quarta-feira, 13 de abril de 2011

Review: show do ROXETTE em Porto Alegre (12/04/2011)



Há dois anos atrás, se você cogitasse um novo álbum de estúdio do Roxette, faria papel de louco. Se, para piorar, cogitasse ainda de uma turnê mundial da dupla, com passagem por Porto Alegre, certamente seria encaminhado diretamente para o hospício mais próximo.

Daí a sensação mista de alegria e absoluta incredulidade dos fãs da banda no show de ontem no Pepsi on Stage, na capital gaúcha.

O setlist do show foi de uma generosidade impressionante, com duas horas de duração e nada menos do que 22 músicas. Como já seria de se esperar, muita gente sentiu falta desta ou daquela música mas, considerando a absurda quantidade de grandes hits que o Roxette tem, seria impossível tocar todos os destaques dos 8 álbuns de estúdio e 25 anos de história da banda.


Do ponto de vista técnico, há pouca coisa para reclamar. Se por um lado abrir o show com Dressed for Sucess (um de seus maiores hits) é uma boa pedida para enlouquecer os fãs desde o primeiro segundo, por outro lado compromete um pouco a execução da música, que foi prejudicada pelos costumeiros ajustes de som.

Falando nisso, de onde eu estava (mais ou menos na metade da pista), fiquei ao longo de todo o show com a nítida impressão de que o som poderia estar mais alto. Em algumas músicas mais calmas, até o falatório do público chegava a atrapalhar. Quanto ao setlist, a única música que me pareceu não funcionar muito bem ao vivo foi Stars. De resto, no geral seria difícil montar um repertório melhor. Para o meu gosto, poderiam ter entrado no setlist uma ou duas músicas do ótimo álbum Room Service (2001), já que o disco foi completamente ignorado.

A banda em si está maravilhosa. Os músicos de apoio são excelentes, com destaque para a animada, simpática e hipercompetente backin-vocal Malin Ekstrand (que complementava os vocais de Marie de forma tão perfeita que teve gente da mídia achando que a vocalista usou "playbacks" em alguns momentos).


Per Gessle, para todos os fins práticos, não envelheceu um dia sequer. Ele continua com a mesma performance de palco de sempre e com a voz idêntica (além de continuar sendo um compositor genial de pop-rock, como prova o mais novo álbum do Roxette). Indiscutivelmente, ele é o centro gravitacional da banda, e comanda o espetáculo com o devido cuidado para não ofuscar os outros músicos, bem como para deixar a vocalista Marie Fredriksson tão à vontade quanto possível.

Marie, é óbvio, não é mais a mesma - e ninguém em sã consciência poderia esperar isso dela. Sua voz está intacta, mas o alcance não é mais o mesmo e a sua perfomance vocal é mais contida. Ainda mais contida é sua performance física - ela mal chega a andar pelo palco e seus movimentos são discretos e tranquilos. Marie, como se sabe, enfrentou um tumor maligno no cérebro em 2002 (Per Gessle declarou, numa entrevista, que os médicos chegaram a dizer que ela só teria 20% de chance de sobreviver).

Depois que Marie saiu dessa com vida e aparentemente sem maiores sequelas, ninguém esperava que ela um dia teria condições de sair em turnês pelo mundo novamente. Por isso, apesar de não ter mais a mesma presença de palco de outros tempos, a vocalista continua cantando incrivelmente bem e segurando o show sem nenhuma dificuldade, o que é um verdadeiro milagre e um presente para os fãs do Roxette.


O show teve vários grandes momentos. It Must Have Been Love, obviamente, foi cantada em uníssino pelo público de cerca de 6.000 pessoas, o que aconteu também com Spending my Time, cantada pelos fãs como se fosse um hino religioso. Nos momentos em que a banda parava para deixar apenas o público cantar, até Per e Marie ficavam visivelmente impressionados. O momento em que o guitarrista Christoffer Lundquist surpreendeu todo mundo e começou a tocar o Hino Rio-Grandense foi um bom teste para as estruturas físicas do local, que certamente teria desabado se não estivesse em boas condições. Já na segunda metade do show, a "chuva" de hits era tanta que mal dava para acompanhar: How do You Do, Dangerous, Joyride, The Look e Listen to Your Heart lavaram a alma dos fãs. Em alguns momentos, cheguei a temer que seria acidentalmente aberto um portal no espaço/tempo, que levaria o Pepsi on Stage inteiro de volta para o ano de 1990. Acho que foi por pouco ...



Os fãs fizeram bonito no show, mas o mesmo não pode ser dito de todo o público presente. Muitos pareciam ter ido ao Pepsi on Stage mais para ficar perambulando de um lado para o outro do que para prestar atenção no show. Na primeira metade da apresentação, que foi menos carregada de hits, uma enorme quantidade de pessoas conversava o tempo inteiro, como se estivessem numa churrascaria ouvindo música ambiente. Alguns, aliás, pareciam até ter dificuldades para se locomover, na medida em que se mostravam incapazes de caminhar sem esbarrar nos outros, como se zumbis fossem. Esse tipo de "fã de meia-tigela" (que só gosta de duas ou três músicas da banda e vai no show mais para fazer um "social" e colocar umas fotos no Facebook) é uma espécie de criatura que praticamente não existe em shows de hard rock ou heavy metal, nos quais estou mais acostumado a ir. Portanto, isso me chamou bastante a atenção.


É difícil para alguém na minha faixa etária não ser fã - pelo menos um pouquinho - do Roxette. Durante o show, dei de cara com três ex-colegas dos tempos de colégio, todos acompanhados das respectivas namoradas e noivas, todos fãs de rock, Iron Maiden, Metallica e por aí vai. Um deles me dizia o quanto o som do Roxette marcou o começo da adolescência quando, então, a banda começou a tocar Fading Like a Flower. Ele apertou o meu braço, olhou pra mim e disse "bahhhhhh!!!!", sinceramente emocionado. Pois é, o Roxette faz isso com as pessoas, mesmo que sejam barbados com quase trinta anos nas costas. De brincadeira, eu disse pra ele que eu não contaria para ninguém que vi ele lá, e que era para ele não dizer pra ninguém que tinha me visto também. Brincadeira, pois quem me conhece (ou frequenta a Cripta com alguma assiduidade) sabe que eu sou fã da discografia inteira do Roxette há quase quinze anos.

É muito legal ver Marie e Per ainda na ativa, em 2011, gravando novas (e ótimas) músicas e tocando ao vivo seus grandes sucessos pelo mundo afora. E, para quem gosta de música pop dos anos 80/começo dos 90 e passou a pré-adolescência em reuniões dançantes regadas a Roxette, foi um show inesquecível!

SETLIST
1  - Dressed for Sucess
2  - Sleeping in my Car

3  - The Big L
4  - Wish I Could Fly
5  - Only When I Dream
6  - She's Got Nothing On (But the Radio)
7  - Perfect Day
8  - Things Will Never Be the Same
9  - It Must Have Been Love
10 - Opportunity Nox
11 - 7Twenty7
12 - Fading Like a Flower
13 - Stars
14 - How Do You Do!
15 - Dangerous
16 - Joyride


Bis 1

17 - Watercolors in the Rain
18 - Spending my Time
19 - The Look


Bis 2

20 - Way Out
21 - Listen to Your Heart
22 - Church of Your Heart



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No Youtube:












5 comentários:

Unknown disse...

Putz... faço das tuas as minhas palavras! Pra mim, o portal dimensional meio que se abriu váaaarias vezes... hehehe... ;-)
Abraço, tchê!!

Suzan Lee disse...

Tem gente mesmo que foi só pra passear por lá. No meio de It Must Have Been Love quase acabei fazendo uma versão "It Must Have Been Hate", quando um imbecil simplesmente tirou meu tênis pisando em cima de mim. Deplorável. O Show tava legal, mas fã de metal é muito mais educado...

Cidraman disse...

Concordo plenamente com esta resenha e com os comentários de Leo e Suzan Lee.

Muita gente indo "fazer o social" nesse show, mostrando falta de educação (pisando nos pés dos outros, esbarrando, empurrando).

Será que estamos educando mal o nosso povo, antes um exemplo de educação e cultura?

Fora isso, foi um show sensacional e memorável (tal qual o show de 1992).

Resta torcer para que o Roxette ontinue com fôlego e volte a Porto Alegre, em um futuro não muito distante...

Anônimo disse...

Muito boas tuas palavras sobre o show, mesmo sabendo que e' fa de rock e ainda sabe apreciar o que e' bom. Como vc mesmo disse, nao tem como nao gostar deles. Sao uma banda diferente, com musicas que sao hits por natureza. Quero ver quem consegue citar aqui outras bandas que possuam tantos hits como o Roxette. pouquissimas, ou nenhuma. tenho orgulho de ser fa deles e saber que vivi nesta epoca gloriosa onde eles deixam suas vozes nos encantar sempre.

Don't bore us! Get to the chorus!

Rodrigo Rubem Rossetti disse...

Esse show foi pra mim que sou fan desde criança uma realização pessoal, amei cada segundo, fiquei muito feliz foi incrível!