domingo, 22 de março de 2009

TROFÉU CRIPTA - Melhor declaração da semana


"Nós desconstruímos nossos ícones. Sabemos que políticos são mentirosos filhos da puta, que astros da TV são viciados em cocaína, que os atores bonitos são malucos travecos e que as lindas supermodelos são bulímicas, neuróticas e caóticas. Sabemos que nossos comediantes prediletos vão virar alcoólatras pervertidos ou deprimidos suicidas. Nossos reality shows colocaram um espelho escaldante diante das nossas caras de babuíno e das nossas obsessões óbvias e ridículas pela sujeira mais baixa e a fofoca mais inútil."

"Sabemos que acabamos com a atmosfera e matamos os doces ursos polares e nem temos mais energia para sentir culpa. Deixa os pedófilos levarem as crianças. Não há mais a quem recorrer ou culpar, fora, paradoxalmente, aqueles caras levemente medievais que começaram a revolução industrial. No que resta acreditar? O único homem de verdadeira moral, de verdadeiro coração que nos resta é um personagem fictício dos quadrinhos! Os únicos modelos seculares a serem seguidos em uma cultura progressista, responsável, racional-científica e iluminada são... Kal-El, de Krypton, mais conhecido como Superman, e seus descendentes multicoloridos.
"

Do renomado roteirista de HQs Grant Morrison. O Caveira assina embaixo!

Leia a notícia completa no link: http://www.omelete.com.br/quad/100018725/Grant_Morrison_da_dica_de_quem_sera_o_novo_Robin_e_fala_sobre_Superman.aspx




segunda-feira, 9 de março de 2009

WATCHMEN


Foram meses de espera ansiosa mas, neste fim de semana que passou, finalmente estreou Watchmen, filme que era aguardado por 9 entre 10 nerds do planeta (entre os quais, logicamente, o autor dessas linhas).

O filme é baseado em uma das graphic novels mais aclamadas de todos os tempos (uma série em 12 revistas lançada nos anos 80), de autoria de um dos maiores gênios dos quadrinhos contemporâneos, o endeusado Alan Moore. A simples existência desse culto todo em relação à obra original já tornava por demais temerário tentar adaptar o universo dessa história para os cinemas. Mas eis que o valente diretor Zack Snyder topou a parada.

Snyder é responsável pelo bom "300" e pelo remake de "Dawn of the Dead" de George Romero - na minha humilde opinião, tal remake é o melhor filme de zumbis dos últimos vinte ou trinta anos. Enfim, o sujeito era digno de um voto de confiança, que agora ele demonstra merecer mais do que se pensava.

A quase totalidade das pessoas que assistiram ou irão assistir Watchmen dividem-se em dois grupos: os que leram a graphic novel e estão loucos pra ver se o filme ficou fiel à obra de Moore, e os que não leram e estão curiosos para descobrir, afinal de contas, o que são esses tais de Watchmen, quem é aquele marombeiro azul que anda de sunga, aquele Batman-cover esquisito, aquele baixinho da máscara com borrões, etc.


Particularmente, quis o destino (ou a falta de tempo) que eu não me enquadrasse em nenhum dos grupos. Explico: antes de ver o filme, eu havia lido apenas seis das doze revistas que formam a história toda. Em outras palavras, li o suficiente para ficar familiarizado com o universo, os personagens, o estilo, a filosofia e a atmosfera, mas não o suficiente para saber para aonde a trama se encaminhava e como tudo acabaria. Dessa forma, tive a rara oportunidade de ver a primeira metade do filme como um fã, checando criticamente se tudo estava no lugar, e a segunda metade como um total ignorante no tema, tão ansioso e curioso para descobrir o desfecho como qualquer pessoa que nunca tivesse lido as HQs.

Bom, mas e aí, o que eu achei da história?

Críticos profissionais de arte muitas vezes se vêem constrangidos em admitir que gostaram de uma obra de contornos tão acentuadamente "pop", ainda mais se tratando de uma fantasia com super heróis. Por isso, naturalmente, já estou sabendo que uma parcela da crítica está falando mal do filme - a principal crítica é a de que ele pecaria por "cultuar excessivamente o material de origem"(!), o que certamente é uma inovação na arte de ser chato e, com o devido respeito, não passa de uma pirueta retórica utilizada no afã de achar defeitos onde esses não existem. Já eu, como um reles comentarista amador de blog, graças a Deus não preciso me preocupar com afetações de sofisticação e posso ser absolutamente sincero: o filme é PERFEITO!


Não é razoável, não é bom, nem muito bom, é PERFEITO mesmo. É impossível sequer IMAGINAR um filme de Watchmen melhor do que esse. A película só não é melhor do que as HQs originais, mas eu acho que ninguém - nem mesmo o diretor Snyder - seria pretensioso a tal ponto.


Por que o filme é perfeito? Uau, enumerar as razões chega a ser trabalhoso! Mas lá vai: primeiro, porque a trilha sonora do filme é uma das melhores dos últimos anos. Segundo, porque a escolha do elenco é uma obra por si só: cada personagem dos quadrinhos parece ter sido magicamente arrancado das ilustrações e trazido ao mundo real, tamanha a fidelidade a rostos, personalidades, roupas e expressões corporais ou linguísticas. Terceiro, a complicada e imersiva narrativa original - cheia de idas e vindas - não foi religiosamente mantida, mas sim reestruturada de forma perfeita para um filme de duas horas e meia, de modo que o ritmo da história na telona não perde o fôlego nem por um minuto.


Quarto: embora o filme naturalmente tenha precisado sacrificar alguns detalhes e subtramas da HQ, em nome da fluidez da trama, nada excessivamente importante foi suprimido. Nada seria pior do que pegar uma obra aclamada como perfeita e adaptá-la ao cinema cheia de inovações e "liberdades criativas" arrogantes ou oportunistas. Snyder, sabiamente, não caiu nessa esparrela. Quinto: passagens-chave da história original (o assassinato do Comedian e o funeral do mesmo, o acidente do Dr. Manhattan e sua intervenção na Guerra do Vietnã, a tentativa de estupro da primeira Silk Spectre, a construção do gigantesco mecanismo voador em Marte, as investigações de Rorschasch no melhor estilo "filme noir de detetive", etc) foram reproduzidas no filme com incrível qualidade e com fidelidade estética estarrecedora, capaz de levar os fãs às lágrimas.

Muitas outras coisas positivas podem ser ditas do filme - que ele felizmente não omite as cenas de violência e de sexo do original, que a abertura é tão inspirada e evocativa que ali mesmo o espectador já começa a ter vontade de rever o filme novamente da primeira cena, etc. Mas não quero me alongar nesse review. A conclusão é muito simples: se você não conhece o universo de Watchmen, vá correndo ver o filme. Se você já leu a graphic novel e é fã, vá correndo ver o filme com mais entusiasmo ainda!

O filme só pode - até deve - ser evitado por pessoas incapazes de deixar a imaginação viajar nos questionamentos de uma obra de fantasia de inequívoca qualidade.

Nada mais.

Em tempo: eu cheguei a referir que o filme é PERFEITO?