Não
me perguntem, por favor, quais são os motivos pelos quais a crítica e o
público estão aclamando universalmente o novo "Mad Max - Fury Road",
atualmente em cartaz nos nossos cinemas.
Talvez seja algum caso de
histeria coletiva inexplicada. Talvez o marketing do filme tenha sido
muito inteligente. Ou talvez, o que é mais provável, as pessoas no ano
2015 simplesmente não tenham mais nenhuma lembrança da trilogia original
e estejam curtindo o novo filme apenas pela sua profusão de pirotecnias
e coreografias. É só uma teoria.
Eu não esperava absolutamente
nada do filme quando comecei a ler sobre o andamento da produção. Quando
vi o primeiro trailer, fiquei ainda mais pessimista. No entanto,
confesso, fui contaminado pela euforia da crítica e do público em
relação ao filme e fui no cinema esperando um ótimo novo capítulo da
série Mad Max.
Rapaz, que decepção!
O resto desta minha análise
contém alguns pequenos spoilers. Se você ainda não viu o filme, posso
estragar algumas pequenas surpresas mínimas (nada muito grave, prometo).
Para começo de conversa, nenhum dos responsáveis pelo novo filme achou
importante definir se ele seria um remake ou uma continuação. O
resultado ficou perfeitamente adequado ao cuidado que tiveram com o
filme nesse quesito. Do ponto de vista narrativo, o novo filme não é nada: não faz sentido enquanto
continuação e não se sustenta enquanto remake. Se o objetivo era fazer
uma produção sem identidade, incapaz de dialogar com a tradição de seu
próprio material-fonte, então só o que tenho a dizer é: parabéns, missão
cumprida!
O protagonista, Max, é um sobrevivente nômade e
errante em um mundo pós-apocalíptico. Nada sabemos sobre o seu passado,
já que o filme não canoniza os episódios anteriores e, tampouco, se
preocupa em criar uma nova história. Max é constantemente assombrado por
demônios do seu passado, especialmente por visões de uma garotinha que,
supõe-se, morreu em algum momento antes do filme.
Quem era esta
garotinha? Por que Max perdeu qualquer esperança? Por que ele age do
jeito que age? Bom, quem se importa, não é mesmo?
Dane-se o espectador,
dane-se a narrativa, dane-se a continuidade da série, dane-se o
personagem: bem-vindo à escola Michael Bay de entretenimento
cinematográfico! Hipnotize o espectador com duas horas de malabarismos
em alta velocidade repetidos ao limite da exaustão e da náusea e pronto,
ninguém vai dar bola para mais nenhum aspecto da produção.
"Mad
Max - Fury Road" é um dos filmes hollywoodianos mais incrivelmente
estúpidos dos últimos anos. O roteiro é digno de um episódio de Tom
& Jerry. Os personagens são nulos. Tudo é ridiculamente caricato.
Todos os grandes temas característicos do universo Mad Max são deixados
intocados. Sinceramente, não consigo nem imaginar uma forma mais inepta
de interpretar o universo dos filmes originais do que a adotada neste
filme. Os produtores, aparentemente, quiseram fazer um Mad Max para
crianças.
Fico imaginando o brainstorm para composição do roteiro:
- No que você pensa quando se fala em "Mad Max"?
- Hmmmm ... penso em perseguições de veículos potentes e de visual agressivo tendo como pano de fundo as estradas desoladas do deserto australiano.
- Oba, ótimo conceito! Vamos exibir duas horas disso no cinema. Ok, rapazes, hora do almoço, acho que dissecamos tudo o que havia para se pensar a respeito por aqui. Mãos à obra!
- Hmmmm ... penso em perseguições de veículos potentes e de visual agressivo tendo como pano de fundo as estradas desoladas do deserto australiano.
- Oba, ótimo conceito! Vamos exibir duas horas disso no cinema. Ok, rapazes, hora do almoço, acho que dissecamos tudo o que havia para se pensar a respeito por aqui. Mãos à obra!
Durante anos, achei que o
maior óbice para a produção de um novo filme da série seria a ausência
de Mel Gibson. Confesso: não senti falta de Gibson em absolutamente
nenhum momento do novo filme. Se Gibson, magicamente, voltasse a ter
trinta anos de idade e estivesse neste novo filme, não faria a menor
diferença. Quem está ausente em "Fury Road" não é Mel Gibson, mas sim
Max Rockatansky.
O cara que está ali no lugar dele, como protagonista, é
um sujeito sem passado do qual nada sabemos e que, na maior parte do
tempo, se parece muito pouco com o que se viu anteriormente sobre o
personagem. Nada sobre a história, o passado e as motivações do
personagem é esclarecido. Podemos ficar conjecturando se o passado dele é
aquele que vimos nos filmes de 1979, 1981 e 1985 ou se nada daquilo
vale. Tanto faz. O novo Max é um personagem estéril cuja profundidade é
igual ao tempo que o filme dedica para o seu background, ou seja, zero.
Frequentemente, vejo filmes ótimos ficarem com notas do tipo "60%" ou
"70%" no agregador de reviews Rotten Tomatoes. O que é mais raro é
acontecer o contrário: um filme medíocre sendo aclamado como obra-prima,
aplaudido de pé por crítica e público. Como já mencionei anteriormente,
não me pergunte o motivo. Para mim, é um choque ver tanto confete sendo
jogado em cima de um filme que não é melhor do que nenhum dos últimos
dois filmes da série "Transformers" do Michael Bay.
Existe alguma
coisa boa no novo "Mad Max - Fury Road"? Sim, existe. São duas coisas,
na verdade. A primeira se chama Charlize Theron, na única atuação e
personagem dignas de nota no filme inteiro. Ela é a única coisa que
impede o filme de ser simplesmente um videogame de corrida e tiroteio. A
segunda coisa boa é a qualidade técnica das cenas de perseguição e
ação. Você provavelmente vai curtir muito elas até certo ponto, mais
precisamente até o momento em que você começar a ficar exausto(a) de
tantas cambalhotas, explosões, atropelamentos e colisões. Mas faça um
esforço para curtir essas coisas tanto quanto possível, já que este
filme não tem mais absolutamente nada para oferecer, do começo ao fim.
Agora, uma nota cômica para relaxar a frustração: você acredita que
andam dizendo por aí que esse novo filme é "melhor" do que Mad Max 2?
Juro que é verdade. Deve ser alguma coisa que estão colocando na água
desse pessoal, ou vai ver que é um sinal do fim dos tempos.
Na dúvida,
sugiro estocar água e comida. E gasolina!
Um comentário:
Só gostei dos clássicos de 1979 e 1981. A Estrada da Fúria é uma pirotecnia cansativa e sem narrativa.
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