Atenção: contém SPOILERS! Não continue lendo se você ainda não viu os novos episódios!
Antes de mais nada: fiquei feliz de rever a dupla de agentes do FBI
mais amada da história da televisão. Anderson e Duchovny ainda conseguem
criar aquela química perfeita entre os protagonistas. Foi muito bom
rever Mulder e Scully e foi sensacional ver dois novos episódios de
Arquivo-X, depois de quase quatorze anos.
Sobre os episódios em si, as impressões e sentimentos são mistos.
É bom lembrar que essa nova minissérie será composta por um arco
narrativo de seis episódios. Por isso, é importante ter em mente que não
é possível avaliar a qualidade deste retorno da série com base apenas
nestes dois primeiros. Aquilo que ainda veremos nos quatro episódios
seguintes provavelmente mudará, para melhor ou para pior, a nossa
percepção sobre estes dois episódios iniciais.
Feita esta
ressalva, é impossível escapar de observações críticas mais óbvias. O
primeiro episódio, "My Struggle", é simplesmente uma bagunça e sofre de
sérios problemas de andamento. Começa imensamente promissor, mas vai se
tornando progressivamente mais anticlimático até chegar ao final, quando
somos informados que a divisão Arquivo X do FBI foi subitamente
reaberta (por qual razão? Sob a autoridade de quem? Como Mulder e Scully
voltam magicamente a ser agentes do FBI da noite para o dia?) e tomamos
conhecimento de que o mais memorável antagonista da série, o "Smoking
Man" (que aqui no Brasil era ridiculamente chamado de "O Canceroso")
ainda está vivo, apesar de o último episódio da série clássica, em 2002,
ter mostrado detalhadamente, com direito a "close", que ele foi
explodido com um míssil disparado em sua direção.
Tudo isso é
perdoável. Uma pequena carência de detalhes aqui, uma ressurreição
milagrosa acolá ... quem sabe ainda virá uma explicação razoável mais
adiante? O que é menos digerível é a completa bagunça da trama do
primeiro novo episódio. De uma hora para outra, somos apresentados a uma
nova conspiração que contradiz grande parte do que a série original
estipulava como canônico - e, em questão de minutos, vemos Mulder
absolutamente convencido dessa "nova verdade" e desacreditando as
conclusões de seu próprio trabalho de quase uma década no FBI. É duro de
engolir - ainda mais porque a nova teoria conspiratória soa ainda mais
inverossímil do que a anterior. A conspiração original era recheada de
elementos fantásticos. A nova conspiração mantém a camada fantástica,
mas adiciona uma nova camada que mistura os mais variados elementos de
antiglobalismo, anticapitalismo, ultranacionalismo norte-americano e
paranoia política e econômica.
Ao final do primeiro episódio,
não sabemos mais qual é a loucura "oficial" da trama - ou seja, se a
nova piração é uma cortina de fumaça em torno da piração original ou se a
piração original era uma cortina de fumaça em torno desta piração à
qual somos apresentados agora. Se todo esse caos narrativo é uma forma
genial de nos deixar confusos e imersos na história enquanto ela se
desenvolve - ou se é apenas má técnica narrativa -, é coisa que só
saberemos vendo os próximos quatro episódios.
Felizmente, o
segundo episódio normaliza um pouco as coisas. Depois da vertigem de
passar por aquele que é sério candidato a episódio mais esquisito e
confuso de Arquivo-X de todos os tempos, somos na sequência
confortavelmente apresentados a um episódio mais "normal", em estilo
clássico, puro Arquivo-X dos anos 90 do começo ao fim, mas mantendo de
forma sutil as conexões com a mitologia central da série e com o
episódio anterior. De fato, se mostrou sábia e oportuna a decisão de
exibir o segundo episódio logo depois do primeiro (com uma diferença de
24 horas, nos EUA, e ambos na mesma noite aqui no Brasil). O segundo
episódio faz um belo serviço no sentido de dissipar a sensação de
deslocamento e perplexidade causadas pelo primeiro episódio.
De
qualquer forma, o certo é que nós, fãs da clássica série, temos todos os
motivos do mundo para estarmos animados e empolgados com este tão
sonhado retorno. Ainda é cedo para dizer mais coisas sobre este novo
arco de seis episódios. Será apenas um breve "comeback" festivo, ou será
o ensaio para um retorno triunfal de Arquivo-X com novas temporadas?
Será um marco na mitologia da série, ou será apenas algo análogo a um
spin-of oportunista? Vamos lembrar deles com carinho e excitação pelas
próximas décadas, ou será apenas uma diversão rápida e descartável de
verão?
Ainda é cedo para dizer. A única coisa certa é que a verdade está lá fora. De novo. E isso, por si só, já é muito, muito legal.