Revendo o velho "Superman IV", de 1987, me ocorreram algumas constatações. O filme é tão mal
executado e tem tantas falhas graves que acho que nunca tinha me dado
conta de suas qualidades.
Os roteiristas passaram muito perto de uma
história muito boa. A premissa do conflito interno do Superman (entre
acabar com a ameaça nuclear ou seguir sua filosofia de não intervenção
nas grandes decisões da humanidade) é ótima. Pela primeira vez, me
questiono se a ideia não foi roubada da HQ "Watchmen", lançada um ano
antes.
Há ainda, subjacente na trama, um conflito entre o progresso
movido tão somente pela ganância e a necessidade de conservação e
preservação de bons valores que preservam a humanidade das pessoas. Isso
pode ser visto na cena em que Clark se recusa a vender a velha fazenda
da família para investidores que querem construir estabelecimentos
comerciais, insistindo em vender a propriedade apenas para quem queira
manter a fazenda. Essa breve cena resume o conflito maior, desenvolvido
ao longo de todo o filme, entre a manutenção do Planeta Diário como um
jornal íntegro e sério e a sua venda para um magnata inescrupuloso que
quer transformar o jornal em um pasquim sensacionalista, preocupando-se
apenas com as vendas e nada mais.
Havia uma porção de ideias boas na
produção - em torno desta dicotomia entre a dignidade humana e o
potencial destrutivo de um progressismo irracional, alheio aos valores
éticos e morais - mas tudo veio abaixo em razão, sobretudo, da verba
apertada da produção. O filme foi produzido com menos da metade do que
foi gasto no episódio anterior e com menos de 1/3 do orçamento do
primeiro filme de 1978. O resultado são efeitos especiais que perdem de
dez a zero para os filmes mais antigos e uma pobreza visual deplorável.
Até nas locações o filme é econômico, como na inacreditável cena em que
Superman vai discursar na sede da ONU e os produtores não se deram o
trabalho nem de filmar as cenas externas na sede real da ONU, optando
por um prédio qualquer.
Com mais uns vinte milhões de dólares de
orçamento e mais umas cinco revisões profundas no roteiro (a ideia do
"Homem Nuclear" é de uma idiotice inacreditável), "Superman IV" poderia
ter sido um grande filme.
Apenas uma ideia: e se, após o discurso do
Superman na ONU, a comunidade internacional se dividisse sobre a decisão
unilateral dele de acabar com as armas nucleares? E se setores dos
exércitos americano e russo resolvessem combater o Superman com super
vilões, desenvolvidos com o fim preventivo de estabelecer limites aos
poderes do Homem de Aço? Que tal o General Lane, comandando uma divisão
secreta do exército americano e colocando Metallo no encalço do
Superman? É só um exemplo de quantas ideias legais poderiam ter sido
ligadas à premissa do filme.
A inútil inclusão de Lex Luthor na trama e a
inacreditável escolha do ridículo "Homem Nuclear" como antagonista
foram decisões infelizes que atuaram de forma determinante para
desgraçar este filme para toda a eternidade. O começo e o fim de
"Superman IV" estavam no caminho certo. O problema foi o
desenvolvimento, sofrível até o limite do insuportável.
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