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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O Caveira resenha: THE BURNING ("Chamas da Morte", 1981)

 

Se alguém perguntar se você sabe o nome daquele filme de horror que tem um maníaco homicida desfigurado, que promove uma chacina de adolescentes libidinosos num camping de verão à beira de um lago, provavelmente você responderá: "Sexta-Feira 13". 

Mas quem disse que só o bom e velho Jason pode fazer matanças vingativas em campings?The Burning está aí para provar o contrário, e o faz com muita propriedade. Em certos momentos, o espectador quase sente que descobriu algum episódio perdido da longa franquia Sexta-Feira 13, tamanha a semelhança de locações, ambientação, feeling e até de cenas específicas.


Mas calma aí antes de rotular The Burning como sendo apenas "uma imitação barata de Sexta-Feira 13". A bem da verdade, os primeiros esboços do roteiro deste filme já circulavam pelos bastidores da indústria desde 1979 (um ano antes da estreia da primeira película da famosa franquia de Jason). Vale lembrar que, antes do surgimento da icônica franquia do assassino da máscara de hóquei, as histórias de serial killers maníacos já estavam em alta nas produções hollywoodianas depois do sucesso de O Massacre da Serra Elétrica (1974) e do mítico Halloween (1978) de John Carpenter.

De qualquer forma, apesar disso, parece seguro dizer que o sucesso do primeiro Sexta-Feira 13 (1980) foi importante para viabilizar a realização de The Burning, e as comparações deste filme com os dois primeiros Friday the 13th são inevitáveis - ainda mais levando em consideração que The Burning foi lançado nos cinemas apenas sete dias depois de Sexta-Feira 13 Parte 2!

Apesar de ter sido completamente ofuscado pelo sucesso da franquia Sexta-Feira 13 na época, não é à toa que a reputação de The Burning foi progressivamente aumentando ao longo das décadas seguintes. Seja pela fotografia, pelos sustos eficientes, pelo ritmo excelente ou pelo ótimo trabalho de efeitos práticos, seria difícil não admitir que o filme merece ser considerado como um dos melhores slasher movies dos anos 1980 (a década de ouro do gênero). 


Estas qualidades técnicas também não decorrem de coincidência: na equipe responsável por The Burning, temos o lendário mago dos efeitos práticos de horror Tom Savini (que integrou a equipe técnica do primeiro Sexta-Feira 13). A edição ficou a cargo de Jack Sholder (que logo depois iria dirigir o interessante Alone in the Dark - resenhado semana passada aqui na Cripta do Caveira - e o controverso A Hora do Pesadelo 2). A música ficou a cargo do lendário tecladista do Yes, Rick Wakeman. 


E vamos à trama: em uma certa noite, no camping Blackfoot, um grupo de imbecis juvenis resolve sacanear o zelador do lugar - um alcoólatra abusivo conhecido como Cropsy. Um dos adolescentes entra na pequena cabana de Cropsy enquanto o sujeito dorme e coloca em cima da cama dele uma caveira coberta de vermes e com velas dentro. 

 


O zelador acorda apavorado, o fogo acaba se alastrando, as chamas atingem alguns produtos inflamáveis na choupana e eis que, em questão de segundos, Cropsy é transformado numa bola de fogo ambulante e posteriormente vai parar no hospital, severamente desfigurado pelas queimaduras.


Cinco anos depois, Cropsy recebe alta e começa a sua jornada de vingança e matança. Alheios a tudo isso, um outro grupo de jovens descolados, bem humorados e sedentos de sexo está curtindo as férias de verão no camping Stonewater, próximo ao local em que Cropsy foi assado vivo anos atrás. Entre os irreverentes mocinhos do filme, está o amigável Dave (Jason Alexander, em sua estreia na carreira de ator, oito anos antes de começar a brilhar na TV como o George Constanza da famosa série Seinfeld), o tímido Woodstock (Fisher Stevens, mais conhecido por seu trabalho nos dois filmes da série Short Circuit nos anos 80), a mocinha comportada Michelle (Leah Ayres, a namorada do Van Damme em O Grande Dragão Branco) e o esquisitão pervertido Alfred (Brian Becker, mais conhecido por seus papeis em Loucademia de Polícia IV e Picardias Estudantis).


