quinta-feira, 15 de março de 2012

O Caveira analisa: SUPERMAN II - THE RICHARD DONNER CUT (2006)

 
Se você é da "Geração Anos 80" como eu, provavelmente sabe que SUPERMAN II (1980) é um dos melhores filmes de super-heróis de todos os tempos, e que os dois primeiros filmes do kryptoniano estrelados por Christopher Reeve foram nada menos do que os primeiros filmes do estilo a realmente fazer um grande sucesso de crítica e público, estabelecendo o padrão para o que Hollywood viria a fazer no futuro com Batman, Spiderman, X-Men e tantos outros.

Apesar do pioneirismo e da qualidade técnica até então sem precedentes do primeiro Superman (1978), dirigido por Richard Donner, o segundo filme é geralmente considerado mais divertido e emocionante, o que certamente se deve ao fato das brigas sensacionais que o herói encara com três criminosos kryptonianos liderados pelo maligno General Zod (Terence Stamp, em performance lendária), adicionando à trama uma boa quantidade de ação que não existia no primeiro filme.


No entanto, apesar de ser um clássico, Superman II sempre foi um filme cercado por muita polêmica. O motivo é o seguinte: o ultracompetente e famoso diretor Richard Donner estava originalmente contratado para dirigir dois filmes do Superman, e por isso as duas películas foram filmadas juntas (o começo do primeiro filme já deixa o gancho pronto para a sequência). Só que, em virtude de desentendimentos de Donner com os produtores, o diretor acabou despedido antes da continuação ser finalizada. No seu lugar entrou outro Richard: Richard Lester, um diretor muitíssimo menos prestigiado (e que mostraria a toda a sua incompetência em lidar com o Homem de Aço ao dirigir o péssimo Superman III, alguns anos depois).


Bem, Lester não era Donner. Mas como o filme estava parcialmente pronto (com várias cenas já filmadas e com o roteiro essencialmente pronto), as inabilidades de Lester não chegaram a prejudicar demais Superman II. Apesar disso, durante muitos anos, os fãs choraram para que Donner fosse autorizado a lançar a sua versão de Superman II, usando o material que ele filmou antes de ser despedido e seguindo o roteiro de acordo com o que era antes de Lester assumir a direção. E em 2006, o sonho dos fãs se tornou realidade com este SUPERMAN II - THE RICHARD DONNER CUT, ou seja, como o Superman II de 1980 teria sido se Donner não tivesse quebrado os pratos com os produtores. Como Donner não conseguiu filmar tudo antes de ser despedido, foi necessário aproveitar cenas do material filmado sob direção de Richard Lester. Oficialmente, estima-se que 83% da filmagem dessa nova versão de Superman II foi feita por Donner, sendo que o resto foi aproveitado das filmagens de Lester.  


Tudo isso pode parecer apenas balela para dar dimensões exageradas para uma versão especial de um filme velho, mas realmente este não é o caso. Acredite: o Superman II de Richard Donner é um filme MUITO diferente do Superman II de 1980, apesar do roteiro ser essencialmente o mesmo. Para mim, que sou fã dos dois primeiros filmes e quase vou às lágrimas toda vez que vejo Christopher Reeve interpretando o Superman, foi um choque ver essa quantidade enorme de material inédito do ator encarnando o herói kryptoniano.

Se você pretende ver essa nova versão e não quer ter nenhuma surpresa estragada, sugiro parar de ler esse review por aqui. Estou avisando: haverão spoilers aos montes. Ainda lendo? Bem, então vamos lá.


O Superman II de Richard Donner é uma maravilhosa e divertidíssima surpresa para os fãs do Superman/Christopher Reeve, mas a verdade nua e crua é que, em termos gerais, ele simplesmente NÃO É um filme melhor do que o Superman II original de 1980. Algumas coisas ruins e furos de roteiro do filme original são deixados de lado nessa nova versão - mas, por outro lado, esse novo Superman II apresenta toda uma série de novos defeitos que, graças a Deus, ficaram de fora do filme original. Vamos analisar alguns pontos mais específicos.


A épica e lendária batalha do Superman contra Zod e seus asseclas nas ruas de Metrópolis ficou bem melhor nessa versão de Richard Donner. Lester, que tinha uma veia cômica muito saliente, insistia em colocar "gags" ridículas e sequências de coisas idiotas (no melhor estilo "Os Trapalhões") em todas as cenas em que isso era possível (basta ver a comédia pastelão que Superman III se tornou sob sua direção, com o comediante Richard Pryor roubando o filme no lugar do protagonista). Aquelas estúpidas cenas de pessoas tropeçando e levando sorvetes na cara durante a luta dos kryptonianos pelas ruas de Metrópolis, felizmente, foram removidas.

Por outro lado, outras incongruências absurdas dessa parte do filme foram mantidas tal qual no filme de 1980. Por exemplo: Superman está sobrevoando Metrópolis, em luta contra Zod, sendo que tudo está sendo assistido por Lois Lane da janela do prédio do Planeta Diário, e de repente os oponentes colidem com ... a Estátua da Liberdade! Mas, afinal de contas, eles estavam lutando em Metrópolis ou em Nova York?!? Para não falar da ridícula mamãe que fica andando com o seu filho no carrinho de bebê no meio de uma batalha entre quatro kryptonianos super-poderosos e irados ...


A nova versão acrescenta um bocado de cenas de Marlon Brando como Jor-El, interagindo com Reeve, o que evidentemente dá um valor sentimental enorme a esse novo Superman II de Donner. Por outro lado, tudo isso acaba vindo em prejuízo da coerência do roteiro. Explico: no Superman II de 1980, o herói abria mão de seus super-poderes a fim de levar adiante o seu romance com Lois Lane. Assim, ele perdia seus poderes e só então ia para a cama com a mocinha, deixando implícito que com seus poderes ele não poderia ter feito isso (é uma premissa coerente, embora boba, já que o Superman dos quadrinhos traça a Lois regularmente sem precisar abrir mão de seus poderes para isso). Já nessa nova versão de Donner, Superman PRIMEIRO vai pra cama com Lois e só depois resolve se transformar num homem normal. 


Ahn ... O QUÊ?!? Ora, se ele podia namorar a Lois normalmente sem perder seus poderes, então por que adotar essa atitude radical? Alguém poderia dizer que ele abriu mão de seus poderes "para poder se dedicar exclusivamente à ela e não precisar mais ficar salvando pessoas pelo mundo afora". Mas essa explicação é péssima. Se Superman queria apenas deixar de ser herói, não precisava se submeter a um procedimento para virar um homem normal desprovido de super-poderes. A montagem do filme original fazia muito mais sentido e tornava mais coerentes as ações do herói. Na versão de Donner, a decisão do Superman acaba parecendo coisa de débil-mental.

Outra furada da nova versão: aqui, é um dos mísseis de Lex Luthor (aquele que o Superman desvia no final do primeiro filme) que acaba destruindo a prisão dimensional onde estavam o General Zod e seus subordinados. Sem falar que Luthor viaja até a Fortaleza da Solidão e, consultando os cristais de Jor-El, acaba descobrindo sobre a existência de Zod. Quer dizer, vejam só que "coincidência": Luthor toma conhecimento da existência de Zod ao mesmo tempo em que o míssil que ele mesmo lançou acabou libertando Zod, que está chegando à Terra. Toda essa série de coincidências absurdas não existiam no filme original de 1980. 


No entanto, o pior do Superman II de Donner é que, inacreditavelmente, ele repete o truque narrativo que era simplesmente A PIOR COISA DO SUPERMAN DE 1978: a ridícula, constrangedora e infame viagem no tempo. Lembram que, no final do primeiro filme, Superman fazia a Terra girar ao contrário para fazer os eventos retrocederem e impedir que Lois Lane morresse? Aquela cena lamentável, que maculou um filme praticamente perfeito, aparece DE NOVO nessa nova versão de Superman II. Pô, Richard Donner, mas qual é o seu problema?!? MAIS UMA VEZ, Superman faz a Terra girar ao contrário para mudar o curso dos eventos - dessa vez, no final do filme, para impedir que os vilões kryptonianos escapem de sua prisão eterna na Zona Fantasma. Pô, mas qual o sentido de lutar com os vilões o filme inteiro e derrotar eles para, só no final, fazer o tempo voltar e apagar tudo o que aconteceu? Por que Superman não fez isso já na metade do filme, evitando toda aquela batalha nas ruas de Metrópolis?!?

O Superman II de 1980 nunca foi um filme perfeito. Haviam várias partes aborrecidas e o roteiro tinha furos significativos. Mas, no novo Superman II de Richard Donner, o roteiro é transformado num verdadeiro quejo suiço: é pouco roteiro para muito furo. Duvido que o filme tivesse saído tão incoerente se tivesse sido lançado por Donner lá em 1980. A meu ver, as incongruências gravíssimas do filme são fruto da "colcha de retalhos" no qual o material filmado por Donner se transformou, bem como o longo tempo transcorrido entre a produção original e a montagem deste novo corte.

Conclusão: o Superman II de Richard Donner é imperdível para os fãs dos filmes de 1978 e 1980. A oportunidade de ver material inédito estrelado por Reeve é um verdadeiro presente para os fãs, para não falar do vasto material adicional com Marlon Brando. Mas que ninguém se iluda: esse novo corte do filme não resulta, no geral, num Superman II melhor do que o original. Alguns aspectos negativos foram melhorados, mas um monte de novas deficiências narrativas foram acrescentadas. Sou fã confesso de Richard Donner, mas - sinceramente - ainda fico com o Superman II que eu cresci vendo na TV.


2 comentários:

marcello rego disse...

os kripronianos falam inglês. depois que me liguei nisso zod e seus comparsas são liberados por uma bomba atômica . a zona fantasma fica aonde???? eles vão para lua e conseguem respirar e falar normalmente . poderes novos???

Anônimo disse...

sem contar que depois do Clark perder seus poderes, como foi que ele saiu da fortaleza da solidão(que fica na porra do polo norte kkkk) para a cidade com a Louis, será que voltaram a pé kkkk,e depois como ele voltou.