sábado, 3 de agosto de 2019

O Caveira resenha: DEATH HOUSE (2018)



Em um primeiro contato, parece impossível para um fã de filmes de horror não se emocionar com "Death House". Recheado de participações especiais de atores e atrizes que são ícones do gênero, o filme tinha tudo para realizar, no campo do terror, aquilo que "The Expendables" de Stallone concretizou para os fãs de filmes de ação: uma divertida e eletrizante homenagem nostálgica às produções dos anos 1980. Tinha tudo pra dar certo - só que não deu.

Desprovido de atmosfera, de ritmo e de uma história suficientemente interessante e coerente, "Death House" mais parece um irregular trabalho amador costurado unicamente em torno de suas participações especiais. Para os aficcionados pelo gênero, ele oferece a limitada diversão de apresentar ao espectador as aparências atuais de atores que se tornaram celebridades do horror e possibilitar um exercício de memória do tipo "hey, você reconheceu esse aí?". Admito: é legal, a título de curiosidade. Mas, para o espectador que não é familiarizado com o cinema de horror dos anos 1970 e 1980, "Death House" realmente não tem nada a oferecer a não ser humor involuntário e constrangimento.


Como a maior distinção de "Death House" são as participações especiais, vamos a elas! Na película, temos Kane Hodder (o mais famoso intérprete do serial-killer Jason, da série de filmes "Sexta-Feira 13"), Barbara Crampton (do clássico "Re-Animator", no qual ela participa daquela que é certamente a cena de sexo oral mais bizarra da história do cinema - não, corrijo: da história da humanidade!), Tony Todd (o inesquecível "Candyman" e astro do remake de 1990, dirigido por Tom Savini, do lendário "Night of the Living Dead" de Romero), Dee Wallace (de "Howling"), Sid Haig (o Capitão Spaulding de "The Devil`s Rejects" e "House of 1000 Corpses"), Michael Berryman (de "The Hills Have Eyes"), Bill Moseley ("The Texas Chainsaw Massacre 2"), Camile Keaton ("I Spit on Your Grave"), Tony Moran ("Halloween"), Lloyd Kaufman (diretor de filmes trash lendários como "The Toxic Avenger" e "Class of Nuke 'Em High")  e Felissa Rose (a Angela de "Sleepaway Camp" - é, aquele mesmo, possível candidato a filme com o final mais traumático e doentio da história do cinema de horror). Para completar, tem ainda Adrienne Barbeau ("The Fog", "Creepshow") emprestando a sua voz em algumas cenas de narração.


Como se toda essa gente não fosse o suficiente para realizar uma grande festa de horror cinematográfico, o roteiro foi escrito por ninguém menos do que Gunnar Hansen, o célebre assassino Leatherface de "The Texas Chainsaw Massacre". Tristemente, Hansen faleceu em 2015 e não chegou a ver o seu audacioso projeto concretizado.

Toda essa gente boa reunida, infelizmente, foi desperdiçada em um filme que não faz jus ao seu potencial. Harrison Smith (quem?), que assina a direção e a co-autoria do roteiro, não mostrou competência em nenhuma das duas coisas. A história de Hansen claramente tinha algumas boas ideias, mas o roteiro precisaria ter passado por várias revisões salutares até merecer uma filmagem. O resultado é uma trama desnecessariamente pretensiosa, sobrecarregada de elementos em excesso, quase todos utilizados de forma insuficiente. Uma narrativa mais direta e enxuta teria resultado num filme mais coeso, verossímil e interessante.


Aliás, fico me perguntando: se o objetivo era reunir um grande grupo de ícones do cinema de horror de décadas passadas, por que este mesmo espírito não orientou a escolha do nome do diretor? Talvez o maior erro de "Death House" tenha sido a aposta nas participações especiais de um grande número de atores icônicos do cinema de horror, porém desacompanhada de um diretor com semelhante pedigree e know how do gênero. Eu gostaria de ter visto "Death House" sendo dirigido por John Carpenter, Sam Raimi, Tobe Hooper, Stuart Gordon, Tom Holland ou Sean S. Cunningham. Ou quem sabe até mesmo por Lloyd Kaufman, que já havia embarcado no projeto.


A bem da verdade, "Death House" tem alguns bons momentos de splatter e gore. Mas é muito pouco para competir com os intermináveis minutos de canastrice protagonizados pela dupla de protagonistas (os jovens atores Cody Longo e Cortney Palm), que não convencem ninguém e que exibem a mais completa falta de química na tela. Se os "mocinhos" são fraquinhos, o resto também não ajuda. O filme fica devendo bastante em atmosfera e em ação - e, quando tenta agitar um pouco as coisas, o resultado às vezes é constrangedor. A cena da dupla de "mocinhos" descendo pelos cabos de elevador em alta velocidade é uma das coisas mais patéticas e vergonhosas da história da Sétima Arte. 


Na trama, dois agentes do FBI - Toria Boon e Jae Novak - são conduzidos até a "Death House", uma instalação que é ao mesmo tempo prisão federal e centro de pesquisas em criminologia. Um dos prisioneiros do local é o neonazista Alois Sieg, que foi preso por Toria. O estabelecimento tem nove níveis, sendo que o mais subterräneo de todos é reservado exclusivamente para cinco criminosos supostamente imortais e dotados de poderes sobrenaturais. Uma súbita explosão nas instalações acaba dando origem a uma rebelião dos presos que, liderados por Sieg, decidem descer até as profundezas da prisão para libertar as cinco entidades malignas superpoderosas. Toria e Jae acabam seguindo o mesmo caminho, o que os leva a conhecer mais sobre a relação deles próprios com o lugar.

"Death House" vale como curiosidade para fãs do gênero. O seu potencial saudosista retrô é severamente prejudicado por uma falta generalizada de ação, ambientação, humor ou suspense. O filme não assusta, não diverte, não entretém e não diz a que veio. Se a ideia era homenagear o cinema de horror de décadas passadas, faltou atenção ao que tornava aqueles filmes antigos tão legais. Se a ideia era reunir a velha guarda para fazer algo novo e moderno, faltou conteúdo, originalidade e competência. A ideia de reunir uma grande quantidade de nomes do gênero numa única produção é ótima e tinha muito potencial. É uma pena que "Death House" entregue tão pouco, no fim das contas.


Nenhum comentário: