Bem-vindos, cripteiros, ao que provavelmente é o
primeiro review de "Angry Videogame Nerd - The Movie" do Brasil!
Baseado na famosa série de vídeos que se tornou célebre na internet, o
aguardado longa-metragem de James Rolfe (criador e intérprete do
"Nerd") teve sua exibição de estreia em 21 de julho deste ano, no
Grauman's Egyptian Theatre em Hollywood. Tirando os poucos sortudos que puderam
ver o filme em primeira mão naquela data, o longa ainda estava inacessível para
o resto do mundo até o último dia 02 de setembro, quando foi lançado (para
aluguel ou compra) por meio do serviço online de streaming Vimeo (disponível
apenas com áudio original em inglês e sem legendas). Acabei de ver o filme e
aqui vão as minhas considerações sobre ele.
A
primeira coisa a dizer é que se trata, sem dúvida, de um filme de
"nicho" voltado para um público mais ou menos específico. Significa
dizer: se você é fã de retrogaming, tem memórias saudosas da época do Atari
2600, gosta de cinema (especialmente de filmes B, de ficção-científica e de
terror) e já é fã dos vídeos tradicionais do Angry Videogame Nerd, então a
chance de você gostar muito deste filme é basicamente de 99,9%. Remova cada uma
das características acima elencadas, e o filme será menos interessante e
recomendável para você. Definitivamente, não é um filme "para todo
mundo".
Colocado
de lado o fato óbvio de que o filme tem pouco a oferecer para quem não
compartilha as paixões que movem Rolfe e seu personagem, a verdade é que sobra
pouca coisa concreta para se criticar em "AVGN - The Movie".
Provavelmente, a crítica mais "séria" que se pode fazer reside no
fato de que o filme é um pouco longo em excesso. Com um tempo total de quase
duas horas, o filme seria muito beneficiado por um corte de 20 ou 25 minutos na
sua duração. Em alguns momentos, o ritmo do filme deixa um pouco a desejar. Mas
não é nada grave, e a parte final da narrativa salva completamente o trabalho.
É
claro que, tecnicamente, alguns críticos podem reclamar dos efeitos especiais.
Em vários momentos, o filme apresenta alguns efeitos surpreendentemente
convincentes e bem elaborados. Mas, em muitos outros, se vale de efeitos
práticos risíveis, que poderiam ser considerados "falhos" do ponto de
vista técnico. Pessoalmente, me pareceu que a opção claramente consciente de
Rolfe por efeitos práticos de baixo acabamento representa não apenas uma
denúncia do baixo orçamento do filme mas, sobretudo, uma opção estética com o
objetivo de preservar a atmosfera de "filme B" da película. Uma das
intenções evidentes de Rolfe é prestar tributo a este tipo de filme, basta ver
pela quantidade de clichês de filmes B que aparecem neste trabalho. Por óbvio,
essa marca tinha que aparecer também nos efeitos visuais e em algumas
interpretações mais amadoras. Muito mais do que "limitações
técnicas", estas questões ajudam a dar forma e personalidade para o filme.
Na minha opinião, funcionaram muito bem.
Os
fãs de Rolfe - ou pelo menos das paixões que o filme celebra (videogames
antigos e filmes B) - terão muito o que apreciar ao longo das quase duas horas
de duração do longa. O lado cômico no filme funciona suficientemente bem, há
uma quantidade de ação surpreendente e bastante funcional e, no quesito
narrativo, o filme consegue operar o milagre de chegar ao final costurando com
sucesso uma grande quantidade de sub-tramas e reviravoltas absurdas e insanas.
Por incrível que pareça, o elevado teor de nonsense do roteiro não chega a
escapar do controle, e conduz a um desfecho completamente satisfatório.
Trata-se de algo realmente impressionante, considerando o quão progressivamente
absurda a trama vai se tornando ao longo do filme.
O
roteiro, como muitos já sabem, toma como premissa a mais famosa "lenda
urbana" da história dos videogames: o imenso fracasso comercial do jogo
"E.T - The Extra Terrestrial" do Atari 2600, e os rumores de que
milhares de unidades do cartucho teriam sido enterradas em um depósito no
deserto do Novo México em virtude da rejeição em massa dos consumidores em
relação ao péssimo game em questão (vale lembrar que um documentário recente
provou que a lenda era verdadeira).
Na
trama do filme, uma empresa de videogames chamada Cockburn pretende capitalizar
em cima do "culto" que existe sobre o jogo, lançando uma continuação
intencionalmente ainda pior do que o original. Para garantir o sucesso
comercial do "Eee Tee 2" e a sua imagem de "jogo tão ruim que as
pessoas vão amar odiar", uma executiva da Cockburn, Mandi, planeja se
entrosar com o famoso Angry Videogame Nerd para que ele faça um review
"detonando" o novo game - e fazendo a fama dele. O pobre Nerd se
recusa a divulgar este jogo horrível da mesma forma como, ao longo dos anos,
sempre se recusou a resenhar o clássico "E.T" original. A intenção do
Nerd é acabar com a mística que existe em torno do jogo original e com o culto
gerado em torno dele. Para tanto, ele pede recursos da Cockburn para fazer um
documentário provando que a lenda do enterro dos cartuchos seria uma fraude.
Daí para frente, as coisas mais absurdas e inimagináveis começam a acontecer, e
no final descobrimos que tudo o que achávamos que sabíamos sobre o velho jogo
do Atari estava completamente errado, e que ele esconde mistérios que vão muito
além do seu fracasso comercial.
Em
resumo, "AVGN - The Movie" é uma espécie de declaração de amor ao
retrogaming e aos filmes B e "trash". A mensagem que fica é sobre a
magia das recordações divertidas do passado, mesmo que elas sejam decorrentes
de joguinhos frustrantes, irritantes e mal acabados. Os gamers da época do
Atari 2600 irão vibrar com a presença mais do que especial de Howard Scott
Warshaw, o criador do infame "E.T" do Atari. Doug Walker, famoso na
internet com o seu personagem Nostalgia Critic, também faz uma ponta. E é claro
que não seria possível deixar de mencionar a aparição especial de Lloyd
Kaufman, um dos diretores independentes mais festejados e amados do mundo. Só
essa lista de convidados especiais já denuncia quais são as paixões que movem
Rolfe na realização deste filme.
Além
de todos os seus bons momentos de comédia, ação e aventura nonsense, o filme
ainda entrega para os fãs aquilo que eles mais queriam há muito tempo: ao
final, o Nerd finalmente analisa e comenta o infame "E.T" do Atari. E
o resultado é de aquecer o coração de qualquer retrogamer.
Se
você tem qualquer identificação com Rolfe e seu personagem, não deixe de ver
este filme. É uma brincadeira extremamente
satisfatória.