos os fatos mostrados no filme que originou a série e continua dali por diante. Decisão louvável, a meu ver, já que o primeiro Sexta-Feira 13 de 1980 é um excelente filme de horror e um clássico da história do cinema.

Outra coisa legal é que, embora o filme "descarte" todas as continuações anteriores, ele presta uma explícita homenagem ao ciclo dos quatro primeiros filmes - época em que a série Sexta-Feira 13 era terror de verdade (a partir do quinto filme, a série virou uma sucessão de más idéias e autoparódias, apesar de ter gerado alguns episódios divertidos mesmo dentro dessa nova roupagem).

Assim, por exemplo, estão presentes o macabro altar onde Jason guarda a cabeça decapitada de sua mãe (idéia tirada diretamente de Sexta-Feira 13 Parte 2), o saco na cabeça que o assassino usava inicialmente (Sexta-Feira 13 Parte 2), o momento em que passa a usar a icônica máscara de hóquei (Sexta-Feira 13 Parte 3), o celeiro (Sexta-Feira 13 Parte 3), a relação de amor e ódio de Jason com a garota que lembra sua mãe (Sexta-Feira 13 Parte 2), só pra ficar nas referências mais explícitas. Tem até um micro-ônibus capotado no meio do mato que, a meu ver, é uma homenagem a Sexta-Feira 13 Parte 6.


Além desse bom ponto de partida, o filme merece elogios quanto a sua atmosfera. Ele é bem sucedido em criar um clima de suspense e tensão na maior parte do tempo, sem gracinhas exageradas ou humor deslocado em demasia. Dá pra dizer que é o primeiro Sexta-Feira 13 que se leva realmente a sério desde 1984. Derek Mears está ótimo como Jason, gigantesco e assustador. A nova concepção do personagem - mais esperto e muito mais rápido, algo como um caçador selvagem - também contribuiu para torná-lo mais assustador.





Apesar de tudo isso, nem tudo são flores no novo thriller do maníaco mascarado. Honestamente, senti falta de algumas coisas. Primeiro: mais história. Penso que o novo filme perdeu ótimas oportunidades de se aprofundar na mitologia do personagem principal, inclusive aproveitando melhor os laços com elementos dos quatro primeiros filmes da série. A impressão que dá é que essa boa idéia foi aproveitada "pela metade". Durante a produção do filme, foi dito repetidas vezes que a trama adicionaria mais "background" em Jason, mas essa promessa não foi realizada. A título de sugestões, eu indicaria: uma reimaginação do afogamento de Jason, cenas de sua infância embaixo das asas da mãe maluca, a explicação sobre o que aconteceu depois de seu afogamento (afinal, como ele saiu do fundo do rio? Foi no mesmo dia ou ele ficou desaparecido por um tempo? Quem sabia que ele na verdade não tinha morrido?), etc.


Outro ponto criticável no novo Sexta-Feira 13 é a falta de maior criatividade nas mortes. Já que todo o elenco vai ser esquartejado, nada mais natural do que aproveitar para produzir cenas memoráveis. Para ser sincero, constatei que só existe verdadeira inovação em UMA única morte, uma cena na qual Jason mata uma garota de forma particularmente torturante e cruel, de uma forma como nunca havia sido feito antes na série. Mas essa cena é exceção. De resto, rola flechada no olho (mais uma referência à Sexta Feira 13 Parte 2), facão enterrado na cabeça e semelhantes lugares comuns na série. Em termos de brutalidade visual e criatividade homicida, o filme não se sai tão bem quanto poderia. Para um slasher movie, isso é um problema relativamente grave.

Embora o clímax do filme seja "bola-murcha" e relativamente frustrante, tenho que admitir que gostei da cena final - uma homenagem explícita ao Sexta-Feira 13 original de 1980. Mas me preocupei com o "gancho" da cena, que abre terreno para as famigeradas sequências. Ver Jason novamente nas telonas nesse novo trabalho é um prazer para qualquer fã de cinema de horror, mas esse retorno não rende material para nada além desse filme. Nada seria pior do que o surgimento de uma nova cinessérie interminável de continuações de qualidade discutível. Essa novela todos nós já vimos. Infelizmente, os bons resultados do filme nas bilheterias sugerem que é isso o que vai acontecer.

No entanto, por ora o que cabe dizer é que o novo Sexta-Feira 13 é um slasher movie de qualidade, com ótimo clima, atmosfera sombria e que reintroduz de forma competente o icônico assassino serial Jason Voorhees para velhos e novos fãs. Definitivamente, merece uma conferida.

Como diria o Alice Cooper na letra da música que fez nos anos 80 para o sexto filme da série, "he's back, he's the man behind the mask, and he's out of control"!