domingo, 11 de novembro de 2012

Review: SKYFALL (2012)


É fato: Skyfall, o novo filme do 007, é muito divertido. No entanto, está longe de ser perfeito e evidentemente não faz jus às críticas exageradamente positivas que o filme tem recebido da imprensa européia (que tem chegado ao cúmulo de chamar esse filme de "o melhor James Bond de todos os tempos"!).

O roteiro é sofrível, o ritmo é irregular e o melhor do filme acaba sendo o tom de auto-homenagem da cinessérie (quase auto-paródia, em alguns momentos),
que irá agradar muito os fãs dos filmes mais antigos (confesso que adorei as várias referências) mas que certamente não comoverá o público mais jovem ou menos familiarizado com o histórico de filmes de Bond.


O destaque absoluto vai para Javier Bardem, que interpreta o flamboiante e afetado vilão Raoul Silva, talvez o inimigo mais incoerente e inverossímil que 007 já enfrentou até hoje, mas que se torna impagável graças ao imenso talento do ator. 
 
(Atenção: este e os próximos parágrafos contém pequenos spoilers!!!) O roteiro, como já referi, é danado - chega a ser inverossímil até mesmo para os padrões da série. Basta apontar que o vilão, apesar de ser um dos mais perigosos cyber-terroristas do mundo, ex-agente do MI6 e um criminoso de periculosidade inconcebível, capaz de fazer qualquer coisa imaginável, não tem outro objetivo no filme além de choramingar na frente da "M". Não dá pra dizer nem que o objetivo dele é matar ela, pois ele tem dezenas de oportunidades de fazê-lo no filme e não faz.

Outro ponto inacreditável da trama é que Bond, querendo proteger M, bota ela num carro e ambos vão, sozinhos, para uma zona rural no absoluto meio do nada. Lá, serão apenas Bond, M e um velho caseiro decrépito enfrentando um exército de soldados do vilão - além do próprio, é claro. Se esse não é o "plano de proteção" mais ridículo e inverossímil da história do cinema, então eu não sei de mais nada. A intenção explícita e manifesta do filme, a todo momento, é destacar a dicotomia "new ways - meio urbano - alta tecnologia" versus "old ways - deserto rural - primitivismo", mas convenhamos: dava para fazer isso através de uma narrativa menos absurda.
 

O filme também tem alguns problemas graves de ritmo. No meio da projeção, quase parece que o espectador está vendo um clone de The Dark Knight, tamanho é o caos na tela e a sensação de que o vilão é onipresente e controla tudo o que acontece. De repente, não mais do que absolutamente de repente, o filme vira uma viagem bucólica ao meio do nada, em busca das raízes e do passado de James Bond. Particularmente, eu me senti como se estivesse no meio de um passeio de montanha russa e a luz do parque tivesse sido desligada subitamente. Embora ambas as abordagens (ação maníaca e frenética e retorno contemplativo às raízes do protagonista) sejam interessantes, precisaria haver um mínimo de transição entre uma e outra.

Apropriadamente, Skyfall coloca para descansar a personagem de Judi Dench (que está há dezesseis anos - e sete filmes - na série) e sinaliza o possível fim da "Era Daniel Craig" na pele do espião mais famoso do cinema.

Skyfall, no final das contas, se sustenta através da confissão explícita de que a fórmula da série está esgotada e de que é anacrônica sob muitos aspectos. Funciona, mas coloca uma interrogação sobre o futuro da série: ou ela se reinventa novamente, ou cai num ostracismo decorrente de sua agora confessada fórmula surrada e esgotada. Talvez nós fiquemos sem ver um novo filme de James Bond por alguns anos, e é provável que seja melhor dessa forma.

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