terça-feira, 23 de junho de 2015

O Caveira analisa: "Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake"


 

Nas últimas duas semanas, nas horas vagas, li "Sexta-Feira 13 - Arquivos de Crystal Lake", de David Groove, recentemente lançado por aqui pela editora Darkside. Agora que concluí a leitura, só o que tenho a dizer para os fãs do filme original de 1980 é o seguinte: leiam este livro! Ele cobre toda a história da concepção, filmagem e produção do primeiro e clássico "Sexta-Feira 13", com uma série de fotos, declarações e fatos muito interessantes e que certamente são desconhecidos até pelos fãs mais ardorosos. 

[SPOILER ALERT] 

Seguem abaixo alguns exemplos de curiosidades que eu não sabia sobre o filme e que achei divertidíssimas:

1 - "Sexta-Feira 13" foi filmado na pequena cidade norte-americana de Blairstown, que na época das filmagens (1979) tinha em torno de uns 4.000 habitantes. A produção chamou a atenção do mais famoso morador da pequena cidade, que chegou a visitar o local das filmagens, assistir as gravações de algumas cenas, conversar e fazer festa com os atores e demais profissionais envolvidos na produção. Seu nome? LOU REED! É sério! O padrinho do punk supervisionou a produção do slasher movie mais famoso de todos os tempos! :D

2 - O conceito do filme nasceu ... do nome! O diretor Sean Cunninghan simplesmente pensou que precisava dirigir um filme com um nome impactante e pensou em "Sexta-Feira 13". Era só o que ele tinha. Depois, o início da produção foi pomposamente anunciado em algumas publicações da época, para atrair estúdios e investidores, e mesmo até então só o que existia era o nome do filme e um logo caprichado, feito com letras que quebravam uma vidraça em um efeito 3D. O roteiro só foi ganhar algum mínimo de corpo meses depois, e mesmo na versão final era magrinho, sendo que várias cenas e falas foram improvisadas nas filmagens ou concebidas já na fase de produção. A célebre cena final, que mostra Jason saindo do lago para atacar Alice, só foi criada quando o filme estava quase começando a ser rodado.

3 - A lista de atrizes veteranas para interpretar a Sra. Voorhees incluiu Dorothy Malone, Estelle Parsons, Shelley Winters e Louise Lasser. O nome de Betsy Palmer nem estava entre as possibilidades inicialmente cogitadas. Ela só foi confirmada no papel quando a produção já estava em avançado estado e simplesmente não podia mais continuar sem a sua personagem. Todas as "aparições" parciais da assassina antes da parte final do filme foram gravadas com diferentes pessoas da equipe técnica "interpretando" a personagem, já que Betsy chegou nas filmagens só mais diante.

4 - Betsy Palmer não fazia filmes há um bom tempo e era uma atriz de formação mais teatral. Nas cenas em que ela tinha que bater na personagem de Adrienne King, ela foi lá e simplesmente sentou a mão na atriz, de verdade. O clima ficou meio ruim entre as duas, mas ninguém quis censurar a veterana atriz.

5 - A esposa do diretor Sean Cunningham estava com ele durante as filmagens, participando de aspectos técnicos da produção. Surpreendentemente, sabe-se lá como, isso não impediu que Cunningham e Adrienne King tivessem um caso durante o período. Ironicamente, King interpretava justamente a mocinha virginal e casta do grupo.

Enfim, recomendo a leitura deste imperdível deleite para fãs do cinema de horror.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O Caveira analisa: "The Sleeper" (2012)


A ideia por trás de "The Sleeper" (2012) é interessante. O diretor Justin Russell pretendeu criar um slasher movie contemporâneo que fosse não apenas ambientado no começo dos anos 1980 como, também, parecesse ter sido feito naquela época. Russell atinge seu objetivo com relativo sucesso. Tirando algumas cenas pontuais, na maior parte do tempo o filme até consegue passar a impressão de realmente ser uma produção do comecinho dos 80s. 

O problema é que a devoção de Russell pela atmosfera da época, aparentemente, fez com que ele desse mais prioridade para a estética do que para a qualidade final do filme. No afã de parecer um slasher movie antigo, "The Sleeper" acaba ostentando algumas das piores características típicas de produções menos memoráveis da época, como atuações de qualidade duvidosa, ritmo lento e aborrecido, cenas de assassinato forçadas e nada convincentes, trama sem pé nem cabeça e por aí vai.

