sábado, 5 de abril de 2014

O Caveira analisa: HALLOWEEN 4 - 6 (1988-1995)


 

Até poucas semanas atrás, existia uma grave falha no meu currículo de fã de filmes de horror: eu nunca havia assistido Halloween - The Curse of Michael Myers (1995), também conhecido como Halloween 6. Como eu sabia que o filme encerrava um ciclo narrativo iniciado com o ótimo Halloween 4 - The Return of Michael Myers (1988), aproveitei para fazer uma sessão tripla: Halloween 4, Halloween 5 - The Revenge of Michael Myers (1989) e Halloween 6, em sequência!

Sim, cerca de cinco horas corridas de Michael Myers passando a faca geral, para noooossa alegria! :D

Minhas conclusões sobre esta divertida maratona? Aí vai.

 

Halloween 4 tinha tudo para ser ruim. O fracasso do péssimo Halloween III teria sido um bom pretexto para enterrar a franquia para sempre. O clássico filme original de 1978 jamais precisou de qualquer sequência, muito menos qualquer uma depois de Halloween II, de 1981. Do ponto de vista artístico, talvez a série devesse ter acabado logo depois do segundo filme - se é que o segundo filme justifica a sua existência. 

 

E o que esperar de um filme que tem "parte 4" no título? Bem, e aí é que está a grande surpresa: Halloween 4 é muito, muito bom!!! Acho que fazia mais de 15 anos que eu não via esse filme, e realmente eu não me lembrava que ele era um dos grandes slasher movies dos anos 1980. Danielle Harris, na época com 11 anos de idade, entrega uma das melhores performances de criança em filme de horror de todos os tempos. Da mesma forma, Donald Pleasence está ótimo de volta no papel do Dr. Loomis. Embora o ator ainda tenha trabalhado nos dois filmes seguintes, na minha opinião este é o último filme da série no qual ele ainda tinha idade e saúde para dar uma performance excepcional. O filme tem ótimo ritmo, uma boa história, é extremamente eficiente e merece o seu lugar de honra nessa clássica cinessérie.

 

Bem, o problema é que, como o filme foi um sucesso, os produtores se apressaram em providenciar uma continuação, lançada já no ano seguinte. E ... ó, céus, teria sido melhor se tivessem deixado a série terminar em Halloween 4 ...

 

Em poucas palavras, Halloween 5 é uma BAGUNÇA! O filme tem seus momentos, mas sofre de sérios problemas de ritmo, roteiro e andamento. É incomparavelmente inferior ao filme anterior - menos assustador, menos empolgante, menos divertido, menos coerente e muito, muito menos necessário. 

 

Particularmente, acho que o problema foi o seguinte: Halloween 4 foi concebido para ser mais ou menos como uma comemoração aos 10 anos do filme original, sem preocupação em deixar ganchos para continuações. Já Halloween 5 foi feito no clima de empolgação dos produtores com os lucros do filme anterior e diante da possibilidade de a franquia render mais alguns filmes igualmente bem sucedidos. 

 

Por isso, o filme tenta ser mais "ambicioso", e introduz na história algumas subtramas mal explicadas e elementos misteriosos que são intencionalmente deixados em aberto no filme, pois aparentemente os produtores estavam convencidos de que o filme seria um sucesso e que Halloween 6 estava garantido. O problema é que Halloween 5 foi mal nas bilheterias (merecidamente, pois o filme é simplesmente ruim) e, com isso, a continuação só veio ao mundo SEIS ANOS depois. Enfim, se eu fosse resumir Halloween 5 em uma frase, seria esta: muita pretensão para pouco filme!


Halloween 6, por fim, é uma tardia e decepcionante conclusão para aquilo que poderíamos chamar de "A Trilogia da Maldição de Thorns" dentro da cinessérie Halloween (ou seja, os filmes de 4 a 6). As muitas dúvidas da parte 5 se somam com novos mistérios surgidos neste filme, e as explicações dadas são superficiais. Parece ser o caso de uma boa ideia que acabou prejudicada pela má realização, na medida em que, de todos estes três filmes, apenas Halloween 4 (o mais "autônomo" deles, inicialmente sem a pretensão de iniciar um novo arco narrativo de filmes) é realmente bom. 

A frustração com a trama de Halloween 6 se torna ainda maior diante do fato de que a versão oficial do filme (a única lançada comercialmente até hoje) é a pior de todas as versões conhecidas, existindo pelo menos duas versões alternativas (Producer's Cut e Director's Cut) que são universalmente consideradas superiores. Vi algumas cenas das versões alternativas no YouTube, e pelo menos elas esclarecem algumas dúvidas que eram simplesmente deixadas no ar pela versão tradicional. 

 

De resto, Halloween 6 tem o mérito de ser mais interessante e bem produzido do que o filme anterior. Apesar de frustrante no aspecto narrativo, ele tem vários bons momentos e é um filme de terror divertido e satisfatório, no saldo geral.  

Uma curiosidade: o arco narrativo destes três filmes dividiu o cânone oficial da série "Halloween". Os dois filmes posteriores (Halloween H20, de 1998, e Halloween Ressurrection, de 2002, lançados antes do reboot dirigido por Rob Zombie em 2007) simplesmente ignoram a existência de tudo o que se fez depois de "Halloween II". No entanto, o material oficial produzido em outras mídias (quadrinhos, etc) considera como canônico todo esse arco entre o quarto e o sexto filmes. Inclusive, o plano original era conectar as histórias do filme Halloween H20 e essa trilogia de filmes, mas os produtores acabaram mudando a ideia original e resolveram fazer uma espécie de "novo Halloween III", ignorando tudo o que foi feito depois dos dois primeiros filmes. A meu ver, a decisão foi lamentável, pois Halloween 4 é muito popular entre os fãs da série e as duas narrativas poderiam ter sido facilmente conectadas.

Para finalizar, fique com o clipe de And Fools Shine On, da banda Brother Cane, ótima faixa que rola nos créditos finais de Halloween 6.  :)