Estabelecida a premissa, o resto do filme é aquela conhecida fórmula padrão dos slashers dos anos 1980: nudez feminina gratuita, cenas brutais de assassinato, sequências de suspense que não dão em nada e que só estão ali para despistar a atenção do espectador ("ah, é você? Você me assustou!"), mais garotas nuas, insinuações sexuais variadas, muita alegria e descontração da animada turminha jovem (até que, faltando vinte minutos para acabar o filme, a galera FINALMENTE começa a perceber que está sendo MASSACRADA), a revelação do assassino, o combate final com o vilão e fim da história. 


No entanto, toda essa tradicional receita de bolo é levada adiante com máxima competência. Os sustos funcionam, os efeitos visuais são excelentes, as mortes são brutais, a fotografia do filme é ótima, a ambientação é perfeita e as atuações são realmente adequadas e divertidas. Não há monotonia, não há pausas, não há marasmo: é uma hora e meia de diversão slasher realizada com maestria. O que não entrega em originalidade, The Burning entrega em execução.


 O Caveira recomenda! 💀💀💀💀



 

domingo, 8 de outubro de 2023

O Caveira resenha: ALONE IN THE DARK (1982)

 

E cá estamos, nos aproximando de mais um halloween - a época do ano favorita do Caveira que vos fala. Vai ter maratona de filmes de horror antigos? Mas é CLARO que sim! Tudo devidamente resenhado aqui na Cripta. Vamos começar com ALONE IN THE DARK, de 1982, dirigido por Jack Shoulder.

Oh, boy, esse aqui estava na minha lista há décadas! Na última madrugada, finalmente assisti essa pouco lembrada antiguidade.

 

A primeira vez em que ouvi falar de Alone in the Dark (não confundir com a série de games de mesmo nome) foi lá por volta de 1996, por meio do meu exemplar do bom e velho Guia de Vídeo Terror da Editora Escala, de autoria do Guilherme de Martino. Vamos ver o que o livrinho tem a dizer sobre este filme (que foi distribuído aqui no Brasil com o título "Noite de Pânico"):

"Três assassinos fogem de um manicômio e invadem a casa de uma família. Ponto de partida comum, na onda do sucesso de 'Sexta-Feira 13', mas com resultado interessante. Nada de novo ou original, mas um thriller envolvente com bom elenco."

 
O Guia Terror deu apenas duas estrelas (de um máximo de cinco) para o filme. Acho que é uma avaliação um pouco severa demais. Eu daria pelo menos três estrelas. "Alone in the Dark" realmente não reinventa a roda, mas o elenco é fantástico e o ritmo é muito bom. É uma ideia simples porém muito bem executada.

 

Na trama, o psiquiatra Dan Potter (vivido por Dwight Schultz, famoso nos anos 1980 por seu papel como o Murdock da clássica série "Esquadrão Classe A") é indicado para trabalhar em um hospital psiquiátrico conhecido como The Haven, chefiado pelo excêntrico e audacioso Dr. Leo Bain (interpretado pelo saudoso Donald Pleasence - o Dr. Loomis do "Halloween" original de 1978 e o presidente dos Estados Unidos no clássico "Fuga de Nova York" de 1981). 


Neste estabelecimento, existe uma ala de segurança eletrônica reforçada no terceiro andar, que abriga quatro assassinos potencialmente perigosos: o ex-militar Frank Hawkes (vivido pelo grande Jack Palance, conhecido pela minha geração aqui no Brasil por ser o apresentador da versão dos anos 80 do programa "Acredite se Quiser", bem como por sua participação no icônico "Batman" de Tim Burton), um maníaco sexual gordão chamado Ronald Elster, o ex-pastor Byron Sutcliff (interpretado por Martin Landau, nesta que talvez seja a atuação mais afetada e tresloucada de toda a carreira do ator) e, por fim, o enigmático John Skaggs, conhecido como "Bleeder" ("Sangrador").

 

Até aí, tudo tranquilo. O problema é que essa ala psycho killer do hospital psiquiátrico fica indignada com a chegada do novo Dr. Dan Potter. A inconformidade chega ao ponto de Hawkes convencer seus sinistros colegas de terceiro andar que, na verdade, o antigo psiquiatra deles teria sido "assassinado" pelo Dr. Dan. Nasce, aí, um desejo de sangue e vingança. 

 

                           

Para conveniência do roteiro (e alegria do espectador), essa revolta silenciosa do quarteto de assassinos se converte em fuga quando, após um blecaute prolongado, todo o sistema eletrônico de segurança de The Haven é desativado. Pronto: tá feita a merda! O resultado, por óbvio, é muita sanguinolência.

