segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Caveira analisa: TRON - O LEGADO



Sei que havia uma expectativa monstruosa em torno do novo Tron: Legacy (Tron - O Legado, aqui no Brasil), mas devo dizer que fui ver o filme sem nenhuma grande expectativa. Como fui criança nos anos 80, lembro que o Tron original era um filme embasbacante e que impressionava todo mundo com seus efeitos especiais de ponta, mas devo confessar que nunca fui um grande fã do filme e (pelo menos até onde lembro) só fui vê-lo do começo ao fim já em plena vida adulta. Portanto, não estava roendo as unhas de ansiedade para ver essa mais-do-que-tardia continuação, e nem estava preocupado se o filme iria ou não honrar o material original. Esclarecido isso, devo dizer que saí do cinema bastante satisfeito.

Observo, antes de mais nada, que duas qualidades essenciais do filme original estão ausentes em Tron: Legacy. A primeira delas é a originalidade. Essa continuação apresenta os duelos de discos, as corridas com as Light Cycles, os ameaçadores sentinelas Space Paranoids, o icônico mundo digital e tudo aquilo que já conhecíamos do primeiro Tron (só que, evidentemente, com um acabamento visual muito superior). Não espere por novos elementos criativos dignos de nota, pois esse novo filme não disfarça sua premissa de "retorno ao mundo fantástico que já conhecemos".   

O segundo ponto em que Tron: Legacy perde para o original é no quesito "dianteira tecnológica para sua época". Enquanto que o Tron de 1982 era visualmente arrasador e um marco tecnológico absoluto para o cinema até então, Tron: Legacy pode se gabar de ser  muito bem feito e visualmente impressionante, mas nada mais do que isso.



Isso, no entanto, não quer dizer que o filme não vá entrar para a história dos efeitos visuais. Embora o mundo digital retratado em Tron: Legacy não seja páreo para Avatar, por exemplo, é impossível deixar de reconhecer que existe um aspecto em particular no qual o filme (pelo menos até este momento) representa a vanguarda absoluta dos efeitos especiais: a reconstrução, em computação gráfica, do visual de um ator. Já vimos exemplos disso antes (o Brad Pitt quase adolescente no final de O Estranho Caso de Benjamin Button, ou o jovem Schwarzenegger em Terminator - Salvation), mas nada já feito até o momento se compara ao impressionante e estarrecedor trabalho de rejuvenescimento digital feito com o ator Jeff Bridges em Tron: Legacy. Pode acreditar: é de tirar o fôlego e fazer o queixo cair. Bridges (com seu rosto atual de homem de 61 anos de idade), como Kevin Flynn, contracena cara a cara com o vilão Clu, também interpretado por Bridges, mas cujo rosto se parece com o aspecto que o ator tinha há trinta anos atrás. E os "dois Jeff Bridges" são igualmente reais e convincentes, o que realmente atesta que a computação gráfica no cinema atingiu um patamar de qualidade técnica que pareceria ficção científica há dez anos atrás.


Alguns críticos de Tron: Legacy estão dizendo que a "história do filme não é grande coisa", ou que "os personagens e diálogos são rasos", ou que "o ritmo do filme deixa a desejar". Eu sei que os fãs do Tron original de 1982 vão querer arrancar a minha cabeça, mas deixemos as emoções de lado por um instante para analisar racionalmente a seguinte questão: será que todas essas críticas não seriam perfeitamente adequadas ao próprio Tron original? O caráter icônico do filme oitentista, aparentemente, fez muita gente esquecer que ele nunca foi um consenso, nunca foi um filme considerado "perfeito sob todos os aspectos", ao contrário de obras como Star Wars. Mesmo nos dias atuais, em que o Tron original já foi canonizado como um clássico, o filme conta com modestos 67% de aprovação no Rotten Tomatoes (o popular agregador de reviews profissionais).

Sejamos francos: com todos os seus méritos tecnológicos inegáveis e seu apelo visual irresistível para a época, o Tron de 1982 não é um "filme perfeito" e não tem grandes tramas, diálogos ou profundidade dramática. Dito isso, fica fácil constatar que Tron: Legacy não apresenta nenhum "defeito" que o próprio original, de uma forma ou outra, já não tivesse. O novo Tron vale mais pela experiência visual do que pela narrativa e pelo drama? O Tron original também! O novo Tron demora um pouco para "pegar no tranco" e apresenta um ritmo meio irregular? O Tron original também!


Bom, mas o que muda, então? A diferença é que, ao assistir Tron em 1982, o espectador estava testemunhando o que de mais moderno havia em computação gráfica, efeitos especiais digitais e narrativa de ficção científica casada com informática. Já quem assiste Tron: Legacy em 2010 não se vê diante de nenhuma "revolução" imaginativa ou audiovisual, mas sim tão somente diante de um filme divertido e extremamente caprichado em termos de efeitos especiais. Não é nenhum marco (como foi o recente Avatar), mas é muito bom naquilo que se propõe a mostrar. O roteiro, embora desprovido de maiores predicados, é suficientemente sólido para não desonrar o cânone da obra original. E a maravilhosa trilha sonora do Daft Punk só contribui para tornar a experiência como um todo ainda mais recomendável.


A mística e soturna ambientação do mundo digital, o apelo dos efeitos visuais, a dinâmica das batalhas virtuais, a luta da liberdade contra a tirania: todos os temas centrais do Tron de 1982 foram bem respeitados nesse tardio "retorno", que demorou 28 anos para virar realidade. O resultado não deixa a desejar. O único "pecado" de Tron: Legacy é, basicamente, não ser melhor que o seu antecessor e nem tão criativo quanto. Se você puder perdoar o filme por esta modesta "falha", não deixe de vê-lo no cinema. Sem dúvida, se trata de uma das maiores diversões que o cinemão hollywoodiano nos proporcionou neste ano já prestes a se encerrar.

Um comentário:

Unknown disse...

qual o nome do robo da segunda foto??