A história de "The Sleeper" se passa em 1981 e de fato, na maior parte do tempo, ele parece um filme de terror feito naquela época. Só que, infelizmente, ele não se parece com os grandes filmes slasher daqueles tempos, como "Halloween" ou "Sexta-Feira 13", mas sim com as toneladas de imitações que esses dois clássicos geraram naquele período e que, em sua maioria, já eram sofríveis ou medíocres até mesmo para os padrões da época. 

Enfim, "The Sleeper" vale como uma curiosidade interessante para fãs de filmes de terror que já tenham passado dos trinta. Espectadores mais jovens devem evitar este filme, sob o risco de entrarem em coma com o ritmo lento, aborrecido, sem terror, sem história e sem quaisquer surpresas. Para quem tiver paciência de encará-lo, o filme diverte em alguns poucos momentos específicos - como na cena da dança coreografada na boate, que tranquilamente é a pior, mais artificial e mais vergonhosa cena de dança que eu já vi em qualquer filme em toda a minha vida.


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Um breve comentário sobre a E3 2015

Um breve comentário gamer: os pontos altos da E3 foram Super Mario Maker (que já tinha sido anunciado pela primeira vez na edição passada), o remake de Final Fantasy VII, os novos jogos das famosas séries Fallout, Doom e Uncharted, a ressurreição de Shenmue, os novos jogos das consagradas séries Starfox e Zelda para WiiU, a retrocompatibilidade do Xbox One com o Xbox 360 e os remakes de jogos do Ps3 para o Ps4. 

Notaram alguma coisa errada nisso tudo?

Agora é oficial, gurizada medonha: a mesma esterilidade criativa que acomete a grande indústria cinematográfica há anos chegou, finalmente, à indústria dos videogames.

Remakes, reciclagens e remasterizações em HD. Não esperem muita vida e criatividade por parte das grandes desenvolvedoras, pelo menos no curto-médio prazo.

Fiquem à vontade para me chamar de saudosista, mas tenho memórias muito legais de ter vivido numa época em que, todo ano, surgia uma nova e brilhante franquia lendária dos videogames.

A ironia da coisa toda: a Era de Ouro da criatividade nos videogames foi também a era das limitações tecnológicas, do hardware pobre e das máquinas modestas. Hoje, vivemos na Era de Ouro da tecnologia, com consoles superpoderosos e seus gráficos de qualidade quase foto-realística - e tudo isso convive com a mais deprimente falta de espírito criativo e renovador.

domingo, 14 de junho de 2015

O Caveira analisa: "Kung Fury" (2015)

Ridiculamente empolgante, absurdamente divertido e absolutamente apaixonante com o seu humor assumidamente ultraexagerado e nonsense, o curta sueco "Kung Fury" (2015) é um triunfo sob qualquer aspecto passível de análise. 

É um sucesso no seu sistema de financiamento independente (o filme arrecadou US$ 630.000 no Kickstarter), é um sucesso como realização independente e um sucesso como apaixonada carta de amor aos fãs da estética e do feeling da cultura pop dos anos 80. 

Em cada detalhe visual, narrativo e sonoro, se percebe que os realizadores do filme não são meros fãs de ocasião, pisando em solo desconhecido, mas sim mestres no know-how oitentista e genuínos amantes da atmosfera da arte pop da época. 

O roteiro não passa de uma sequência absurda de bobagens viajantes das mais ridículas possíveis, concebidas com a única e exclusiva finalidade de homenagear e fazer referência a uma imensa gama de totens sagrados do pop oitentista, como Tron, The Terminator, Back to the Future, Miami Vice, Lethal Weapon, Little Trouble in Big China, Knight Rider, metal farofa, filmes de ninja, desenhos animados dos 80s, jogos de videogame side-scrollers do gênero beat'em up e por aí vai. 

