segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O Caveira resenha: A HORA DO PESADELO 3 (A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors), de 1987



"A Hora do Pesadelo 4" acabou de ser disponibilizado no Netflix brasileiro. Usei este "lançamento" como desculpa para rever "A Hora do Pesadelo 3" antes de assistir novamente o quarto filme, já que estes são (pelo menos por enquanto) os únicos filmes da cinessérie disponíveis no catálogo nacional do Netflix.

Naturalmente, foi um prazer. Para mim, "Dream Warriors" é o melhor filme da franquia depois do clássico original de 1984 dirigido por Wes Craven. Depois da tremenda escorregada que foi o segundo filme da série (falaremos dele numa outra ocasião), este terceiro filme recoloca tudo nos trilhos. É uma ótima sequência do original (possibilitando ao espectador colocar completamente de lado a fraquíssima segunda película) e também um excelente filme de terror individualmente considerado, que se sustenta muito bem mesmo para quem não viu o original (ou não lembra dele).


Na trama, que mais uma vez se passa na cidade de Springwood, a adolescente Kristen Parker (vivida pela atriz Patricia Arquette) começa a ter pesadelos com o terrível Freddy Krueger. Os ataques do serial killer sobrenatural levam a mãe de Kristen a pensar que a filha tentou se suicidar, o que leva a moça a ser internada num hospital. 

Lá, Kristen conhece um grupo de outros adolescentes internados pelos mesmos motivos, já que a cidade lida com um aparente "surto" de suicídios praticados por jovens. No hospital, Kristen conhece também o médico Neil Gordon e uma jovem terapeuta novata, Nancy Thompson. Para quem não lembra, Nancy era a protagonista do filme original de 1984. A atriz Heather Langenkamp novamente vive a personagem. 



"A Hora do Pesadelo 3" é uma sucessão de acertos do começo ao fim. A atmosfera é otima, a ideia de trazer Nancy de volta é muito acertada (o veterano John Saxon, que intepreta o pai de Nancy, também reaparece aqui) e o filme amplia o cânone e a mitologia da série, revelando mais informações sobre as origens do sinistro Freddy Krueger. A fantasmagórica irmã Mary Helena, responsável pelas revelações, é um dos pontos altos do filme. 

O elenco jovem também é muito bom, mas naturalmente o destaque vai para as cenas de mortes levadas a cabo por Krueger - criativas, memoráveis e excelentes do ponto de vista técnico. A cena da morte do sonâmbulo, do Freddy "cobra" e da "televisão assassina" estão entre as melhores e mais icônicas de toda a franquia. A bem da verdade, algumas cenas seriam consideradas chocantes e polêmicas até para os padrões atuais, especialmente a cena em que Krueger ataca com seringas carregadas de drogas na sua luva, ao invés das tradicionais lâminas do personagem.  


Merecidamente, "A Hora do Pesadelo 3" foi um sucesso de crítica e público. Faturou mais de 44 milhões de dólares, para um custo de apenas 5 milhões. 

Como é natural para o gênero horror, na época em que o filme foi lançado muita gente torceu o nariz para ele e os reviews eram variados. Mas, retroativamente, o filme sobreviveu bem ao teste do tempo. Passados mais de 30 anos de seu lançamento, ele conta hoje com um índice de aprovação de 74% no popular agregador Rotten Tomatoes

Eu não hesitaria em considerá-lo não apenas o segundo melhor "A Hora do Pesadelo" já produzido como, também, um dos melhores filmes de horror dos anos 1980 e uma das melhores sequências do gênero horror de todos os tempos.



A música tema do filme, "Dream Warriors", foi escrita e gravada pelo Dokken, uma banda de heavy metal/hard rock que era muito popular na época. 

A música rendeu até um videoclipe, no qual Patricia Arquette e Robert Englund reprisam seu papeis, respectivamente como Kristen e Freddy Krueger. O videoclipe é pura diversão e imperdível para os fãs do filme. Confira:



O sucesso de "A Hora do Pesadelo 3" levou ao lançamento de uma continuação apenas um ano e meio depois. Falaremos dela em seguida.

Sexy sem ser vulgar ...

O Clube dos Cinco?

Winners don't do drugs!


 Dokken + Freddy Krueger. Ah, os anos 80!



sábado, 3 de agosto de 2019

O Caveira resenha: DEATH HOUSE (2018)



Em um primeiro contato, parece impossível para um fã de filmes de horror não se emocionar com "Death House". Recheado de participações especiais de atores e atrizes que são ícones do gênero, o filme tinha tudo para realizar, no campo do terror, aquilo que "The Expendables" de Stallone concretizou para os fãs de filmes de ação: uma divertida e eletrizante homenagem nostálgica às produções dos anos 1980. Tinha tudo pra dar certo - só que não deu.

Desprovido de atmosfera, de ritmo e de uma história suficientemente interessante e coerente, "Death House" mais parece um irregular trabalho amador costurado unicamente em torno de suas participações especiais. Para os aficcionados pelo gênero, ele oferece a limitada diversão de apresentar ao espectador as aparências atuais de atores que se tornaram celebridades do horror e possibilitar um exercício de memória do tipo "hey, você reconheceu esse aí?". Admito: é legal, a título de curiosidade. Mas, para o espectador que não é familiarizado com o cinema de horror dos anos 1970 e 1980, "Death House" realmente não tem nada a oferecer a não ser humor involuntário e constrangimento.


