quinta-feira, 4 de junho de 2015

O Caveira analisa: "Superman IV" (1987)

Revendo o velho "Superman IV", de 1987, me ocorreram algumas constatações. O filme é tão mal executado e tem tantas falhas graves que acho que nunca tinha me dado conta de suas qualidades. 

Os roteiristas passaram muito perto de uma história muito boa. A premissa do conflito interno do Superman (entre acabar com a ameaça nuclear ou seguir sua filosofia de não intervenção nas grandes decisões da humanidade) é ótima. Pela primeira vez, me questiono se a ideia não foi roubada da HQ "Watchmen", lançada um ano antes. 

Há ainda, subjacente na trama, um conflito entre o progresso movido tão somente pela ganância e a necessidade de conservação e preservação de bons valores que preservam a humanidade das pessoas. Isso pode ser visto na cena em que Clark se recusa a vender a velha fazenda da família para investidores que querem construir estabelecimentos comerciais, insistindo em vender a propriedade apenas para quem queira manter a fazenda. Essa breve cena resume o conflito maior, desenvolvido ao longo de todo o filme, entre a manutenção do Planeta Diário como um jornal íntegro e sério e a sua venda para um magnata inescrupuloso que quer transformar o jornal em um pasquim sensacionalista, preocupando-se apenas com as vendas e nada mais. 

Havia uma porção de ideias boas na produção - em torno desta dicotomia entre a dignidade humana e o potencial destrutivo de um progressismo irracional, alheio aos valores éticos e morais - mas tudo veio abaixo em razão, sobretudo, da verba apertada da produção. O filme foi produzido com menos da metade do que foi gasto no episódio anterior e com menos de 1/3 do orçamento do primeiro filme de 1978. O resultado são efeitos especiais que perdem de dez a zero para os filmes mais antigos e uma pobreza visual deplorável. Até nas locações o filme é econômico, como na inacreditável cena em que Superman vai discursar na sede da ONU e os produtores não se deram o trabalho nem de filmar as cenas externas na sede real da ONU, optando por um prédio qualquer. 

Com mais uns vinte milhões de dólares de orçamento e mais umas cinco revisões profundas no roteiro (a ideia do "Homem Nuclear" é de uma idiotice inacreditável), "Superman IV" poderia ter sido um grande filme. 

Apenas uma ideia: e se, após o discurso do Superman na ONU, a comunidade internacional se dividisse sobre a decisão unilateral dele de acabar com as armas nucleares? E se setores dos exércitos americano e russo resolvessem combater o Superman com super vilões, desenvolvidos com o fim preventivo de estabelecer limites aos poderes do Homem de Aço? Que tal o General Lane, comandando uma divisão secreta do exército americano e colocando Metallo no encalço do Superman? É só um exemplo de quantas ideias legais poderiam ter sido ligadas à premissa do filme. 

A inútil inclusão de Lex Luthor na trama e a inacreditável escolha do ridículo "Homem Nuclear" como antagonista foram decisões infelizes que atuaram de forma determinante para desgraçar este filme para toda a eternidade. O começo e o fim de "Superman IV" estavam no caminho certo. O problema foi o desenvolvimento, sofrível até o limite do insuportável.


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