sábado, 28 de abril de 2018

O Caveira analisa: "A Delação" (The Whistler), de John Grisham


 

John Grisham não é só o mestre dos thrillers jurídicos: é também uma máquina de publicar livros. Já são 31 obras publicadas de 1988 até agora, e isso contando apenas os seus romances (há ainda duas coleções de histórias curtas, um livro na categoria não-ficção e uma série de seis livros para crianças). Para se ter uma ideia da produtividade de Grisham, basta ver que "A Delação" (The Whistler", lançado em 2016) já foi sucedido por outros dois lançamentos do autor. Grisham realmente não pisa no freio: desde 2007, vem lançando um livro por ano (até dois por ano, casos de 2012 e 2017).

Grisham, é verdade, praticamente nunca deixa a peteca cair. Li mais de uma dezena de livros dele desde que descobri o trabalho do autor no final dos anos 90. Comecei, à época, pelo excelente "The Street Lawyer", de 1998. Admito que nunca li um livro de Grisham que pudesse ser rotulado como "ruim". Mas a produtividade em escala industrial do autor, é claro, cobra um preço: nem todo livro de Grisham chega a ser uma obra-prima. Entre tramas maravilhosas como "The Runaway Jury" (1996), "The King of Torts" (2003) e "The Last Juror" (2004), surgem alguns títulos menos memoráveis, como "Rogue Lawyer" (2015).

"A Delação", numa "Escala Grisham", fica num meio-termo. Dificilmente alguém vai colocar a história entre as melhores já produzidas pelo gênio de Grisham, mas o livro também não merece figurar entre os mais fracos. Apresentando aquele estilo de escrita e trama que Grisham, a esta altura do campeonato, já conduz em modo piloto-automático, "A Delação" não inova muito em relação ao estilo narrativo do autor, mas se destaca por abordar o tema da corrupção judicial (relativamente pouco presente na extensa obra de ficção jurídica de Grisham) e pela história conduzida por uma protagonista feminina bem construída e verossímil, cujos dramas e desafios enfrentados ao longo da história a tornam progressivamente mais próxima do leitor.

Na trama, somos apresentados a Lacy Stoltz, uma investigadora de um órgão chamado Conselho de Conduta Judicial da Flórida. O órgão não está acostumado a grandes emoções, tendo como função basicamente apurar denúncias de pequenas infrações éticas por parte de juízes. Sem estrutura para lidar com casos de maior gravidade, o órgão é pego de surpresa quando Lacy e seu colega Hugo são procurados por um ex-advogado chamado Greg Meyers, que atira no colo dos investigadores uma denúncia-bomba que, se comprovada, levará ao desmantelamento do maior esquema de corrupção judicial já registrado na história dos Estados Unidos. Pouco depois disso, Lacy e Hugo começam a perceber, da pior forma possível, que desta vez não estão lidando com pequenos abusos de poder ou desvios de caráter, mas sim com uma bem organizada máfia de criminosos profissionais.

Dinâmico e envolvente, "A Delação" tem ótimo ritmo e mantém o leitor interessado no desenrolar da trama da primeira à última página. A conclusão da história, no entanto, peca por ser previsível e sem maiores surpresas, representando uma resolução "morna" para uma trama repleta de momentos de tensão.

Embora a parte final da história seja um pouco burocrática e sem surpresas, as reviravoltas e sobressaltos ao longo da trama são mais do que suficientes não apenas para colocar "A Delação" entre aquelas obras de Grisham que são incapazes de decepcionar os fãs de longa data do autor, mas também como um título apto a arregimentar novos fãs para o mestre dos "romances de tribunais".