quinta-feira, 13 de abril de 2017

O Caveira resenha: "Muck" (2015)

A ideia básica do terror "Muck" (2015), primeiro filme do diretor Steve Wolsh, até que é interessante: um "slasher movie" que começa com uma história pela metade, com um grupo de amigos já em sérios apuros e esfarrapados, em busca de socorro e que acabam se deparando com uma situação ainda pior ao longo da trama - tudo isso desembocando em um final abrupto e inconclusivo.

Aparentemente, a ideia de Wolsh é fazer uma trilogia, sendo que este primeiro filme seria "o meio" da história, cujo começo e conclusão só serão devidamente esclarecidos nos filmes posteriores. Excêntrico, talvez, mas até aí tudo bem. O problema é que todas as boas intenções se perdem com a trama ridícula, as atuações sofríveis e os diálogos risíveis. 

A canastrice é tão generalizada que se torna virtualmente impossível identificar se Wolsh quis mesmo fazer um filme de terror ou apenas uma paródia de filmes de terror. O resultado final ficou num meio-termo: é um terror ruim e uma comédia ruim. Depois de ver "Muck" até o fim, fiquei com a impressão de que Wolsh quis criar uma espécie de "cult movie" meio Robert Rodriguez, meio Tarantino. Se a ideia era essa, então - ó meu bom Deus - se trata de um sério caso de muita pretensão para pouco talento.

Mas o que torna o filme excessivamente bobo é, sem dúvida, a nudez gratuita de quase todo o elenco feminino. Por favor, não me entendam mal: não se trata de moralismo da minha parte. Tampouco desconheço o fato de que uma certa dose de erotismo sempre esteve ligada à arte de horror, desde muito antes do surgimento do cinema. O problema é que, em "Muck", a proliferação gratuita de seios e bundas é, além de forçada, simplesmente elevada à condição de coisa mais importante do filme ao longo de toda a "trama".

A obsessão de Wolsh com as cenas de nudez desvinculadas da narrativa faz surgir a dúvida: por que ele não dirigiu um "soft porn" ao invés de um filme de terror? O espectador fica com a impressão de que o filme foi dirigido por um menino pré-adolescente em combustão hormonal, do tipo que nunca viu uma mulher nua na vida. É constrangedor e patético - mais ou menos o que se esperaria de um filme de terror dirigido por Beavis e Butt-Head. 

Se a intenção era fazer um terror carregado de erotismo, então novamente o resultado denuncia a falta de maturidade dos realizadores. Erotismo e nudez gratuita são duas coisas completamente diferentes. O clássico do horror "The Hunger" ("Fome de Viver", de 1983) é dez mil vezes mais erótico do que "Muck". A diferença, aqui, é entre erotismo e onanismo.

Pontos positivos: alguns poucos momentos de humor que efetivamente funcionam; as cenas de luta bem dirigidas; o uso de efeitos práticos no lugar de computação gráfica fajuta; a qualidade de imagem e fotografia e a presença no elenco do ídolo Kane Hodder (amado pelos fãs de filmes de terror por ter interpretado Jason quatro vezes no cinema).

Vale à pena ver? Depende. Se você não é fã do gênero, passe longe. Se é fã, ainda assim só recomendo em caso de falta de opção melhor. Agora, se você curte o gênero e está reunido com uma turma de amigos bebendo cerveja a noite inteira, este é o tipo de filme ideal para ver de galera e rolar de tanto rir com os momentos de humor involuntário da produção. Para quem estiver disposto a deixar o senso crítico de lado por um par de horas, no conjunto "Muck" até oferece um pouquinho de entretenimento barato e diversão - mas não muito.


quarta-feira, 12 de abril de 2017

O Caveira resenha: "Mr. Mercedes" (2014), de Stephen King


Esqueça o horror sobrenatural, terreno que King já explorou com maestria tantas vezes ao longo das últimas cinco décadas. Mais do que qualquer outra coisa, "Mr. Mercedes" é uma história de detetive e seus personagens são construídos com os dois pés fincados no chão de um realismo urbano carregado de trivialidade.

