quinta-feira, 31 de julho de 2008

Rambo - a série em revista!



Bom, eu acho que sou o único "filhote dos anos 80" que, até poucos dias atrás, NUNCA tinha visto NENHUM filme do RAMBO - o herói de ação oitentista por excelência.

Para compensar esse grave desvio de formação cultural, no último fim de semana eu e a Suzy fizemos uma verdadeira loucura: assistimos a todos os QUATRO filmes da série Rambo em dois dias (três deles em sequência!).

E vamos às conclusões!!!


FIRST BLOOD (hoje chamado informalmente de "Rambo") - 1982

SINOPSE: John Rambo - um ex-combatente da Guerra do Vietnã, extremamente habilidoso - é um andarilho que está de passagem por uma pequena cidade do interior dos EUA. Seu visual desagrada o chefe de polícia local, um barrigudo murrinha que começa a implicar com o forasteiro até o ponto de injustamente prendê-lo, iniciando uma imprevisível guerra contra um "vagabundo" que os fatos irão mostrar que vale por um exército.
COMENTÁRIOS: Eu já tinha visto pedaços deste filme na TV e nunca entendia porque o Rambo estava numa cidade matando policiais. Bom, agora eu entendi. Aprendi bastante sobre esse filme nos extras contidos no DVD, e ele não era nada do que eu pensava quando via cenas esparsas na TV. Não se trata de um filme de guerra propriamente dito, mas sim a história de um ex-veterano do Vietnam e as consequências psicológicas que a guerra lhe deixou. É baseado num livro de mesmo nome.

É um filme com boa dose de ação, sem dúvida, e tem várias boas cenas, mas rola mais destruição de patrimônio do que mortes propriamente ditas (pelos meus cálculos, morre uma única pessoa no filme todo). É interessante, diferente e - embora essencialmente uma película de ação - é certamente o exemplar mais inteligente da série. Surpreendentemente bom. Observo, ainda, que a obra tem o mérito de ser provavelmente o primeiro filme a tratar (ainda que superficialmente) do que viria a ser chamado de Síndrome de Stress Pós-Traumático, uma doença que só veio a ganhar notoriedade nos anos 90, após o fim da primeira Guerra do Golfo.

CONTAGEM DE CORPOS: uma única pessoa morre nesse filme, indiretamente por culpa do Rambo, mas diretamente por conta de sua própria imprudência e loucura.


RAMBO - FIRST BLOOD PART II (conhecido por aqui como "Rambo II - A Missão") - 1985

SINOPSE: Rambo está quebrando rochas na prisão, depois dos fatos do primeiro filme. O Coronel Trautman vai visitá-lo e lhe oferece uma missão no interior das florestas vietnamitas. O Congresso americando desconfia da existência de prisioneiros de guerra remanescentes do conflito no Vietnã, e Rambo será enviado numa missão de um homem só para documentar a existência ou não de reféns. Mas é claro que o virtuoso Rambo não se contentará em ser um mero fotógrafo do sofrimento alheio, e além disso ele descobrirá que nem todo mundo no Exército está interessado em ver a verdade revelada. Mas chega de trololó porque tá na hora de bala comer!

COMENTÁRIOS: O pano de fundo literário do primeiro filme foi pro espaço, "First Blood" virou um mero subtítulo e o Rambo foi transformado em algo análogo a um super-herói de história em quadrinhos. O resultado é um dos melhores filmes de ação dos anos 80, talvez o melhor. Esse é o filme que efetivamente cria o Rambo como ícone da cultura popular, com o cabelo levemente comprido, bandana vermelha na cabeça, sem camisa e lança-mísseis em punho.


O filme é irretocável: tem um enredo amarradinho, excelente andamento e direção, muito clima e uma porção de cenas de ação sensacionais, com a forçação de barra elevada à enésima potência e o couro comendo solto. Tem Rambo saltando de cachoeira, detonando um helicóptero com uma bazuca, dizimando uma base inimiga no comando de outro helicóptero, se embrenhando em florestas, emboscando inimigos na selva e por aí vai. Chega mesmo a ser difícil pensar em outro filme do gênero tão bem realizado quanto este.

Exceto para quem eventualmente odeie filmes de ação, esse aqui é imperdível.

CONTAGEM DE CORPOS: 69 mortos, 58 pelo Rambo em pessoa.