 


Só a oportunidade de ver simultaneamente na tela os veteranos Palance, Landau e Pleasence já seria motivo mais do que suficiente para dar uma chance para este filme. Mas ver Palance e Landau como serial killers torna tudo muito mais único e divertido. 

 

O então jovem Dwight Schultz se sai muito bem no papel de "mocinho" também. Destaques, ainda, para uma pequena ponta da veterana Lin Shaye (hoje mais conhecida pelos fãs de filmes de horror por conta de seu papel na franquia "Sobrenatural"), e para as divertidas performances da banda punk "Sic F*cks" (tente não rir ouvindo a hilária pérola "Chop Up Your Mother").

 

                     

 O Caveira recomenda! 💀💀💀


"Garota, me contaram que você falou mal de 'Tango & Cash' ... é verdade isso?!?"
 

sexta-feira, 11 de março de 2022

O Caveira resenha: THE GUARDIAN ("A Árvore da Maldição"), de 1990

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Vi "A Árvore da Maldição" pela primeira vez na Globo, no começo dos anos 1990. Admito que, na época, achei o filme um pouco assustador (especialmente nas cenas da árvore maldita). Revendo agora, quase trinta anos depois, sobra muito pouco - ou absolutamente nada - para elogiar.

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Na trama: um casal contrata uma babá para cuidar do filho recém-nascido e acaba descobrindo que a atenciosa jovem age movida por forças sobrenaturais.

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Dirigido por William Friedkin (célebre pelos clássicos "O Exorcista" e "Operação França"), The Guardian tem um ótimo ponto de partida e sua premissa sinistra poderia ter rendido um filmão.

Infelizmente, o filme fica devendo em ritmo, edição, atmosfera, som e nas atuações fracas (só a vilã, interpretada por Jenny Seagrove, se salva). O resultado é uma mediocridade do começo ao fim. O diretor renega o filme até hoje e já admitiu publicamente que ele "não funciona".

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Em tempo: esse filme saiu em 1990 e, dois anos depois, o Iron Maiden apareceu com essa ideia de "árvore maldita" na capa do lendário álbum Fear of the Dark. Será que a banda se inspirou nesse filme fraquinho ou será que foi só coincidência?

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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

NASTY!

Aí vai uma ótima sugestão de diversão retrô para o Halloween: o episódio Nasty, da antiga série britânica The Young Ones.

The Young Ones é um ícone da cultura pop britânica dos anos 1980. A série, que foi exibida originalmente entre 1982 e 1984, teve apenas 12 episódios (este formato curto é relativamente comum em séries do Reino Unido) e era centrada nas desventuras de quatro estudantes universitários que dividiam uma casa. Os personagens principais eram o punk Vyvyan, o anarquista Rik, o hippie depressivo Nigel e o inescrupuloso e "cool" Mike. 

Em Nasty, a série parodiava o pânico moral que tomou conta do Reino Unido no começo da década de 80, com a chegada no mercado de VHS de diversos filmes de horror e de violência explícita que escapavam das normas de censura etária até então existentes -  frequentemente chegando, por conta disso, às mãos de crianças e adolescentes. Esses filmes de terror condenados pela crítica conservadora da época ganharam a alcunha pejorativa de video nasty, ou seja, vídeos "desagradáveis", "sórdidos" ou "repulsivos".

Após uma abertura que parodia o estilo e a atmosfera do cinema de horror britânico clássico dos anos 1950 e 1960, o episódio começa com Vyvyan, Rik, Nigel e Mike em um cemitério, carregando o caixão de uma pessoa não identificada. 

 

Ao chegar na sepultura preparada para o enterro, eles dão boas vindas a um padre alcoólatra (interpretado pelo saudoso e inesquecível Terry Jones, um dos gênios da  incomparável trupe humorística Monty Python) que irá realizar a cerimônia fúnebre. 

 

Após alguns conflitos retóricos, o quarteto começa a explicar a cadeia de eventos que os levou até aquele momento - e tudo remonta ao instante em que eles decidiram alugar um vídeo-cassete para assistir um filme escabroso de terror ("video nasty") em VHS.

É até difícil descrever em palavras todo o nonsense anárquico do episódio, que conta com: a aparição de um vampiro que tenta convencer o grupo de que é apenas um instrutor de direção; alfinetadas na política conservadora britânica da época ("the bathroom is free, unlike the country" - com o personagem Rick chamando o governo da época de "junta thatcherista"; trocadilhos com o clássico Ashes to Ashes de David Bowie; cenas satirizando o icônico filme O Sétimo Selo de Ingmar Bergman e, acima de tudo, com a participação especial da lendária banda de gothic punk The Damned, tocando no estúdio a música Nasty - que a banda escreveu especialmente para este episódio!