Mas não espere uma história de detetive do tipo Agatha Christie, nem algo parecido com um ambiente de filme noir. Neste gênero literário, o que frequentemente faz o leitor devorar o livro é o mistério da identidade do criminoso, a ânsia do leitor em saber a resposta para a singela pergunta: "quem"? O livro de King não poderia passar mais distante desta fórmula tradicional. O autor não apenas revela a identidade do vilão logo no começo da história (para ser sincero, você pode saber o nome do assassino só de ler a orelha do livro!) como boa parte da narrativa se desenvolve pela perspectiva deste cruel antagonista. "Mr. Mercedes" é um romance de detetive no qual o mistério sai de cena para dar lugar a um frenético jogo de gato e rato diante do qual a expectativa do leitor é saber se os "mocinhos" conseguirão deter o criminoso a tempo de impedí-lo de levar adiante seus novos projetos macabros.

Se o vilão da trama foge daquilo que é convencional para o gênero, o mesmo vale para o protagonista. O ex-policial  Bill Hodges é um personagem maravilhosamente verossímil e que exemplifica, pela milésima vez, o conhecido e notório talento de King para criar personagens realistas e carismáticos. Sexagenário, obeso, solitário e aposentado, Hodges é antítese do detetive charmoso, viril e seguro de si que frequentemente identificamos como estereótipo do "detetive" em histórias deste tipo. No início da trama, Hodges não é nada mais do que um gordo velho que passa suas tardes vendo ridículos programas de auditório na televisão. Ele encarna, de certa forma, uma das figuras mais apreciadas por King: a do herói atípico. Não é a primeira vez que King coloca um idoso em uma luta contra forças do mal (veja, a título de exemplo, o ótimo "Insônia" de 1994), mas isso não prejudica a originalidade com a qual ele constrói uma trama detetivesca na qual o herói e o vilão dividem o protagonismo da narrativa de forma intercalada.

Alternando momentos bem humorados com outros de horror psicológico sutil porém perturbador, "Mr. Mercedes" é um thriller que deixa fantasmas, zumbis e criaturas extradimensionais de lado e aposta em um horror que é incômodo sobretudo porque é realista e verossímil. A cabeça do vilão da trama poderia ser a de um colega de trabalho ou  do vizinho que mora aí do seu lado - e talvez seja mesmo!

Aparentemente, o próprio Stephen King sucumbiu ao improvável charme sedutor do sedentário detetive aposentado Hodges, na medida em que o autor transformou o personagem no protagonista de mais dois livros que dão sequência a "Mr. Mercedes": "Finders Keepers" (2015) e "End of Watch" (2016). E pensar que, há mais de quinze anos atrás, King chegou a anunciar a sua "aposentadoria". Hoje ele está com 69 anos e, só nessa década, já lançou oito livros novos. Realmente, quando se trata de heróis sexagenários que se mostram capazes de fazer melhor do que qualquer mocinho mais jovem, nem mesmo o detetive aposentado Hodges pode competir com o mestre King.

O Caveira volta dos mortos (de novo!)


Fala sério, dessa vez você achou que eu tinha abandonado de vez este velho blog, não é mesmo?

Um ano e três meses sem postagens. É verdade: a Cripta ficou abandonada, como já aconteceu outras vezes no decorrer destes 13 anos (!) desde que o blog foi inaugurado em seu primeiro endereço, em 2004.

Mas agora é hora de começar a botar as coisas em ordem por aqui!

De cara, já inauguramos uma nova identidade visual e um novo endereço - www.criptadocaveira.com.br. É nóis na fita, boys and ghouls!

Aguardem novas resenhas de filmes, de séries, de livros, de álbuns e, é claro, muita arte e cultura pop de horror.

O Caveira está de volta.

Party night na Cripta!

Som na caixa, DJ!

"Quando o relógio bate as oito,
Todas as caveiras comem biscoito;

Tumbalacatumba tumba ta,
Tumbalacatumba tumba ta..."