terça-feira, 19 de maio de 2015

O Caveira analisa: "Mad Max - Fury Road" (2015)




Não me perguntem, por favor, quais são os motivos pelos quais a crítica e o público estão aclamando universalmente o novo "Mad Max - Fury Road", atualmente em cartaz nos nossos cinemas. 

Talvez seja algum caso de histeria coletiva inexplicada. Talvez o marketing do filme tenha sido muito inteligente. Ou talvez, o que é mais provável, as pessoas no ano 2015 simplesmente não tenham mais nenhuma lembrança da trilogia original e estejam curtindo o novo filme apenas pela sua profusão de pirotecnias e coreografias. É só uma teoria. 

Eu não esperava absolutamente nada do filme quando comecei a ler sobre o andamento da produção. Quando vi o primeiro trailer, fiquei ainda mais pessimista. No entanto, confesso, fui contaminado pela euforia da crítica e do público em relação ao filme e fui no cinema esperando um ótimo novo capítulo da série Mad Max. 

Rapaz, que decepção!

O resto desta minha análise contém alguns pequenos spoilers. Se você ainda não viu o filme, posso estragar algumas pequenas surpresas mínimas (nada muito grave, prometo).

Para começo de conversa, nenhum dos responsáveis pelo novo filme achou importante definir se ele seria um remake ou uma continuação. O resultado ficou perfeitamente adequado ao cuidado que tiveram com o filme nesse quesito. Do ponto de vista narrativo, o novo filme não é nada: não faz sentido enquanto continuação e não se sustenta enquanto remake. Se o objetivo era fazer uma produção sem identidade, incapaz de dialogar com a tradição de seu próprio material-fonte, então só o que tenho a dizer é: parabéns, missão cumprida!

O protagonista, Max, é um sobrevivente nômade e errante em um mundo pós-apocalíptico. Nada sabemos sobre o seu passado, já que o filme não canoniza os episódios anteriores e, tampouco, se preocupa em criar uma nova história. Max é constantemente assombrado por demônios do seu passado, especialmente por visões de uma garotinha que, supõe-se, morreu em algum momento antes do filme. 

Quem era esta garotinha? Por que Max perdeu qualquer esperança? Por que ele age do jeito que age? Bom, quem se importa, não é mesmo? 

Dane-se o espectador, dane-se a narrativa, dane-se a continuidade da série, dane-se o personagem: bem-vindo à escola Michael Bay de entretenimento cinematográfico! Hipnotize o espectador com duas horas de malabarismos em alta velocidade repetidos ao limite da exaustão e da náusea e pronto, ninguém vai dar bola para mais nenhum aspecto da produção.

"Mad Max - Fury Road" é um dos filmes hollywoodianos mais incrivelmente estúpidos dos últimos anos. O roteiro é digno de um episódio de Tom & Jerry. Os personagens são nulos. Tudo é ridiculamente caricato. Todos os grandes temas característicos do universo Mad Max são deixados intocados. Sinceramente, não consigo nem imaginar uma forma mais inepta de interpretar o universo dos filmes originais do que a adotada neste filme. Os produtores, aparentemente, quiseram fazer um Mad Max para crianças. 

Fico imaginando o brainstorm para composição do roteiro:

- No que você pensa quando se fala em "Mad Max"?
- Hmmmm ... penso em perseguições de veículos potentes e de visual agressivo tendo como pano de fundo as estradas desoladas do deserto australiano.
- Oba, ótimo conceito! Vamos exibir duas horas disso no cinema. Ok, rapazes, hora do almoço, acho que dissecamos tudo o que havia para se pensar a respeito por aqui. Mãos à obra!

Durante anos, achei que o maior óbice para a produção de um novo filme da série seria a ausência de Mel Gibson. Confesso: não senti falta de Gibson em absolutamente nenhum momento do novo filme. Se Gibson, magicamente, voltasse a ter trinta anos de idade e estivesse neste novo filme, não faria a menor diferença. Quem está ausente em "Fury Road" não é Mel Gibson, mas sim Max Rockatansky. 

O cara que está ali no lugar dele, como protagonista, é um sujeito sem passado do qual nada sabemos e que, na maior parte do tempo, se parece muito pouco com o que se viu anteriormente sobre o personagem. Nada sobre a história, o passado e as motivações do personagem é esclarecido. Podemos ficar conjecturando se o passado dele é aquele que vimos nos filmes de 1979, 1981 e 1985 ou se nada daquilo vale. Tanto faz. O novo Max é um personagem estéril cuja profundidade é igual ao tempo que o filme dedica para o seu background, ou seja, zero.

Frequentemente, vejo filmes ótimos ficarem com notas do tipo "60%" ou "70%" no agregador de reviews Rotten Tomatoes. O que é mais raro é acontecer o contrário: um filme medíocre sendo aclamado como obra-prima, aplaudido de pé por crítica e público. Como já mencionei anteriormente, não me pergunte o motivo. Para mim, é um choque ver tanto confete sendo jogado em cima de um filme que não é melhor do que nenhum dos últimos dois filmes da série "Transformers" do Michael Bay.

Existe alguma coisa boa no novo "Mad Max - Fury Road"? Sim, existe. São duas coisas, na verdade. A primeira se chama Charlize Theron, na única atuação e personagem dignas de nota no filme inteiro. Ela é a única coisa que impede o filme de ser simplesmente um videogame de corrida e tiroteio. A segunda coisa boa é a qualidade técnica das cenas de perseguição e ação. Você provavelmente vai curtir muito elas até certo ponto, mais precisamente até o momento em que você começar a ficar exausto(a) de tantas cambalhotas, explosões, atropelamentos e colisões. Mas faça um esforço para curtir essas coisas tanto quanto possível, já que este filme não tem mais absolutamente nada para oferecer, do começo ao fim.

Agora, uma nota cômica para relaxar a frustração: você acredita que andam dizendo por aí que esse novo filme é "melhor" do que Mad Max 2? Juro que é verdade. Deve ser alguma coisa que estão colocando na água desse pessoal, ou vai ver que é um sinal do fim dos tempos. 

Na dúvida, sugiro estocar água e comida. E gasolina!

Um comentário:

Anônimo disse...

Só gostei dos clássicos de 1979 e 1981. A Estrada da Fúria é uma pirotecnia cansativa e sem narrativa.