O episódio "Nasty" foi ao ar pela primeira vez em 29 de maio de 1984. Quase quarenta anos depois, ainda é uma ótima diversão - e um pedaço da história da cultura pop britânica.

O Caveira recomenda. E lembre-se: "Only pop music can save us now!"

 


terça-feira, 6 de outubro de 2020

SEXTA-FEIRA 13 - A SÉRIE (1987-1990)

 

Há poucos dias, decidi finalmente dedicar algum tempo para conhecer uma série de horror sobre a qual ouço falar desde criança, mas que nunca havia recebido minha atenção até então: Friday the 13th - The Series. Aqui no Brasil, a série é conhecida como Sexta-Feira 13 - O Legado ou Sexta-Feira 13 - A Série.

Admito: lá no comecinho dos anos 1990, quando eu passava horas em cada locadora da cidade investigando cada caixinha de VHS nas prateleiras, as "fitas" contendo episódios desta série me deixavam com um misto de medo e curiosidade. Cada um dos VHS nacionais reunia dois episódios da série, e a arte era excelente e provocativa.


Apesar disso, meu interesse em conhecer a série desapareceu, na época, à medida em que compreendi que ela não tinha absolutamente nada a ver com os famosos filmes estrelados pelo serial killer Jason.

Sim, é isso aí mesmo: esqueça Jason, esqueça o camping Crystal Lake, esqueça a mãe do Jason matando adolescentes fazendo vozinha de maluca e sussurando "Mata ela, mamãe". Esqueça Tommy Jarvis, esqueça Jason voltando dos mortos por causa de um raio, esqueça Jason dando rolê em Nova York. A série de TV "Sexta-Feira 13" não tem NENHUMA relação temática ou narrativa com a série de filmes oitentistas que hoje são clássicos do gênero slasher.

 

Ora, mas qual é o sentido de fazer uma série chamada "Sexta-Feira 13" que não tem nada a ver com os filmes? O "sentido" aqui, é claro, é a boa e velha vontade de encher os bolsos de dinheiro. A série foi concebida por Frank Mancuso Jr, que foi produtor de cinco filmes da franquia. A ideia original era chamar a série de The 13th Hour, mas Mancuso pensou - com toda a razão - que atrelar a nova série de TV ao nome da franquia de filmes de horror mais famosa dos anos 1980 ajudaria muito a chamar a atenção do público para o novo show. Por óbvio, ele tinha razão.


Talvez seja este o principal fator que sempre me afastou, ao longo de todos estes anos, de Sexta-Feira 13 - A Série. Parecia se tratar apenas de uma desculpa esfarrapada para alguém em Hollywood encher os bolsos de dinheiro em cima dos fãs de Jason Voorhees.

No entanto, agora que estou tratando de conhecer a série, posso atestar que esse preconceito inicial que eu sempre tive contra ela não procede. Deixe o nome oportunista da série de lado e você terá uma das melhores antologias de horror já feitas para a televisão em todos os tempos. 


Na trama, dois jovens primos - Micki e Ryan - herdam do falecido tio uma sinistra loja de antiguidades. O que parecia um inesperado presente acaba se revelando como o mais infernal dos abacaxis quando a dupla descobre que o seu finado tio fez um pacto com forças ocultas e que, em busca da imortalidade (hmmm ... não deu muito certo, né?), começou a vender dezenas de objetos amaldiçoados por aí, para diferentes pessoas. 


Essas bugigangas carregadas de maldições representam a morte certa para seus compradores (ou para pessoas próximas a eles). Cientes deste fato, Micki e Ryan decidem examinar todas as vendas de antiguidades diabólicas documentadas nos registros do velho tio e estabelecem a missão de reaver todos e cada um deles, para que sejam armazenados em segurança num depósito especial no subsolo da loja. Nesta missão, a dupla será auxiliada por um velho amigo do falecido: o especialista em ocultismo Jack Marshak.