RAMBO III - 1988

SINOPSE: Rambo exilou-se num mosteiro budista na Tailândia. Para variar, seu sossego é interrompido pelo Coronel Trautman, que lhe oferece uma nova missão no Afeganistão invadido pelas tropas soviéticas. Rambo recusa a missão, dizendo que não aguenta mais guerras, e então seu amigo Trautman vai pessoalmente pro Afeganistão e, é claro, termina capturado pelos soviéticos. Ao saber que seu Coronel queridão é refém, Rambo abandona os budistas e vai pro Afeganistão, onde se unirá aos guerrilheiros Mujahideen e promoverá uma guerra particular para salvar Trautman.


COMENTÁRIOS: Em termos de nomes, essa deve ser a sequência de filmes mais irregular de todos os tempos! "Rambo III"? Não deveria ser "Rambo II"? Ou "First Blood Part III"? Ou, pra ser super formalista, "Rambo II - First Blood Part III"? Bom, mas é o terceiro filme da série e então a gente dá um desconto.

Bom, em primeiro lugar, vamos falar um pouco do roteiro desse filme. Sem rodeios, é uma porcaria. Basicamente, repetiram a história do segundo filme, colocando o Coronel Trautman no lugar dos reféns americanos e o deserto do Afeganistão no lugar das florestas vietnamitas.

Enfim, é só uma desculpa para vermos o personagem novamente metralhando meio mundo, explodindo instalações inimigas e empilhando cadáveres. E, nestes quesitos, o filme funciona muito bem, sendo amplamente considerado na época como o filme mais violento já feito. Não tem o clima, o charme e a profusão de grandes momentos que se vê em Rambo II, mas no geral é um bom filme de ação. O destaque vai para a excelente fotografia do filme, cheia de ótimas tomadas cenográficas de desertos e montanhas, bem como para o relacionamento do protagonista com o povo afegão, ao qual os créditos finais dedicam o filme.


CURIOSIDADE HISTÓRICA: Rambo III se tornou um filme meio que "evitado" depois dos atentados terroristas de setembro de 2001 nos EUA, pois parte daqueles Mujahideen anti-soviétivos que eram amigões do Rambo no filme (e aplaudidos nos anos 80 por pessoas como o ex-presidente americano Ronald Reagan) se converteram, na vida real, em alguns dos terroristas anti-EUA mais procurados do mundo, incluindo o próprio Osama Bin Laden em pessoa, que lutou contra a invasão soviética no Afeganistão nos anos 80.Não custa lembrar que os próprios americanos vieram a invadir o Afeganistão em 2002, sendo apoiados por parte dos afegãos e combatidos pelos fiéis ao regime Talibã.

Mas, enfim, são ironias da Históra e evidentemente não cabe fazer críticas deste quilate em cima de um filme "raso" de ação que não tem outra pretensão senão mostrar um monte de explosões, rajadas de metralhadoras, helicópteros e gente levando tiro. Além disso, nem todo Mujahideen afegão se tornou inimigo dos EUA, basta lembrar de um dos mais famosos, o lendário herói nacional do Afeganistão Ahmad Shah Massoud.

CONTAGEM DE CORPOS: 132 mortos, 78 pelo Rambo.


RAMBO (chamado por aqui de Rambo IV) - 2008

SINOPSE: Vinte anos se passaram e Rambo está vivendo isolado na Tailândia, como um verdadeiro eremita, quase virado num índio do Pantanal. Um grupo de missionários busca a ajuda dele para que os leve de barco rio acima até a fronteira do país vizinho, Myanmar (chamado no filme ainda pelo nome antigo e hoje não mais reconhecido, "Burma", "Birmânia" em português). Os missionários querem levar atendimento médico, remédios e apoio espiritual para os camponeses do país, vítimas de perseguição e limpeza étnica por parte do autoritário e violentíssimo governo militar do país. Rambo, sempre de saco cheio de guerras, recusa a ajuda. Duas semanas depois, é procurado por uma padre que o informa que os missionários não retornaram de Myanmar. Ou seja, para que fique bem claro, eles viraram REFÉNS APRISIONADOS NA SELVA. Como se sabe, Rambo sempre se converte em uma máquina de matar no instante em que ouve a palavra REFÉNS. Rambo é solicitado apenas para levar rio acima um grupo de mercenários contratados para resgatar os missionários. Mas, como se sabe, Rambo só obedece ordens se elas forem proferidas pelo Coronel Trautman, e ele não está no filme dessa vez.

Enfim, Rambo se atravessa no trabalho dos mercenários, se mostra mil vezes mais eficiente do que todos eles somados, resgata os missionários e transforma um terço do exército de Myanmar em lasanha.


COMENTÁRIOS: "Rambo"?? Como assim, "Rambo"? "Rambo" não é o nome oficial do segundo filme e o nome extra-oficial do primeiro? Como é que o QUARTO filme da série pode se chamar "Rambo" de novo? Isso é uma continuação ou um remake? Puta que o pariu, tchê, mas que CONFUSÃO! Olha que coisa absurda essa sequência de filmes:

1 - First Blood
2 - Rambo - First Blood Part II
3 - Rambo III
4 - Rambo

Dá pra entender uma coisa dessas? Até se entende o nome "Rambo III", era meio impróprio mas vá lá, era mesmo o terceiro filme da série. Mas o mínimo que podiam ter feito era manter essa mesma linha de raciocínio e batizar o quarto filme de "Rambo IV", e não de "Rambo"!

Olha que coisa ridícula: agora, se alguém fala "eu vi Rambo", ele pode estar se referindo ao primeiro filme, ao segundo filme ou ao quarto filme! O primeiro é tradicionalmente chamado Rambo e o segundo e o quarto filmes são OFICIALMENTE chamados "Rambo".

Ahhhh, que estupidez! Dá vontade de pegar esses caras e RATÁTÁTÁTÁTÁTÁ!!!!!


Bom, mas vamos à análise do filme.

Roteiro: não tem. Sério, dessa vez fizeram um Rambo sem roteiro at all. O Stallone simplesmente queria mostrar o Rambo metendo bala nos milicos de Myanmar e, na falta de um motivo, meteu uns reféns no meio da selva DE NOVO! Tipo assim, uma coisa INÉDITA na série, entende? Como não existe nenhum refém americano em Myanmar e o Coronel Trautman estava véio demais pra mais um filme, atocharam um grupinho estúpido de missionários.


O roteiro do filme não vale nada e os diálogos são abomináveis, mas felizmente são bem escassos. Ah, isso quer dizer que o filme é ruim? Não, porque ele tem duas qualidades. Primeiro: a absoluta falta de história é compensada por um bocado de CONTEXTO. A idéia de colocar Rambo em meio a um problema de geopolítica real enche o filme de estofo moral e heroísmo, fazendo o espectador torcer loucamente pelo acéfalo protagonista. Tanto isso é verdade que esse filme virou uma verdadeira bandeira entre os rebeldes do oprimido povo Karen de Myanmar, que adotaram até o bordão de Rambo no filme - "live for nothing, die for something" - que aliás é disparado a melhor fala do filme inteiro.

Segundo: o filme não é exatamente rico em cenas de AÇÃO, mas compensa com uma quantidade alucinante de cenas de VIOLÊNCIA e tiroteio. Não se vê Stallone fazendo tantas loucuras como fazia em Rambo II - A Missão. Mas, em termos de tiroteio e violência plástica, esse é de longe o Rambo mais sanguinolento de todos. E não é só isso: este é provavelmente o FILME mais violento de todos os tempos! Dificilmente você verá maior quantidade de pessoas explodindo, membros voando pelos ares, camponeses sendo fuzilados, cabeças sendo abertas à bala e sangue jorrando do que neste filme. Não é só "violento", é um ABSURDO mesmo. Mais sangue do que isso, só filmando o interior de uma artéria. A quantidade de gente morta nesse filme é uma coisa de louco, bota a carreira inteira do Jason de Sexta-Feira 13 no chinelo.


Portanto, o filme é salvo pelo contexto da trama, que mistura muitos elementos de realidade, mais ou menos como Rambo III, bem como pela surpreendente boa forma de Stallone (incorporando Rambo novamente, do alto de seus inacreditáveis SESSENTA ANOS de idade!) e, principalmente, pela insuperável e impressionante violência visual.

Enfim, "Rambo IV" é um "comeback" direto, objetivo e realmente impressionante, no final das contas.

Mas é claro que, como todo mundo notou, nesse último filme o Rambo nunca tira a camisa. Ou ele perdeu o gosto por andar semi-nu, ou é o Stallone que não tá mais em idade de sair de peitinhos de fora pelo mato.

CONTAGEM DE CORPOS: 236 mortos (sim, é isso aí mesmo, DUZENTOS E TRINTA E SEIS MORTOS!!!), 83 deles mortos pelo Rambo.

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