sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

GUNS N'ROSES - CHINESE DEMOCRACY (2008)



Quanto tempo um álbum pode demorar para ser lançado antes que as pessoas simplesmente encham o saco de aguardá-lo?

Talvez Axl Rose tenha a resposta. Entre 1997 e 1998, quando eu estava nos últimos anos do segundo grau na escola, já se ouvia falar do "lançamento iminente" do disco da nova formação do Guns N'Roses. Bom, depois dissso só levou mais DEZ ANOS pro troço ser lançado, quando boa parte da humanidade já nem acreditava mais que esse disco veria a luz do dia.

Não que Chinese Democracy tenha sido propriamente um "fracasso". O disco já vendeu seis milhões de cópias pelo mundo afora, figurou na terceira posição no BILLBOARD 200 nos Estados Unidos e ficou bem colocado em charts ao redor de todo o mundo. Mas existe um certo consenso de que, até talvez em virtude do imenso hype que havia em torno do lançamento, o álbum acabou de certa forma frustrando as expectativas de crítica, público e vendas.

Além da antipatia natural causada pela espera absurdamente longa pelo álbum, Chinese Democracy sofreu também pelo fato de que diversas de suas músicas "vazaram" ao longo dos anos, de forma intencional ou não, seja por terem sido tocadas ao vivo em shows da banda, seja por terem aparecido na internet. Para os seguidores mais fanáticos do Guns, quando finalmente Chinese Democracy foi lançado em 2008, muitas de suas músicas já soavam como material antigo e conhecido. Para vocês terem uma idéia, eu (que nunca corri atrás de material do álbum) já conhecia a música Madagascar desde 2001 (sete anos antes dela ser lançada neste álbum), em virtude de ter visto ela ser tocada ao vivo pela banda na transmissão televisiva do Rock in Rio III.



Outro aspecto que conspirou contra um maior sucesso do álbum foi o fato de que várias das músicas simplesmente envelheceram no espaço de tempo compreendido entre a composição das mesmas e o lançamento do disco. Várias faixas apresentam uma sonoridade "metal industrial/eletrônico com pitadas de new metal", coisa que estaria na vanguarda da moda se estivéssemos em 1999 ou 2000, mas que soa um bocado datada agora.

O álbum abre com a faixa-título Chinese Democracy. Uma introdução com múltiplas vozes de pessoas falando dá espaço para um riffzão de guitarra e em seguida entra Axl cantando naquele estilo que o tornou célebre. A faixa é um hard rock pesadão e invocado, pontuada por solos de guitarra à moda antiga. Uma música rápida e matadora, que abre o álbum com qualidade.

A faixa seguinte, Shackler's Revenge, é ainda melhor. Começa com uma sonoridade industrial/new metal que remete ao que era moda em termos de "som pesado" no começo dos anos 2000, mas logo surgem as boas melodias que remetem aos tempos áureos do Guns, bem como o refrão grudento com múltiplas vozes de Axl. Se essa música tivesse sido lançada há uns oito anos atrás, certamente teria feito todo mundo pirar na batata. Para os padrões atuais, soa um pouco datada. Mas não se engane, é uma ótima faixa.

As duas primeiras músicas do disco, embora legais, não têm aquela sonoridade típica do Guns que todos esperavam. A terceira música vem pra acabar com esse problema. Better é sem sombra de dúvida a melhor música do álbum: pesada, melódica, cheia de feeling e com uma performance arrepiante de Axl. Durante as estrofes, dá quase pra imaginar o cara fazendo aquelas clássicas balançadas de quadris de um lado para outro. Quem curte os álbuns velhos da banda simplesmente não tem como não curtir esse som. É quase uma viagem no tempo de volta para os anos de ouro do Guns n' Roses! Better, por si só, já vale o disco! Perfeita. Se o disco inteiro mantivesse esse nível de qualidade, Chinese Democracy certamente teria sido eleito o melhor álbum de rock da década por aclamação!



 Quando o pianinho começa na faixa seguinte, Street of Dreams, já dá pra sacar que estamos diante de uma daquelas baladas de Axl que remetem aos álbuns Use Your Illusion 1 e 2, do começo dos anos 90. No começo, parece que vai ser uma música bem pé no saco, mas basta um minuto de música rolando pra ver que é mais um sonzão de qualidade. Relativamente curta e com diversas mudanças de clima, mal dá chamar a música de "balada".