Como a maior distinção de "Death House" são as participações especiais, vamos a elas! Na película, temos Kane Hodder (o mais famoso intérprete do serial-killer Jason, da série de filmes "Sexta-Feira 13"), Barbara Crampton (do clássico "Re-Animator", no qual ela participa daquela que é certamente a cena de sexo oral mais bizarra da história do cinema - não, corrijo: da história da humanidade!), Tony Todd (o inesquecível "Candyman" e astro do remake de 1990, dirigido por Tom Savini, do lendário "Night of the Living Dead" de Romero), Dee Wallace (de "Howling"), Sid Haig (o Capitão Spaulding de "The Devil`s Rejects" e "House of 1000 Corpses"), Michael Berryman (de "The Hills Have Eyes"), Bill Moseley ("The Texas Chainsaw Massacre 2"), Camile Keaton ("I Spit on Your Grave"), Tony Moran ("Halloween"), Lloyd Kaufman (diretor de filmes trash lendários como "The Toxic Avenger" e "Class of Nuke 'Em High")  e Felissa Rose (a Angela de "Sleepaway Camp" - é, aquele mesmo, possível candidato a filme com o final mais traumático e doentio da história do cinema de horror). Para completar, tem ainda Adrienne Barbeau ("The Fog", "Creepshow") emprestando a sua voz em algumas cenas de narração.


Como se toda essa gente não fosse o suficiente para realizar uma grande festa de horror cinematográfico, o roteiro foi escrito por ninguém menos do que Gunnar Hansen, o célebre assassino Leatherface de "The Texas Chainsaw Massacre". Tristemente, Hansen faleceu em 2015 e não chegou a ver o seu audacioso projeto concretizado.

Toda essa gente boa reunida, infelizmente, foi desperdiçada em um filme que não faz jus ao seu potencial. Harrison Smith (quem?), que assina a direção e a co-autoria do roteiro, não mostrou competência em nenhuma das duas coisas. A história de Hansen claramente tinha algumas boas ideias, mas o roteiro precisaria ter passado por várias revisões salutares até merecer uma filmagem. O resultado é uma trama desnecessariamente pretensiosa, sobrecarregada de elementos em excesso, quase todos utilizados de forma insuficiente. Uma narrativa mais direta e enxuta teria resultado num filme mais coeso, verossímil e interessante.


Aliás, fico me perguntando: se o objetivo era reunir um grande grupo de ícones do cinema de horror de décadas passadas, por que este mesmo espírito não orientou a escolha do nome do diretor? Talvez o maior erro de "Death House" tenha sido a aposta nas participações especiais de um grande número de atores icônicos do cinema de horror, porém desacompanhada de um diretor com semelhante pedigree e know how do gênero. Eu gostaria de ter visto "Death House" sendo dirigido por John Carpenter, Sam Raimi, Tobe Hooper, Stuart Gordon, Tom Holland ou Sean S. Cunningham. Ou quem sabe até mesmo por Lloyd Kaufman, que já havia embarcado no projeto.


A bem da verdade, "Death House" tem alguns bons momentos de splatter e gore. Mas é muito pouco para competir com os intermináveis minutos de canastrice protagonizados pela dupla de protagonistas (os jovens atores Cody Longo e Cortney Palm), que não convencem ninguém e que exibem a mais completa falta de química na tela. Se os "mocinhos" são fraquinhos, o resto também não ajuda. O filme fica devendo bastante em atmosfera e em ação - e, quando tenta agitar um pouco as coisas, o resultado às vezes é constrangedor. A cena da dupla de "mocinhos" descendo pelos cabos de elevador em alta velocidade é uma das coisas mais patéticas e vergonhosas da história da Sétima Arte. 


Na trama, dois agentes do FBI - Toria Boon e Jae Novak - são conduzidos até a "Death House", uma instalação que é ao mesmo tempo prisão federal e centro de pesquisas em criminologia. Um dos prisioneiros do local é o neonazista Alois Sieg, que foi preso por Toria. O estabelecimento tem nove níveis, sendo que o mais subterräneo de todos é reservado exclusivamente para cinco criminosos supostamente imortais e dotados de poderes sobrenaturais. Uma súbita explosão nas instalações acaba dando origem a uma rebelião dos presos que, liderados por Sieg, decidem descer até as profundezas da prisão para libertar as cinco entidades malignas superpoderosas. Toria e Jae acabam seguindo o mesmo caminho, o que os leva a conhecer mais sobre a relação deles próprios com o lugar.

"Death House" vale como curiosidade para fãs do gênero. O seu potencial saudosista retrô é severamente prejudicado por uma falta generalizada de ação, ambientação, humor ou suspense. O filme não assusta, não diverte, não entretém e não diz a que veio. Se a ideia era homenagear o cinema de horror de décadas passadas, faltou atenção ao que tornava aqueles filmes antigos tão legais. Se a ideia era reunir a velha guarda para fazer algo novo e moderno, faltou conteúdo, originalidade e competência. A ideia de reunir uma grande quantidade de nomes do gênero numa única produção é ótima e tinha muito potencial. É uma pena que "Death House" entregue tão pouco, no fim das contas.