quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Caveira Recomenda: LEADBELLY - TAKE THIS HAMMER (2003)


Take This Hammer é uma coletânea, lançada em 2003 como parte da série When the Sun Goes Down - The Secret History of Rock & Roll. A série, como o próprio nome já diz, é focada em desenterrar material jurássico das fontes primárias do rock, principalmente do blues. Alguns álbuns da série contém material de vários artistas, mas Take This Hammer é focado em um só: Huddie Ledbetter, popularmente conhecido como Leadbelly.

Leadbelly já estava na metade da casa dos quarenta anos quando seu talento foi descoberto, em 1933, pelos musicólogos John e Alan Lomax. Detalhe: essa descoberta se deu na Penitenciária do Estado da Louisiana ("Angola Prison Farm", como era chamada na época), onde o músico cumpria pena por tentativa de homicídio (ele havia passado a faca num sujeito durante uma briga). Os Lomax começaram a gravar material de Leadbelly lá mesmo, na prisão, usando um equipamento portátil (todo o material que os Lomax gravaram do músico entre 1934 e 1943 foi lançado em seis volumes, nos anos 90, pela Rounder Records).

Em 1935 Leadbelly foi solto, e teve várias idas e vinda com John Lomax, chegando até a ser motorista do cara. Em 1939, o músico se meteu numa briga em Manhattan e voltou pra cadeia. Alan Lomax então "adotou" Leadbelly, ajudando o músico com suas despesas legais. Com Leadbelly solto em 1940, Alan Lomax convenceu a RCA (antiga empresa de eletrônicos que também atuava no mercado fonográfico) a gravar algumas músicas de Leadbelly, dando origem ao álbum The Midnight Special and Southern Prison Songs. Depois disso, o cara despontou para o sucesso, gravando para a Capitol Records, tocando em shows de rádio pela CBS com transmissão nacional, destacando-se na cena nova-iorquina e fazendo sucesso até na Europa.



O músico morreu em 1949, aos 61 anos de idade, e suas músicas viraram patrimônio cultural de bluseiros e roqueiros, sendo que Leadbelly veio a ter músicas suas coverizadas por gente do calibre de Kinks, Beatles, Rolling Stones, Van Morrison e Nirvana, dentre vários outros. 

Take This Hammer reúne todas as músicas que Leadbelly gravou para a RCA em 1940. São nada menos do que 26 músicas, todas com duração na casa dos três minutos e gravadas apenas com violão e vozes. Em doze faixas, Leadbelly é acompanhado pelo The Golden Gate Jubilee Quartet, um então famoso grupo vocal de blues/jazz/gospel, formado por Willie Johnson, William Langford, Henry Owens e Orlandus Wilson.

Apesar dos bons momentos com o quarteto, o que mais surpreende no álbum é o vozeirão de Leadbelly. É só o gogó do cara com um violão de doze cordas (o instrumento era a "marca registrada" do músico), e o ouvinte custa pra se dar conta de que não há uma banda acompanhando o cara. Não tem baixo, nem bateria, nem guitarra, nem solos, e tudo foi gravado em 1940, há SETENTA ANOS ATRÁS! E o resultado é de fazer o queixo cair e sair rolando pelo chão.

Quem gosta de blues vai curtir o troço do começo ao fim, mas é claro que há algumas faixas especiais. "Midnight Special" é o destaque absoluto do álbum. Trata-se de uma música folk tradicional, de origem indeterminada. Leadbelly não foi o primeiro a gravá-la (já haviam gravações anteriores, por outros artistas, feitas em 1926 e 1929). Mas Leadbelly contribuiu muito para popularizá-la, ao ponto de por muito tempo a música ter sido erroneamente atribuída como de autoria dele.

Outro destaque é "Rock Island Line", um blues feito simplesmente sem nenhum instrumento, construído apenas com vozes, e o resultado é tão impressionante que um ouvinte desavisado pode ouvir a música duas ou três vezes antes de se dar conta de que não há sequer um violão ali. "Good Morning Blues", "Alberta", "Easy Rider" e "Worried Blues" são daqueles blues que não poderiam ser mais autênticos e "de raiz".  Já a faixa que fecha o álbum, a divertida "You Can't Lose-a-Me Chally", é acelerada e já parece quase um rockabilly, quase como se Leadbelly estivesse antevendo a sonoridade dos estilos futuros que sua música ajudaria a inspirar.

O Caveira recomenda! E um obrigado especial à Suzan, do www.suzanathayde.wordpress.com, que desenterrou essa relíquia lá na Livraria Cultura de Porto Alegre, comprou e me mostrou.

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