Sexta-Feira 13 - A Série teve 3 temporadas, com um total de 72 episódios. Enquanto esteve no ar, recebeu bastante reconhecimento e hoje é lembrada não apenas como uma ótima série televisiva de horror, mas também como uma influência importante para shows posteriores como Buffy the Vampire Slayer, Angel, Warehouse 13 (cuja premissa era simplesmente uma cópia descarada de Sexta-Feira 13 - A Série) e até mesmo para The X-Files - a mais cultuada e aclamada série de TV dos anos 1990.

 
O cancelamento abrupto da série, na terceira temporada, impediu que o arco maior da trama fosse efetivamente concluído de forma planejada e satisfatória. Ainda assim, para os fãs de horror, "Sexta-Feira 13 - A Série" é diversão garantida com sua fórmula de boas histórias mórbidas somadas a doses generosas de violência gráfica (e até mesmo de sexualidade, em um episódio ou outro), coisa pouco comum em produções televisivas até então.
 


Mas, mesmo após todos estes anos, devo admitir que o que mais dá medo na série ainda são aquelas velhas capas das fitas VHS lançadas por aqui!

 

Claro, às vezes rolavam algumas altas mancadas no nosso mercado de vídeo nacional. Um exemplo hilário: em 1990, a CIC Vídeo lançou no mercado nacional o "filme" Profecias de Satã (The Prophecies), sem fazer qualquer menção à série de TV Sexta-Feira 13. O único "detalhe" é que este filme jamais existiu: na verdade, The Prophecies era o episódio duplo que abria a terceira temporada da série. Aqui no Brasil, este episódio em duas partes foi lançado em VHS como se fosse um filme - e sem qualquer relação com a série. Vai entender!


terça-feira, 24 de setembro de 2019

O Caveira analisa: "SHOCKER" (1989)


Pela primeira vez em 25 anos, revi "Shocker" (1989), dirigido pelo saudoso mestre Wes Craven. Quando vi o filme pela primeira vez, ali por volta de 1994 (numa exibição na Globo, provavelmente na "Tela Quente"), fiquei bastante impressionado pelas cenas brutais de violência e por alguns sustos dignos de nota. Olhando agora, em retrospecto, o que mais chama a atenção em "Shocker" é o quanto o filme é irregular.


Não há nada de errado, é claro, em misturar terror com humor e violência com nonsense. Os anos 80, aliás, foram repletos de filmes hollywoodianos nessa linha - o que levou até mesmo à criação do termo "terrir", para fazer referência a filmes que ficavam em uma zona cinzenta entre a comédia e o horror. Para mim, "Fright Night" ("A Hora do Espanto", de 1985), "Gremlins" (1984) e "Sexta-Feira 13 Parte VI - Jason Vive" (1986) talvez sejam os exemplares mais perfeitos do "terrir" oitentista.


Mas a mistura não funciona bem em "Shocker". Os momentos de terror e violência são brutalmente sérios, quase aflitivos e dramáticos demais, ao passo que os momentos de humor são de um nonsense que chega às raias da comédia pastelão. Os últimos quinze ou vinte minutos do filme são tão risivelmente ridículos e tão esdrúxulos, do ponto de vista narrativo, que o espectador se sente como se alguém tivesse trocado de canal, tirado do filme e colocado em um desenho animado antigo estilo Looney Tunes. Assim como uma Ferrari vai de 0 a 100 km/h em 3 segundos, "Shocker" vai do drama sobrenatural e do slasher sanguinolento para o besteirol completo mais ou menos na mesma velocidade.

Talvez "Shocker" seja o melhor exemplo, até hoje, de um filme de horror que começa muito bem, mas que desanda por completo da metade para o final.

Apesar disso, há uma série de coisas interessantes e dignas de notas no filme. Vamos a elas!

A temática do serial killer que transcende o mundo material e se converte em um assassino espectral, em última instância, é claramente uma reimaginação dos principais elementos do clássico "A Nightmare on Elm Street" ("A Hora do Pesadelo", de 1984), a obra máxima de Craven. 


A ideia do assassino que tem o poder de trocar de corpos e de possuir pessoas possivelmente foi a inspiração direta para "Jason Goes to Hell: The Final Friday", de 1993 (o nono filme da cinessérie "Sexta-Feira 13").

Já o conceito do assassino em série que continua colecionando vítimas, mesmo após a sua execução na cadeira elétrica, lembra muito o argumento do excelente "The Frighteners" ("Os Espíritos", de 1996) de Peter Jackson - um dos meus filmes de terror favoritos de todos os tempos.

