domingo, 28 de novembro de 2010

COMPRAS HORRORÍFICAS DO CAVEIRA - Parte 2: Horror Classics

Saindo do terreno dos toys para o dos filmes, comprei uma coletânea intitulada HORROR CLASSICS. São nada menos do que 12 DVDs contendo CINQUENTA FILMES antigos de terror, todos lançados entre 1923 (!) e 1968. 


Entre as pérolas presentes, estão THE LAST MAN ON EARTH, com Vincent Price (que foi a primeira adaptação para o cinema do clássico livro I Am Legend de Richard Matheson), NIGHT OF THE LIVING DEAD (o clássico de Romero, que criou a ideia geral dos zumbis como hoje eles aparecem na cultura pop), WHITE ZOMBIE (o primeiro filme de zumbis de todos os tempos, embora com uma abordagem diferente do Zumbi de Romero), DEMENTIA 13 (o primeiro filme dirigido por Francis Ford Coppola), NOSFERATU (o clássico absoluto de 1922), METROPOLIS (a obra-prima de Fritz Lang), THE PHANTOM OF THE OPERA (o icônico filme de 1925, estrelado por Lon Chaney) e por aí vai.



Agora, o mais incrível de tudo é que essa coleção imperdível está sendo vendida por inacreditáveis U$ 12.99 (cerca de R$ 22,00!) no site da Amazon. Com frete e tudo, o troço me custou um pouco menos de R$ 35,00 - ou seja, cada DVD sai R$ 2,91 e cada filme sai por SETENTA CENTAVOS! Imperdível.

 "We're coming to get you, Barbara!!!!"

COMPRAS HORRORÍFICAS DO CAVEIRA - Parte 1: Brinquedos velhos de terror

Olá, boys and ghouls! Hoje vou mostrar para vocês alguns itens de colecionador nerd-horroríficos que adquiri nos últimos tempos e que agora repousam na minha cripta.

Vou começar com algumas antiguidades infantis que comprei no Mercado Livre. O primeiro, que já faz mais tempo que comprei, é o memorável JOGO DO CASTELO MAL-ASSOMBRADO, fabricado pela Estrela nos anos 80. 


Quando eu era criança, eu babava em cima desse jogo, principalmente porque ele vinha acompanhado de uma série de fantasminhas que brilhavam no escuro! Um amigo meu tinha esse jogo, e eu achava o máximo. Demorou, mas hoje ele faz parte do acervo aqui da minha cripta. 


O jogo em si é bastante simples, até rapidamente enjoativo. Mas o tabuleiro "sinistrinho" e os fantasminhas acabam cativando qualquer criatura velha das trevas, como é o caso do autor dessas linhas.

Mais recentemente, comprei também um jogo de tabuleiro nacional extremamente desconhecido que eu tive na minha infância. O nome do jogo é CASTELO DO TERROR, fabricado pela Toyster. 


É um jogo extremamente simples, onde os jogadores vão andando por um castelo infestado de monstros para salvar uma princesa. O mais legal do jogo é a arte do tabuleiro (que tem dois níveis), representando todos os mórbidos aposentos do castelo


O jogo é divertido, e toma umas liberdades criativas interessantes. Por exemplo, para matar os vampiros, você usa estacas. Para matar os lobisomens, usa revólveres carregados com balas de prata. Até aí tudo bem, né? Mas, para matar as múmias, você usa FACAS (será que é pra cortar as bandanas das múmias?) e, para "matar" os fantasmas, você usa LANTERNAS! E eu que achei que fantasmas eram perigosos! Aparentemente, se você tiver uma lanterna equipada com boas pilhas alcalinas, sua segurança está garantida.


Bom, acho que era isso, corpos e almas. Fiquem atentos para os frequentes e sinceros depoimentos do Caveira sobre o horrendo, horrível e horrorífico mundo do terror em geral ...



                                                    "Ai, que terrãr !!!"

sábado, 27 de novembro de 2010

O FIM DO CASSETA & PLANETA


Causou furor a notícia, divulgada ontem (sexta-feira), de que o programa Casseta & Planeta, que está no ar na Globo desde 1992, será cancelado no ano que vem.

Como grande fã do grupo que sempre fui, só tenho uma coisa a dizer sobre isso: GRAÇAS A DEUS!!!

Se você tem menos de 25 anos, então provavelmente não tem noção da importância histórica da trupe do Casseta para o humor brasileiro, e não faz ideia de como esses sujeitos eram talentosos nos seus anos de ouro. Nos primeiros anos, quando o Casseta era um programa mensal, a espera pelo dia em que ele passaria gerava enorme expectativa, e o programa (que durava uma hora inteira) era um verdadeiro evento, que gerava comentários, risos e piadas por semanas a fio no país inteiro.

Sim, eu sei, isso tudo pode parecer inacreditável quando olhamos para o que foi o Casseta & Planeta na última meia década: um ridículo programa de autopromoção das novelas da Globo, calcado num "humor" pasteurizado, burocrático e batido. A verdade é que, pelo menos de uns cinco anos para cá (para ser bem sincero, eu diria que pelo menos há uma década), o Casseta & Planeta está virado numa coisa constrangedora, num verdadeiro Zorra Total levemente melhorzinho. Quando a gente vê os caras do Casseta sempre travestidos de atrizes globais, de novo e de novo e de novo, mal dá pra acreditar que esses são os mesmos sujeitos que faziam aquele humor caótico, anárquico e empolgante no começo dos anos 90. Sem falar que, ainda antes disso, eles já tinham matado a pau como roteiristas do clássico TV Pirata (uma verdadeira lenda do humor nacional) e na saudosa revista Casseta Popular.

Sinceramente, não sei diagnosticar o que causou essa decadência criativa do grupo. Alguns dirão que foi a morte do genial Bussunda, mas (por mais que eu concorde que o cara foi uma perda irreparável) devo lembrar que o programa já estava em absoluta decadência bem antes de ele morrer. Outros dirão que são os efeitos da "camisa de força" que a Globo coloca em seus subordinados (basta ver como o programa do Jô virou uma merda quando migrou do SBT para a Globo). Mas essa explicação também não convence, pois o Casseta & Planeta sempre passou na Globo. 

Outros dirão que os outrora inspirados humoristas estão velhos, ricos, acomodados e cansados, mas ... bem, essa é uma hipótese verossímil, no final das contas.

De qualquer forma, estou muito feliz com a notícia do fim do programa. Não que isso faça diferença prática para mim, pois eu já não tinha mais saco para aguentar a ruindade do programa há muitos anos, e o assistia apenas muito eventualmente (e nunca aguentava mais do que alguns minutos). Atualmente, o Casseta & Planeta é uma desgraça para a sua própria memória, e portanto já vai tarde. É mil vezes melhor procurar no Youtube pelos pedaços dos programas antigos, lá da primeira metade dos anos 90, e conferir a genialidade que o grupo de humoristas então ostentava.


ALGUMAS NOTÍCIAS RÁPIDAS



1) "FHC diz ser 'impossível' não haver regulação da mídia"
(http://www1.folha.uol.com.br/poder/836601-fhc-diz-ser-impossivel-nao-haver-regulacao-da-midia-mas-critica-controle-de-conteudo.shtml)

Ah, bonito, né? Durante as eleições, os tucanos satanizaram o tema dos marcos regulatórios para a mídia como se fossem planos diabólicos de comunistas tentando implantar uma nova União Soviética na América Latina! Agora, com a cara mais bisonha do mundo, a Múmia de Honra dos tucanos aparece para dizer que é "impossível" não regular a mídia.

Depois esses duas caras (cujos discursos e práticas vivem em permanente divórcio) ainda querem achar ruim quando tomam ferro nas eleições!



2) "Classe baixa reconhece melhor emoções alheias"

(http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI190038-17770,00.html)

Fiquei surpreso com essa! Aparentemente, pode haver uma explicação científica para a dificuldade que as pessoas favorecidas pela sociedade sentem em se colocar no lugar daqueles que passam por dificuldades e que foram menos afortunados na vida.

É claro que, independentemente de qualquer fator desse tipo, uma dieta semanal à base de revista Veja só contribui para uma deterioração mais rápida dessas habilidades de empatia.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

O Caveira recomenda: CREEPSHOW (1982)

 
Acabo de rever CREEPSHOW (1982), dirigido por George Romero. Adoro a forma como ele e Stephen King juntaram forças nesse filme para homenagear os quadrinhos de horror da EC Comics dos anos 50, com todo aquele maquiavelismo estereotipado, os mortos-vivos que saem das sepulturas para se vingarem dos seus assassinos e as lições de moral que pautavam as reviravoltas, com personagens detestáveis encarando destinos horríveis nas mãos de monstruosidades diversas. Os quadrinhos da EC (cujo título "carro-chefe" era a célebre Tales From the Crypt), extremamente audaciosos para a época, influenciaram gerações de fãs de horror, incluindo evidentemente os próprios Romero e King, e Creepshow foi uma das homenagens mais legais que o cinema até hoje já fez àquelas velhas HQs.

Esse filme passou muito na TV ao longo dos anos, embora devo dizer que faz muitos anos que não o vejo mais passando (o que pode não significar muita coisa, dado o fato de que eu assisto pouquíssima televisão). Ele fez algum sucesso nas locadoras também, na época do VHS - e aqui vai novamente uma observação semelhante à anterior, pois não me recordo de já ter visto esse filme em DVD nas locadoras. 


De qualquer forma, se você ainda não viu, recomendo dar um jeito de conseguí-lo (se as locadoras não ajudarem, sempre há o último recurso de baixar o filme na internet). Mas não espere um filme realmente "assustador". O objetivo de King (que escreveu todos os roteiros das cinco histórias do filme) e de Romero era evidentemente reproduzir o estilo de horror característico dos quadrinhos cinquentistas, que eram extremamente violentos e perturbadores para a época, mas que naturalmente já eram batidos e ingênuos para os padrões dos anos 80. Não custa lembrar que, em 1982, as pessoas já tinham assistido Sexta-Feira 13, Alien, Halloween e O Exorcista, e portanto já estavam acostumadas com coisas bem piores do que aqueles roteiros de "reviravolta terrorífica-moralista" típica dos quadrinhos da EC.

Creepshow é um filme de terror "light", que acabou virando cult entre os fãs de arte de horror justamente devido à forma divertida como celebra alguns clichês do gênero. Além disso, o filme não apenas ajudou a formar novas gerações de fãs de terror (pois as histórias são suficientemente bem executadas para arruinar uma noite de sono de um garoto de dez anos de idade) como ainda celebra aquela "descoberta do terror" que a maioria dos fãs do gênero tem na infância (o filme começa com um menino, Billy - interpretado por Joe King, filho de Stephen King - que está lendo uma revistinha de histórias de terror chamada Creepshow quando o seu pai chatíssimo e careta arranca a revista do fedelho e joga ela no lixo).

O cúmulo da arte-imita-a-vida-que-imita-a-arte é que, depois do lançamento do filme, Creepshow acabou virando uma revista, em edição única, que trazia as cinco histórias do filme em quadrinhos. As ilustrações ficaram a cargo de Berni Wrightson, um desenhista aficcionado pelo gênero e bastante influenciado pelo estilo dos velhos quadrinhos da EC Comics. 


Enfim, tem mortos-vivos, monstros que devoram pessoas e até um silencioso anfitrião espectral que aparece de vez em quando (outra clara homenagem ao Crypt-Keeper e a outros monstrinhos menos célebres, que sempre introduziam as velhas histórias em quadrinhos). E, como se não bastasse, ainda é escrito por King e dirigido por Romero, o que é sinônimo de "imperdível". O Caveira recomenda! 

domingo, 7 de novembro de 2010

THE ADDAMS FAMILY - a série completa


Se você está com o seu inglês em dia, aqui vai um link horrorífico que vale à pena salvar nos seus "favoritos": as duas temporadas completas da clássica série de TV dos anos 60 The Addams Family.

São 64 episódios no total, que foram originalmente exibidos nos EUA entre 1964 e 1966, e popularizaram definitivamente na cultura pop a macabra família de adoradores do mórbido e do sobrenatural (embora a maior parte das pessoas na minha faixa etária naturalmente tenha conhecido os personagens através do famoso filme de 1991).

Uma curiosidade: embora a Família Addams não seja a única família "sobrenatural" da cultura pop dos últimos cinquenta anos (a outra é The Munsters), os Addams são os pioneiros no estilo. Tanto The Munsters quanto The Addams Family tiveram suas séries televisivas criadas mais ou menos na mesma época, e tiveram exibição quase simultânea, mas os Addams foram criados como personagens de histórias em quadrinhos em 1938 - portanto quase três décadas antes de sua estréia na TV. 

Enfim, risadas garantidas para suas madrugadas malditas!


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

IN THEIR OWN WORDS


Ei, vejam que legal! A BBC liberou para o público, no seu site, uma seção chamada "In Their Own Words", que reúne diversos programas e entrevistas com vários dos mais importantes escritores britânicos do século XX, como J.R.R Tolkien (de joelhos, agora!!!), Virginia Woolf, William Golding e Aldous Huxley.

http://www.bbc.co.uk/archive/writers/


PS - Não, não tem a J.K Rowling, seu animal!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Obrigado, cripteiros!


A assiduidade de vocês tem impressionado o velho Caveira, meus caros corpos e almas! Depois de a nossa obscura Cripta ter comemorado a marca de 1.236 visitantes no mês de setembro (até então o recorde absoluto do nosso famigerado blog), aparentemente em outubro o pessoal resolveu chutar o balde, e os portões do inferno se abriram para hordas de mortos-vivos e criaturas sobrenaturais assemelhadas invadirem a nossa pequena necrópole. Em outubro, a Cripta teve nada menos do que 14.790 visitas, quatorze vezes mais que o recorde registrado no mês anterior! Só no dia 27/10, por exemplo, a Cripta foi visitada por 1.405 cripteiros - mais do que em todo o mês de setembro.

Doideira, hein, boys and ghouls?!? Se continuar desse jeito terei que comprar um freezer maior para a Cripta, pois a cerveja não vai chegar pra todo mundo.

Um grande abraço do Caveira para você, leitor assíduo, e muito obrigado por estes números animadores. E continue frequentando esse nosso horrorífico hospício para conferir sempre as últimas novidades infames em humor, horror, nerdices e rock n'roll!

Contos do Caveira: "D. Conceição"


D. CONCEIÇÃO

Seria exagero dizer que D. Conceição era má pessoa. No fundo, ela tinha um bom coração. Mas tinha maus hábitos. O pior deles era o preconceito generalizado que ela manifestava contra uma lista verdadeiramente enciclopédica de características humanas, que abrangia fatores de natureza social, racial, religiosa, econômica, política, ideológica, filosófica, esportiva, gastronômica, etc.

Mas o preconceito mais forte que D. Conceição tinha era em relação aos pobres.

Voltando do banco, a reclamação era sempre a mesma: “Meu bom Jesus do céu, nunca vi tanto pobre na minha vida! É aquela fila de pobre que não acaba mais!”, esbravejava. Sustentava que “pobre gosta tanto de fila que é capaz de fazer fila para entrar em uma”. Andando pelo centro da cidade, as queixas eram semelhantes: “É pobre enfeiando a cidade por todos os lados, um caído bêbado no chão, outro pedindo esmola pra não trabalhar, uma visão do inferno!”, declarava.

A Iracema, vizinha e melhor amiga de D. Conceição, havia aprendido a conviver bem com os queixumes preconceituosos da amiga. Achava exagerado e inapropriado, mas conseguia ouvir sem se deixar abalar. Sabia que no fundo, no fundo, D. Conceição tinha um bom coração.

Os anos se passaram, e a vida nem sempre foi muito boa com D. Conceição. Um de seus filhos tinha problemas com o álcool (ou com a ausência deste, melhor dizendo). Outro ficou desempregado por um longo tempo. A pensão do finado esposo era uma miséria. Injustiças do destino para com D. Conceição, uma senhora que no fundo, no fundo, no fundo era boa pessoa. Um dia, muito a contragosto, D. Conceição foi finalmente convencida pela família a solicitar um auxílio financeiro do governo, voltado para pessoas de baixa renda.

Voltando para casa, após a primeira vez em que foi sacar o dinheiro referente ao oportuno benefício, D. Conceição foi tomar o café da tarde com Iracema. Falou pouco, tendo apenas queixado-se brevemente do calor, que lhe baixou a pressão. Mas, após alguns instantes, não se conteve. Fez a careta de sempre e, balançando a cabeça, sentenciou:

- Também, com todo aquele pobrerio ao meu redor!

Contos de Horror do Caveira : "Betina Saiu Dessa Vida"


BETINA SAIU DESSA VIDA

Aquela era uma cidade pequena e interiorana, e nela o prazer tinha nome. Chamava-se Betina. Aos vinte e dois anos de idade, a garota alta, loira e dona de um espetacular par de seios já tinha levado ao delírio boa parte dos homens da cidade e de quatro ou cinco municípios vizinhos, terras nas quais a sua reputação lhe precedia, normalmente resumida por algum rapaz afoito, entre um gole de cerveja e outro, através de alguma frase como “Oh, cara, esse mulherão vale cada centavo!”.

A clientela de Betina estava satisfeita com ela, e não menos realizada estava ela com a vida que levava. Suas amigas suavam, dia após dia, atrás de balcões de lojinhas de roupas, ou mofando em escritórios tediosos, para terminar o mês com um pobre salário mínimo nas mãos. Betina acordava todos os dias depois do meio-dia e quase não tinha horários, e ao longo de um mês ganhava quinze ou vinte vezes mais do que a maioria de suas amigas.

E, que fique entre nós, ela gostava do que fazia.

Era muito, muito raro ela ter que fingir um orgasmo para seus clientes, mesmo quando se tratavam de homens roliços de meia idade. Betina simplesmente sentia prazer quando um homem se divertia dentro de suas entranhas, especialmente se o sujeito tivesse uma conta bancária proporcional à libido.

Nem os homens que a maltratavam deixavam ela com medo. A violência até a excitava, de certa maneira. Suas manhãs de sono, após o trabalho noturno, eram recheadas de sonhos eróticos em que se via nua, em calabouços, masmorras, cemitérios e cenários semelhantes, frequentemente sendo violada por homens grotescos. Várias vezes, a lembrança dessas imagens a excitava no meio de um programa.

Certa noite, Betina estava em seu apartamento quando o telefone tocou. Ela atendeu e reconheceu a voz de Rodrigo, dono de uma pequena casa noturna. Rodrigo – vulgo “Digo” - ligava para Betina toda vez que sentia vontade de ir para a cama com uma mulher bonita e vinte anos mais nova. Ou seja, basicamente o tempo todo.

- Essa noite vou querer a Pati – falou Rodrigo.

- Amor, vou ficar te devendo essa – respondeu Betina, com desdém.-A Pati não aparece no apartamento há quatro dias.

- Ué, aonde será que ela anda?

- Ai, Digo, como é que eu vou saber? Não sou mãe dela. Não me espantaria de saber que ela arranjou um velho rico e sumiu com ele. É bem capaz de ela estar agora de biquini numa bóia, na piscina de alguma mansão, desfilando na frente de algum tomador de Viagra.

Rodrigo riu com a idéia. Ficou desapontado, mas optou por marcar um horário com Betina para aquela madrugada.

Depois que Rodrigo desligou, Betina ficou absorta em seus pensamentos. Pati era uma grande amiga sua. Era, também, outro nome famoso entre os consumidores de corpos locais. Ambas moravam juntas, no mesmo apartamento pequeno e desarrumado. Não raras vezes, seus clientes solicitavam as duas juntas.

Apesar da brincadeira, Rodrigo tinha tocado num assunto sério. Betina estava, sim, preocupada com a amiga. Era normal passarem uma ou até duas noites fora, mas Pati estava sumida a quatro dias, e isso nunca tinha acontecido antes. Teria Pati largado “essa vida”, como elas se referiam ao próprio metiê? Ela comentava com Betina que tinha vontade de parar, algumas vezes. Mas nunca parecia ser uma determinação séria.

Meia hora depois do telefonema de Rodrigo, Betina estava saindo do banho quando o telefone tocou novamente. Ela atirou a toalha em cima da cama e atendeu. A voz era de um homem, como já era de se esperar, mas nenhum que Betina conhecesse. Ela tentou parecer sedutora para o novo cliente, fazendo uma voz sexy, mas o homem parecia nervoso e apressado. Ele queria encontrá-la ainda naquela noite, atrás da igreja. Betina prometeu que estaria lá, às onze horas. O homem pediu para ela bater na porta dos fundos e esperar por ele.

“Sem dúvida, mais um inseguro com ejaculação precoce que está saindo com uma garota de programa pela primeira vez na vida”, pensou Betina, rindo enquanto secava os cabelos.

Mais tarde, Betina saiu a pé para encontrar seu novo freguês, já que a igreja não era muito longe de sua casa. Ela estava com um vestido vermelho curtíssimo, deixando à mostra as longas pernas cujos músculos eram realçados pelo salto alto. Metade de seus robustos seios saltava para fora do indecente decote. Betina gostava de transformar clientes novos em permanentes, e o estímulo visual adequado sempre funcionava.

Ela chegou então na igreja e deu duas batidas na porta dos fundos, conforme combinara com o homem. “Quem será ele?”, pensava ela. A rigor, nenhum funcionário eventualmente tarado da paróquia teria dinheiro para pagar o cachê dela. Para espanto e absoluto constrangimento da garota, um rosto conhecido abriu a porta. O padre Cláudio, um homem na casa dos cinqüenta anos, pediu para ela entrar.

- Eu a esperava – disse o padre.

- Bem, EU não o esperava – respondeu Betina, sorrindo apesar da surpresa. – Espero que não tenha me chamado para um sermão – brincou.

- Não, de forma alguma. Suba as escadas e me espere em meu quarto. Subirei em poucos instantes.

Betina riu. Seria a sua primeira vez com um padre. Ela era experiente “nessa vida”, mas essa situação era por demais inusitada mesmo para ela. O padre Cláudio, além de homem religioso, a conhecia desde pequena. Ela jamais poderia imaginar que, por trás daquele semblante sério e discurso carola, havia um pervertido sexual. Estava rindo sozinha enquanto adentrava o simplório quarto do padre.

Ela largou sua bolsa sobre um pequeno criado mudo, sentou-se na cama velha do pequeno quarto e começou a se despir. Já inteiramente nua, resolveu esperar o tarado clérigo vestida a rigor, com uma das batinas do padre. “Betina de batina”, pensou ela, rindo sozinha mais uma vez. “Onde será que o padreco guarda seus vestidinhos?”, pensou, já visualizando de pronto a resposta: um grande e velho armário do outro lado do quarto. Bonito, mas antigo, fora de moda. O tipo do móvel que você espera encontrar na casa de idosos, com aquela aparência de que foram derrubadas quinze árvores só para fazê-lo, e necessários oito homens só pra trazer o móvel até ali.

Betina espiou pela porta para ver se o padre já estava subindo. Nenhum barulho. Caminhou rapidamente então para o velho armário, contando com o tempo para encontrar uma batina, vesti-la e esperar seu mais novo cliente na cama. Ela abriu a enorme porta do armário num movimento rápido, e dali de dentro veio imediatamente ao chão o corpo nu de sua amiga Pati, já semidecomposto, com os vítreos olhos abertos e secos e com um reluzente machado ensanguentado enterrado na cabeça.

Imobilizada pelo terror e nauseada ao ponto de perder os sentidos, Betina subitamente ouviu um estrondoso chute na porta do quarto e virou-se para ver o padre Cláudio caminhando rapidamente em direção a ela, nu da cabeça aos pés, com um machado nas mãos.

- É hora do arrependimento e da punição. Vamos comer, meu bom Deus!!!

Algumas horas depois, o celular na bolsa da garota tocou. Era o Digo, furioso, querendo saber por que ela não havia aparecido para o programa que combinaram. Ele não tinha a menor idéia de que jamais iria para cama com Betina novamente.

Contos de Horror do Caveira : "Dois Minutos"

 
DOIS MINUTOS

Quando ele voltou para a frente do computador com seu café, seus olhos passaram de relance pelo monitor à sua frente. Por um instante, ele sentiu uma súbita vertigem: não reconhecia o texto que estava na tela.

O que teria acontecido? Seria um vírus de computador? Alguma brincadeira feita via internet? Ele se ausentou dali por menos de dois minutos, apenas para fechar a janela da sala e para aquecer no microondas aquele café dormido, de gosto já duvidoso. O que teria havido com o texto que ele estava escrevendo?

Ele foi descendo os olhos pela página na tela, enquanto lia, perplexo, aquele texto estranho que não era seu. "De onde apareceu essa porcaria?", pensou. Era uma coisa boba, aparentemente um curto pedaço de uma história de terror fajuta. Alguma coisa sobre uma presença fantasmagórica, que se esgueirava pelas sombras da casa de um coitado que ali estava, sozinho e ignorando por completo a sinistra presença que o observava, respirando discretamente junto com o vento que agitava as cortinas do recinto.

Depois de um ou dois parágrafos de suspense clichê, o texto terminava abruptamente numa curta frase, escrita em letras maiúsculas: "NÃO OLHE PARA TRÁS AGORA!!!".

Ele balançou a cabeça, inconformado com aquela coisa inoportuna e ridícula, e praguejou contra "essas invasões de privacidade da internet". Fechando o editor de textos no qual estava trabalhando, começou a procurar pela última cópia do seu texto, que ele havia salvado minutos antes no disco rígido de seu computador.

Em seguida, ele ouviu o barulho de algo se movendo atrás dele. Sentiu-se subitamente gelado, e precisou de alguns segundos até que o seu batimento cardíaco lhe permitisse olhar para trás. Mas era só o gato, que se esticava preguiçosamente pelo assoalho, regojizando-se com a brisa que agora entrava pela janela da sala.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CAVEIRA'S HALLOWEEN PARTY 2010


Quero agradecer a todos os amigos que apareceram na CAVEIRA'S HALLOWEEN PARTY 2010, a pequena "movie-party" que eu e a Suzy bolamos para comemorar a nossa data festiva favorita do ano (clique nas fotos para ampliá-las).



Essa primeira edição da Caveira's Halloween Party foi realizada na noite do último sábado, 30 de outubro. Depois de alguma comilança, cervejas e de um setlist de músicas horroríficas, assistimos em bando o filme The Rocky Horror Picture Show, provavelmente o midnight movie mais clássico de todos os tempos.


Valeu, boys and ghouls! Ano que vem vai ter de novo!


Setlist da festa:

01 - Don't Fear the Reaper (Blue Oyster Cult)
02 - Dragula (Rob Zombie)
03 - Main Title (Grindhouse Soundtrack)
04 - Ghouls (Horrorpops)
05 - Beware (Michale Graves)
06 - Boris the Spider (The Who)
07 - Bad Moon Rising (Creedence)
08 - Bikini Girls with Machine Guns (The Cramps)
09 - Walk Among Us (The Misfits)
10 - Dust to Dust (The Misfits)
11 - Hate the Living, Love the Dead (The Misfits)
12 - Fiend Club (The Misfits)
13 - Scream (The Misfits)
14 - Saturday Night (The Misfits)
15 - Hunting Humans (The Misfits)
16 - Dig Up Her Bones (The Misfits)
17 - Monster Mash (Return of the Living Dead II Soundtrack)
18 - Somebody's Watching Me (Rockwell)
19 - Sweet Dreams (Eurythmics)
20 - Thriller (Michael Jackson)
21 - You Can't Hide From the Beast Inside (Fright Night Soundtrack)
22 - He's Back (Alice Cooper - Friday the 13th Part VI Soundtrack)
23 - Cat People (David Bowie)
24 - Pet Sematary (Ramones)
25 - Flesh to Flesh (Lamont - Return of the Living Dead II Soundtrack)
26 - Ghostbusters (Ray Parker Jr. - Ghostbusters Soundtrack)
27 - American Nightmare (The Misfits)
28 - Feed my Frankenstein (Alice Cooper)

sábado, 30 de outubro de 2010

Vídeos recomendados para comemorar o Halloween



A sensacional abertura da série "Tales From the Crypt", que passava por aqui como "Contos da Cripta" na Band, nos anos 90.

Vídeos recomendados para comemorar o Halloween




"Haunted House", um pequeno desenho do Mickey, datado de ... 1929!

Divertido pra caramba!

Vídeos recomendados para comemorar o Halloween




"Addams Groove", do MC Hammer, da trilha do sensacional filme da Família Addams de 1991.

O filme é o máximo, mas a música ... bem, digamos que o clipe funciona melhor se você não estiver sóbrio.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Álbuns recomendados: DIAMOND HEAD - LIGHTNING TO THE NATIONS (1980)


O Metallica até hoje é, provavelmente, a maior, mais conhecida e mais comercialmente bem sucedida banda de heavy metal de todos os tempos. A banda faz sucesso tanto entre os fãs do estilo quanto em públicos diversos, e continuam muito fortes na cena musical apesar de já estarem com trinta anos de estrada. O que pouca gente sabe é que a banda que mais contribuiu para a formação da sonoridade da música do Metallica foi um obscuro grupo inglês que integrou a célebre cena da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) mas que não teve uma grande carreira, ao contrário de bandas como Iron Maiden, Judas Priest, Motorhead e Saxon (os grandes "medalhões" da NWOBHM). Esse grupo é o DIAMOND HEAD.

Apesar de estar na ativa até hoje (com mudanças de formação e algumas paradas ocasionais), a verdade é que, dos seis álbuns lançados pela banda entre 1980 e 2007, apenas um foi realmente um grande sucesso, e se celebrizou como um álbum clássico de hard rock/heavy metal, não apenas devido à sua qualidade excepcional como pela influência monstruosa que teve no futuro som do Metallica. Trata-se do icônico álbum LIGHTNING TO THE NATIONS, de 1980.

O álbum, originalmente, tinha apenas sete faixas (o relançamento em CD, em 2001, contou com o acréscimo de mais sete músicas). Para você ter uma ideia de como os caras do Metallica são DOENTES por esse disco, basta ver que a banda, ao longo de sua discografia oficial, regravou nada menos do que quatro músicas de Lightning to the Nations (ou seja, mais da metade do disco). Quem é familiarizado com a discografia do Metallica certamente conhece muito bem esses covers: "Am I Evil?", "Helpless", "The Prince" e "It's Electric". Isso sem falar que o Metallica já tocou algumas vezes ao vivo "Sucking my Love", outra música do Diamond Head da mesma época de Lightning to the Nations.


Uma coisa que fica evidente quando se escuta esse primeiro e definitivo álbum do Diamond Head é que o vocalista da banda, Sean Harris, era o ídolo no qual James Hetfield (vocalista do Metallica) se espelhava. Uma audição de Lightning to the Nations seguida de Kill'em All (o primeiro álbum do Metallica) não deixa a menor dúvida de que Hetfield se esgoelava para soar como Harris. E o pior de tudo é que não conseguia, pois Hetfield só foi se tornar um bom vocalista depois de anos desenvolvendo os seus vocais, enquanto que Sean Harris já mostrava uma voz maravilhosa em Lightning to the Nations.

Outra banda que foi naturalmente muito influenciada pelo Diamond Head foi o Megadeth, pois - como todo mundo sabe - o líder e fundador desta banda, Dave Mustaine, integrou a formação original do Metallica. Tanto no estilo de cantar de Dave quanto no de Hetfield, nos primeiros álbuns de suas respectivas bandas, a influência de Sean Harris é indisfarçável.



Há uma série de outras "coincidências" na relação do Metallica com o Diamond Head. Exemplos:

- uma das melhores músicas do Diamond Head é "Shoot Out the Lights" (lançada como single na época de Lightning to the Nations), e o primeiro álbum do Metallica tinha uma música chamada "Hit the Lights";

- o nome do segundo álbum do Metallica é "Ride the Lighting", que lembra bastante o nome do álbum de estréia do Diamond Head;

- o riff de "Seek and Destroy", do Metallica, lembra muito o riff principal da música "Sucking my Love", do Diamond Head;

- Lightning to the Nations, o maior sucesso comercial do Diamond Head, era conhecido informalmente como "The White Album". O álbum Metallica, o maior sucesso comercial do Metallica, é conhecido informalmente como "The Black Album" (salvo engano, essa aqui é coincidência mesmo ...)

Nada disso, no entanto, deve ser visto com espanto. O próprio James Hetfield já declarou publicamente que o Metallica nasceu da soma de dois diferentes "heads": o MOTORHEAD e o DIAMOND HEAD. A única coisa lamentável é que esse sensacional álbum de estreia do Diamond Head continue desconhecido de grande parte dos fãs de hard rock e heavy metal, apesar de o Metallica sempre ter feito todo o possível para promover o Diamond Head e apresentar as músicas do grupo para o mundo.

Lightning to the Nations é excelente e imperdível. O Caveira recomenda!


sábado, 16 de outubro de 2010

GOD OF WAR - BETRAYAL



Depois de ter assistido o remake de Clash of the Titans e pouco depois o filme original de 1981, me bateu aquela vontade de voltar a jogar God of War II no Playstation 2. Já virei o primeiro God of War no console há anos atrás, bem como o God of War - Chains of Olympus no PSP, mas o segundo jogo da série permanece em aberto pra mim. E embalado na sanguinolência de God of War II, acabei descobrindo algo que eu não sabia (ou sabia e esqueci!): em 2007, a Sony lançou um episódio inédito da série exclusivamente para celulares: God of War - Betrayal.


Comecei a catar o jogo na internet, e não foi difícil de achá-lo. "Beleza", pensei. Meu celular é um smartphone Motorola Q11, e em tese não deveria ter qualquer problema para rodar o jogo. Rá, rá, ledo engano! Tentei fazer o jogo funcionar de tudo o que é jeito, baixei ele de diversas fontes diferentes, e sempre dava algum problema. 


Daí experimentei um emulador de Java para PC, só que o emulador só admite uma única resolução de tela, que infelizmente não é a desse game. Resultado: até roda, mas com metade da área da tela cortada. ARGHHHH!!!

Pra variar, quem salvou a barra pra mim foi o meu maravilhoso PSP, a mais indispensável das maquininhas nerds que existe. O PSP emula quase tudo o que é máquina de rodar jogo - se bobear, o troço emula até cafeteira e forno de microondas! E não é que agora descobri que ele emula Java? O emulador em questão é o PSPKVM, e o funcionamento não poderia ser mais barbadinha. Você copia o arquivo de instalação do joguinho na pasta do emulador, roda ele no PSP, instala o jogo já dentro do ambiente do emulador e sai jogando. Dá até para escolher o modelo de celular e a resolução de tela que se quer emular. Um barato!


Bom, depois dessa maratona toda, finalmente consegui colocar God of War - Betrayal à prova. E sim, o jogo é muito bom mesmo, não é à toa que foi muito aclamado. Lógico, é um joguinho de celular, e evidentemente não é nada nem perto de um game de PSP, por exemplo. Mas a Sony conseguiu adaptar bem a mecânica da série God of War para um jogo 2D de plataforma, e o resultado é divertido e com ritmo fiel aos jogos tradicionais da série. Os gráficos são um destaque à parte, muito caprichados e incrivelmente bons para o que se espera de um game despretensioso de celular.


O único porém é que o som do jogo, aparentemente, funciona mal nesse emulador do PSP, e optei por desativar os efeitos sonoros. Fiquei curioso para saber se eu estava perdendo grande coisa, mas percebi que todos os vídeos do jogo disponíveis no Youtube colocaram outras músicas por cima, sendo que nenhum preservou o som do próprio jogo. Isso me faz pensar que, nesse quesito, Betrayal não deve apresentar nada de muito impressionante (e eu realmente não esperava outra coisa de um game de celular).

No final das contas, God of War - Betrayal é indispensável tanto para os fãs da série quanto para os fãs de jogos 2D à moda antiga (eu, no caso, me enquadro nas duas hipóteses).

Ah, e quanto ao meu "smartphone" (burrofone seria mais apropriado), estou seriamente cogitando de atirá-lo contra a parede ...


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Filmes Horríveis: BRADDOCK - O SUPER COMANDO (1984)


"É tão ruim que mal dá para acreditar. É xenófobo, amadorístico e extraordinariamente aborrecido. É propaganda do tipo todo-asiático-é-bandidinho".

Derek Adams, da revista Time Out, sobre o filme Braddock.



"É o melhor filme de Chuck Norris, e isso não é dizer muita coisa".

Steve Crum, do Video-Reviewmaster.com


"Norris interpreta Stallone ... mal".

Scott Weinberg, do eFilmCritic.com



Caramba, hoje eu vou meter a mão na merda. Vou falar de um filme tão ruim que dá até vergonha: MISSING IN ACTION, de 1984, conhecido aqui no Brasil como BRADDOCK - O SUPER COMANDO.

Estrelado pelo canastríssimo e intolerável Chuck Norris, esse é o tipo do filme que só teve quinze minutos de fama nos anos 80. Para você que é jovem, deixa eu explicar: os anos 80, apesar da inegável qualidade da cultura pop da época, foram marcados pelo "cinema testosterona", com brutamontes armados com metralhadoras que atiravam de qualquer jeito para todos os lados e matavam exércitos inteiros sem sofrer um arranhão. Todo esse cinemão "macho" hollywoodiano refletia os Estados Unidos da Era Reagan, época marcada pelo militarismo e pelo discurso estilo "I'm the best, fuck the rest" dos americanos.

Só que, apesar da moda ter passado, muitos filmes realmente bons (ou pelo menos divertidos) sobreviveram à passagem do tempo. É por isso que hoje lembramos com saudosismo de coisas como Comando para Matar, Predador, Duro de Matar, Rambo II e Aliens - O Resgate. Alguns desses filmes são simplesmente muito bons, outros são meio "trash" mas são ótimo entretenimento. E, é claro, há algumas porcarias que realmente só tinham lugar naquela atmosfera dos anos 80 e que, tão logo a década seguinte apareceu na esquina, caíram no mais profundo e merecido esquecimento. Obviamente, é nessa categoria que se enquadra este detestável filme de Chuck Norris.
 


A premissa de Braddock - O Super Comando é a mesma de Rambo II: a celeuma gerada nos EUA, naquela época, sobre a suposta existência de "prisioneiros de guerra" que secretamente ainda encontrariam-se cativos no Vietnã, mesmo depois de a guerra ter terminado há mais de uma década. No filme, Norris "interpreta" o Coronel James Braddock, um veterano da Guerra do Vietnã que foi preso e torturado pelos vietnamitas e fugiu de um campo de prisioneiros dez anos antes. O personagem é uma das principais vozes do movimento que acusa o Vietnã de ainda manter prisioneiros de guerra americanos escondidos no país asiático. Aparentemente atormentado por terríveis pesadelos, Braddock relutantemente aceita integrar um grupo diplomático que viaja para o Vietnã para conversar com o governo local sobre a questão.

Chegando no Vietnã, Braddock é hostilizado como um criminoso de guerra (nada mais natural, afinal de contas não custa lembrar que os EUA é que invadiram o país, e não o contrário), e o governo local exibe uma série de camponeses que supostamente "acusam" Braddock de torturas e abusos afins, embora fique evidente que é tudo uma armação. Aparentemente, com isso, o filme quer nos fazer acreditar que Braddock foi um herói da Guerra do Vietnã sem ter machucado, torturado e nem matado ninguém. Deve ser isso, ele deve ter lutado na guerra apenas na base do carinho e do aperto de mão, senão o malvado governo comunista não precisaria acusá-lo falsamente de delitos os quais seria razoável presumir que ele necessariamente tenha de fato cometido no curso de um GUERRA!!!
 