If the World
é o ponto em que o álbum começa a desandar. A faixa começa com uma batida de música eletrônica esquisita e tem uma sonoridade bem metida à modernosa - ou aquilo que se entenderia como "modernoso" há dez anos atrás. No fim das contas, a música destoa das anteriores, soa experimental demais e não diz a que veio, comprometendo a excelente sequência de músicas que abre o disco. Mesmo com o bom trabalho de guitarra solo, é uma faixa bastante dispensável.

There Was a Time, a faixa seguinte, é bastante chata e burocrática. Aqui, estão ausentes toda a garra, intensidade e boas idéias das primeiras faixas do álbum. Pra piorar um pouco mais, é a faixa mais longa de todo o disco!  

Se recuperando das duas escorregadas anteriores, Axl ataca com Catcher in the Rye, mas uma ótima música e certamente uma das mais memoráveis do álbum. Aquela ginga normalmente associada ao som tradicional do Guns aparece aqui, com arpejos de guitarra, melodias consistentes e uma sonoridade hard rock bastante "orgânica". Bem legal.

Um jogo de vozes irritante abre a faixa seguinte, Scraped, que parece um cover de Aerosmith mais do que qualquer outra coisa. Parece um pouco uma tentativa da banda de reproduzir a sonoridade do seu clássico álbum Appetite for Destruction, mas o nível de empolgação que a faixa causa passa longe do que se ouvia naquele magnífico clássico. Ainda assim, Scraped é uma boa música e contribui positivamente para situar Chinese Democracy como um álbum do Guns N' Roses.



Riad n' the Bedouins começa sem graça mas logo pega no tranco. Não é uma grande faixa, mas pelo menos traz Axl cantando no melhor estilo Guns e soa bastante satisfatória para quem procura alguma identidade entre esse álbum e o material antigo da banda. No geral, a música está no nível daquilo que de menos memorável havia nos dois Use Your Illusion.

A faixa seguinte, Sorry, é uma baladona arrastada, em tom grave e sério, mas sem ser aborrecida em momento algum. Ela soa bem diferente do resto do álbum, mas de uma maneira positiva. Não é forte como as faixas que abrem o disco, mas se destaca positivamente em meio à irregularidade geral das faixas. Observo ainda que notei uma acentuada pitada de Black Sabbath no refrão.

I.R.S é muito boa, e Axl surpreende nessa música. Até parece que ele gravou esse vocais há dezoito anos atrás, no auge do Guns N' Roses, tamanha a vitalidade de sua performance. Um dos destaques do disco, sem dúvida. Os fãs dos discos clássicos da banda certamente vão aprovar.

Eu gostei de Madagascar desde que a ouvi pela primeira vez, no já distante ano de 2001. Em estúdio, ela peca um pouco pela repetitividade e pelo esforço demasiado para soar "épica". Uma boa abreviada na estrutura da música teria tornado-a bem mais interessante e menos cansativa. Mas é um destaque positivo. Axl aqui canta com um pé na black music, e o resultado de sua interpretação é simplesmente muito bom.

This I Love é uma baladona no piano. Serve para mostrar que Axl está em dia com a técnica vocal - ele quase chega a soar como o Andre Matos (ex-Angra) em algumas notas. Mas o resultado não combina com o álbum, nem mesmo com o belo trabalho de guitarra na segunda metade da música. E Prostitute, que fecha o disco, não contribui em nada para resgatar aquele excelente nível de qualidade roqueira do começo do álbum. Uma chatice melancólica pseudo-épica dá o tom dessa que é mais uma faixa excessivamente longa e pouco empolgante.

Concluindo: Chinese Democracy é imperdível para qualquer fã de Guns N'Roses, e prova que Axl é um artista talentoso e versátil, além de ótimo vocalista. Mas o álbum padece de uma certa falta de identidade. Some-se a isso o excesso de faixas (várias delas dispensáveis), o atraso sem precedentes para seu lançamento e o vazamento de várias dessas músicas no decorrer dos anos, e o resultado é que o álbum terminou por vir ao mundo com um impacto muito menos impressionante do que tinha potencial para ser. Em outras circunstâncias e com menos irregularidade no tracklist, o disco podia ter sido um clássico instantâneo da história do rock.

Chinese Democracy
não está no nível dos álbuns clássicos do Guns N'Roses, mas não vai decepcionar aqueles que sentiam saudades de ouvir Axl matando a pau nos vocais. Apesar dos pesares, o Caveira recomenda. Pule as faixas chatas, ponha Better pra tocar no modo repeat e divirta-se!

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