Ah, e não dá para deixar de observar que a ideia de um fantasma saindo de aparelhos de televisão para matar pessoas aparece em "Shocker" nove anos antes de a assusstadora menina espectral Sadako dar as caras pela primeira vez no horror japonês "Ringu" (1998), que em 2002 ganhou um remake americano pelas mãos do diretor Gore Verbinski. Aliás, o livro que deu origem ao filme (de autoria de Koji Suzuki) foi lançado em 1991 - portanto, na época em que "Shocker" era um filme de horror contemporâneo. Será que rolou alguma inspiração ou influência da película de Craven?


Também vale registrar que é muito divertido ver o ator Mitch Pileggi como um serial killer insano com poderes sobrenaturais, em total contraste com a figura contida e sóbria do personagem que celebrizou o ator anos depois - o diretor-assistente do FBI Walter Skinner, de "Arquivo X".


Uma curiosidade: a música tema ("Shocker") é obra da banda The Dudes of Wrath. Nunca ouviu falar? Não se preocupe. Nem você e nem ninguém já ouviu falar dessa "banda". Na verdade, a "The Dudes of Wrath" só gravou essa única música, e era integrada por Paul Stanley (do KISS), pelo produtor Desmond Child, pelos guitarristas Vivian Campbell (Def Leppard) e Guy Mann-Dude, pelo baixista Rudy Sarzo (Whitesnake) e pelo baterista Tommy Lee (Mötley Crüe). Tá bom ou quer mais? De fato, uma super banda. E a faixa, é preciso reconhecer, até que é bem legalzinha. Na verdade, a trilha sonora oficial acaba sendo melhor do que o próprio filme, contando ainda com o excelente cover (feito especialmente para o filme!) de "No More Mr. Nice Guy" do Alice Cooper, pelas mãos sempre habilidosas do Megadeth. A trilha oficial contava também com músicas de Iggy Pop, Bonfire, Saraya, Dangerous Toys, Voodoo X e Dead On.


Pois bem, vamos à trama do filme! É o seguinte: Horace Pinker é um serial killer que está aterrorizando uma cidade, tendo cometido dezenas de homicídios e iludido a polícia local de forma brilhante. Finalmente capturado pela polícia, o homicida é executado na cadeira elétrica. O problema é que Pinker, além de assassino serial nas horas vagas, era também um ativo praticante de magia negra. Graças aos seus conhecimentos sobre ocultismo, a destruição de seu corpo físico acaba sendo apenas o começo do pesadelo dos moradores da cidade.

As cenas que eu considerava como as mais assustadoras, quando vi o filme pela primeira vez na adolescência, eram aquelas em que o fantasma da namorada do protagonista aparecia do nada para orientá-lo ou ajudá-lo. Essas cenas não parecem nem um pouco impressionantes para os padrões atuais, embora o "timing" da aparição talvez possa causar alguns sustos rápidos nos espectadores contemporâneos. De qualquer forma, a sanguinolência e brutalidade estética de "Shocker" ainda impressionam, e o filme apresenta várias cenas de "splatter" bastante explícito, que merecem uma conferida. Aliás, pensando nisso, é espantoso que esse filme, nos anos 90, tenha sido exibido na TV aberta em horário nobre. Não imagino isso sendo possível nos dias atuais.


Enfim, "Shocker" merece uma conferida não apenas por ser um trabalho de Craven, um dos mais lendários e cultuados diretores do gênero, mas também pelas várias boas ideias e cenas que são construídas ao longo da trama. É uma pena que todas as qualidades são severamente comprometidas por um roteiro irregular e incoerente e pela aparente indecisão dos realizadores sobre o estilo e a atmosfera do filme. "Shocker" tenta ser tudo ao mesmo tempo (slasher brutal, drama, mistério, horror sobrenatural, comédia nonsense e filme adolescente com pegada "hard rock"), e o resultado é uma mistura ruim, incoerente e mal desenvolvida.


Segundo o "Guia de Vídeo - Terror", de Guilhermo de Martino (1996, Editora Escala), o filme é uma "tentativa do veterano Craven de criar um novo Freddy Krueger, desta vez fazendo uso da sempre discutida carga de violência apresentada pela televisão e utilizando a mesma idéia de 'The Indestructible Man' ('O Homem Indestrutível', 1956), estrelado por Lon Chaney Jr. Começa bem, mas é difícil aceitar o final, quando herói e vilão duelam comicamente através de noticiários e programas de TV, usando um controle remoto como arma!".

Bota difícil nisso!



NOTA DO CAVEIRA: