terça-feira, 27 de março de 2012

Quaresminha

 
 - Bem-vindos de volta, prezados ouvintes! Eu sou o seu Roberto Leão e você está sintonizado na Rádio Ranheta, 43.7 FM. Conforme prometido, nesse bloco do nosso programa a gente vai entrevistar um grande nome da nossa música popular, um compositor local que muito nos honra com a sua presença: o popular Quaresminha! Boaaaaaaaaaaaaaaa noite, Quaresminha!!!

- B-Boa noite!

- Disco novo na praça, então?

- É, acabou de ser lançado. A gente tem que aproveitar a época, né?

- Não entendi. Que época?

- A Quaresma. Tipo, depois do Carnaval e antes da Páscoa.

- Ahhhh, saquei, saquei. Você prefere lançar seus álbuns no período da Quaresma, Quaresminha? É pra dar mais ibope, ficar mais em evidência?

- É, acaba sendo uma necessidade, né? É o único período em que os meus álbuns vendem bem, na verdade.

- Não é fácil ser músico no Brasil, né, Quaresminha?

- Não é, não. Não é mole. Com show é a mesma coisa, minha agenda só enche mesmo nessa época. No resto do ano rola um certo marasmo.

- Que coisa, que coisa! Mas fala mais pra gente dessa tendência de vendas aí, Quaresminha! Quer dizer que o pessoal não ouve Quaresminha no Natal ou no Dia das Mães?

- Pior é que não, sabe ... é só na Quaresma mesmo. Tem muita concorrência no Dia das Mães: Os Rebentos dominam as paradas há alguns anos nesse período. O público mais roqueiro acaba comprando os álbuns da Filhotão & Os Matricidas. E todo mundo sabe que, no Natal, só dá Simone há mais de vinte anos.

- "Então é Nataaaaal"! Ráráááá, é verdade! Tchê, mas tu vê só! Que barra, Quaresminha, que barra!

- É, pois é. Eu me arrependo um pouco desse nome artístico na verdade. Acho que me faltou um pouco mais de visão na época. Eu era jovem e inexperiente no mundo da música. Deveria ter pensado em algo mais abrangente.

- Exemplifica aí pro ouvinte, Quaresminha.

- Ah, tem muito artista que mantém boas vendagens o ano inteiro. A dupla Rotineiro & Cotidiano, por exemplo. Não há dia no ano em que os discos dos caras não vendem bem. Tem aquela banda punk da capital, a Cartão Ponto, que também se mantém forte o ano inteiro. Quer dizer, menos no período de férias. Acho que nas férias o pessoal prefere reggae, ska, pop ...

- Esse sons mais de praia, né?

- É, por aí.

- E como você leva o resto do ano, quando os discos vendem menos e há poucos shows?

- Bom, a gente se vira, né? Eventualmente aparecem umas paróquias do interior comandadas por uns padres meio gagás. Isso acaba me ajudando. A Páscoa passa e eles não se dão conta. Continuam me contratando para animar as festas da igreja local até meados de maio. Começo de junho, às vezes.

- E diz aí pra gente, Quaresminha: você já cogitou mudar o seu estilo de som, para atingir um público maior?

- Sim, já pensei nisso, sim. Aliás, estou determinado a me renovar musicalmente. No meu próximo álbum, irei experimentar com música clássica. Farei releituras de grandes composições eruditas. Será algo com potencial para expandir o meu público e fazer o disco vender bem durante o ano inteiro.

- Mas olha só! Que legal, Quaresminha. E esse futuro projeto, já tem nome?

- Tem sim. Vai se chamar "As Quatro Estações"! 


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