Mas espera um pouco que a coisa piora: após desqualificar Braddock por meio das acusações forjadas, o governo vietnamita nega peremptoriamente a existência de prisioneiros de guerra americanos no país. A reunião termina, a comitiva americana é tratada com todo o respeito, sendo convidada para uma festa chique, e depois vão todos para um hotel. E o que faz Braddock? Pega uma champagne e duas taças, vai pro quarto da única mulher que integra a comitiva diplomática, entra (para fazer os guardas pensarem que ele vai traçar ela), larga tudo, tira toda a roupa na frente da mulher (como se fosse estuprá-la, e ela nem liga), se veste de NINJA e sai perambulando feito um louco pelas ruas do Vietnã!!!
 

Como se não bastasse, Braddock identifica a casa onde vive o líder do governo vietnamita, MATA gratuitamente (e sem qualquer necessidade) uma série de guardas que não estavam cometendo nenhum crime além de zelarem pela segurança do líder do país, invade o quarto onde o cara está dormindo, gruda uma faca na garganta do sujeito e exige que ele confesse aonde estão os prisioneiros americanos. O líder vietnamita admite a existência dos prisioneiros e explica o lugar onde estão. Ao tentar reagir, o sujeito é MORTO por Braddock, que depois volta correndo para o hotel, entra de novo no quarto da colega americana, arranca a roupa dela na cara dura, pega a mulher nua, atira ela na cama e se enfia debaixo das cobertas com ela. É claro que, quando os soldados vietnamitas chegam, a suspeita sobre Braddock parece infundada, pois aparentemente ele passou a noite inteira furunfando de boas. Comportamento super normal, não acham? Nada que uns cem anos de terapia não pudessem resolver ...
 
Depois de ter simplesmente assassinado o Chefe de Estado de um país estrangeiro, Braddock - ainda achando que não fez merda que chega - passará a próxima hora colocando o Vietnã novamente em estado de guerra, matando soldados, civis e gerando caos por onde passa, se infilitrando em florestas, destruindo com explosivos C4 um campo de concentração feito de madeira e palha (e que, portanto, poderia ter sido destruído com um simples isqueiro) e por aí vai. 
 
 
Mas toda essa guerra de um homem só, todo esse morticínio, todo esse absoluto desrespeito pela soberania de um país estrangeiro é finalmente compensada pela revelação de que, SIM, os vietnamitas estavam mesmo secretamente mantendo soldados americanos presos! Ohhhhhhh, malditos bandidos!!! Quantos presos secretos estavam sendo ali, cativos naquele inferno selvagem? Centenas?!? MILHARES?!?

Quatro.
 

(...)

Sim, QUATRO! Q-u-a-t-r-o. 4. Four. Toda a "absoluta convicção" que Braddock tinha sobre a existência de prisioneiros americanos no Vietnã se resumia a quatro soldados! Toda a maléfica operação de ocultação e dissimulação que o malvado governo daquele país asiático orquestrou contra os EUA tinha por objetivo manter cativos tão somente QUATRO soldados quaisquer. Braddock matou 90% do elenco, um terço da população do Vietnã e o próprio líder do país (e ainda sacrificou a vida de um amigo seu) para, ao final das contas, libertar QUATRO PESSOAS!!!
 

Sinceramente, eu não me recordo de ter visto um filme tão abissalmente ruim quanto este. Chuck Norris não convence nem interpretando uma samambaia, o roteiro é de uma estupidez que chega a ser ofensiva e, mais grave do que tudo, o filme é chato e aborrecido! Se você já viu o clássico Rambo II, vai lembrar que, apesar do roteiro sofrível, o filme era um maravilhoso espetáculo de ação quase ininterrupta. Já em Braddock, nem as cenas de ação funcionam. É tudo obtuso, lento, desinteressante e desconfortavelmente forçado. Por exemplo: todos sabemos que, em filmes desse gênero, o "mocinho" nunca leva um tiro. Mas em Braddock a coisa ganha contornos de mágica, pois chega ao ponto de o "herói" estar lutando sozinho contra uma dúzia de inimigos que atiram ininterruptamente nele com metralhadoras pesadas, numa distância de vinte ou trinta metros, e NINGUÉM acerta NENHUM tiro no cara. Ah, francamente! "Herói de ação" é uma coisa, isso aí já é gozação mesmo.
 

O mais assustador de tudo é que esse filméco miserável ganhou DUAS continuações! Missing in Action 2 - The Beginning (1985) é um "prequel", que mostra como Braddock escapou do Vietnã dez anos antes dos eventos do primeiro filme. E, como se não bastasse, Braddock - Missing in Action III (1988) apresenta mais uma aventura do detestável personagem. E o pior de tudo é que, embora Braddock pareça uma cópia de quinta categoria de Rambo II, fica difícil de acusá-lo disso na medida em que ele foi lançado um ano ANTES de Rambo II. Mas é muita "coincidência", e eu ainda suspeito que os produtores do filme ficaram sabendo da trama de Rambo II enquanto o filme era feito e correram para lançar um clone antes.
 

Se você achava que aquela fórmula cheia de ação e adrenalina de Rambo II seria incapaz de render uma cópia chata e desprovida de qualquer diversão, então Braddock - O Super Comando é para você! Mas recomendo tomar um Engove antes, outro depois.
 
"Hahahaha, mais um post hilário da Cripta do Caveira! God, eu ADORO esse cara!!!"