Com um visual surpreendentemente bem concebido, cheio de personalidade, e com efeitos especiais eficazes para além das expectativas mais otimistas, "Kung Fury" já vem ao mundo colocado acima do bem e do mal. Não há o que criticar no filme - exceto o fato de que a sua meia hora de duração é cruelmente insuficiente e deixa o espectador suplicando por mais deste universo. 

Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora se esmera para soar tão "over the top" e épico-oitentista quanto possível, com magnífico resultado. "Kung Fury" é mais uma prova daquilo que, no fundo, todos nós sabemos: que o cinema é uma coisa absurdamente maravilhosa quando feito por pessoas que realmente amam e conhecem o material com o qual se propõem a trabalhar. Agora ficarei no aguardo de um longa-metragem.


sábado, 13 de junho de 2015

Top Five do Caveira - Melhores Solos de Sax de Todos os Tempos (na música pop)


 

5 - I Still Believe (Tim Cappello, da trilha sonora de The Lost Boys).

4 - Your Latest Trick (Dire Straits).

3 - Love Theme (Vangelis, da trilha sonora de Blade Runner).

2 - Careless Whisper (George Michael).

1 - Baker Street (Gerry Rafferty).

quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Caveira analisa: "Superman IV" (1987)

Revendo o velho "Superman IV", de 1987, me ocorreram algumas constatações. O filme é tão mal executado e tem tantas falhas graves que acho que nunca tinha me dado conta de suas qualidades. 

Os roteiristas passaram muito perto de uma história muito boa. A premissa do conflito interno do Superman (entre acabar com a ameaça nuclear ou seguir sua filosofia de não intervenção nas grandes decisões da humanidade) é ótima. Pela primeira vez, me questiono se a ideia não foi roubada da HQ "Watchmen", lançada um ano antes. 

Há ainda, subjacente na trama, um conflito entre o progresso movido tão somente pela ganância e a necessidade de conservação e preservação de bons valores que preservam a humanidade das pessoas. Isso pode ser visto na cena em que Clark se recusa a vender a velha fazenda da família para investidores que querem construir estabelecimentos comerciais, insistindo em vender a propriedade apenas para quem queira manter a fazenda. Essa breve cena resume o conflito maior, desenvolvido ao longo de todo o filme, entre a manutenção do Planeta Diário como um jornal íntegro e sério e a sua venda para um magnata inescrupuloso que quer transformar o jornal em um pasquim sensacionalista, preocupando-se apenas com as vendas e nada mais. 

Havia uma porção de ideias boas na produção - em torno desta dicotomia entre a dignidade humana e o potencial destrutivo de um progressismo irracional, alheio aos valores éticos e morais - mas tudo veio abaixo em razão, sobretudo, da verba apertada da produção. O filme foi produzido com menos da metade do que foi gasto no episódio anterior e com menos de 1/3 do orçamento do primeiro filme de 1978. O resultado são efeitos especiais que perdem de dez a zero para os filmes mais antigos e uma pobreza visual deplorável. Até nas locações o filme é econômico, como na inacreditável cena em que Superman vai discursar na sede da ONU e os produtores não se deram o trabalho nem de filmar as cenas externas na sede real da ONU, optando por um prédio qualquer. 

Com mais uns vinte milhões de dólares de orçamento e mais umas cinco revisões profundas no roteiro (a ideia do "Homem Nuclear" é de uma idiotice inacreditável), "Superman IV" poderia ter sido um grande filme. 

Apenas uma ideia: e se, após o discurso do Superman na ONU, a comunidade internacional se dividisse sobre a decisão unilateral dele de acabar com as armas nucleares? E se setores dos exércitos americano e russo resolvessem combater o Superman com super vilões, desenvolvidos com o fim preventivo de estabelecer limites aos poderes do Homem de Aço? Que tal o General Lane, comandando uma divisão secreta do exército americano e colocando Metallo no encalço do Superman? É só um exemplo de quantas ideias legais poderiam ter sido ligadas à premissa do filme. 

A inútil inclusão de Lex Luthor na trama e a inacreditável escolha do ridículo "Homem Nuclear" como antagonista foram decisões infelizes que atuaram de forma determinante para desgraçar este filme para toda a eternidade. O começo e o fim de "Superman IV" estavam no caminho certo. O problema foi o desenvolvimento, sofrível até o limite do insuportável.