terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Caveira analisa: MISFITS - THE DEVIL'S RAIN (2011)


Hoje é o lançamento norte-americano de The Devil's Rain, o primeiro álbum de estúdio de músicas novas e originais do Misfits desde 1999! Como fanático pela banda que sou, é claro que eu não poderia deixar de ouvir o novo álbum em primeira mão, embora as circunstâncias já me levassem a não esperar nenhuma nova obra-prima da banda, hoje severamente desfalcada e descaracterizada em relação a épocas anteriores. Mas vamos ao novo disco!

A abertura do álbum (com "The Devil's Rain" e "Vivid Red") é legal mas não impressiona muito, ficando bem abaixo da média geral das músicas dos álbuns do Misfits da fase Graves. Os fãs do Misfits vão suspirar de saudades das dobradinhas "Abominable Dr.Phibes/American Psycho" e "Kong at the Gates/Forbidden Zone", que abriam os dois últimos álbuns de estúdio da banda ...

Na sequência vem um dos melhores momentos do álbum, com as boas "Land of the Dead", "The Black Hole" e "Twilight of the Dead". O problema é que duas dessas três faixas já haviam sido lançadas pela banda anteriormente (embora tenham sido regravadas para este novo álbum), então fica aquela impressão de que o melhor deste novo lançamento já não soa mais como novidade.

Depois, o álbum escorrega feio com duas faixas incompreensivelmente aborrecidas e dispensáveis, "Curse of the Mummy's Hand" (talvez a coisa mais burocrática e "sem sal" já gravada pela banda em seus mais de 30 anos de história, apesar do caprichado solo de guitarra que tenta salvar a música) e "Cold in Hell". É um material que não merecia ver a luz do dia nem como sobra de estúdio, nem como faixa bônus, nem como download gratuito de presente para os fãs. Até as mais obscuras sobras de estúdio da fase Graves são bem melhores do que essas duas músicas.

Quando o ouvinte já começa a suar de preocupação, o álbum dá uma leve melhorada com "Unexplained", com mais um solo de guitarra de Cadena.

Surpreendentemente, "Dark Shadows" - com vocais de Dez Cadena - é uma das melhores músicas do álbum, apesar de ter quase quatro minutos de duração (uma eternidade para os padrões da banda). A mesma longa duração (3:38) aparece nas faixas seguinte, a mediana "Father" e a interessante "Jack the Ripper".

"Monkey's Paw" foi escrita por Jerry Only em parceria com Daniel Rey. Coincidência ou não, parece mais uma música dos Ramones do que do Misfits. Mas, justiça seja feita, é uma música legal e se destaca no conjunto do novo álbum.

Talvez a influência de Rey não tenha sido assim tão significativa, pois a faixa seguinte, "Where Do They Go?", soa AINDA MAIS como Ramones do que a anterior. Mesmo deixando no ar alguma saudade da sonoridade clássica do Misfits, o certo é que essa é tranquilamente uma das músicas mais legais de The Devil's Rain.

"Sleepwalkin" é uma espécie de rockão meio arrastado, mas interessante. Não parece Misfits, mas é legal. A faixa final, "Death Ray", é de longe a mais rápida e nervosa de todas, e parece quase uma confissão de que o novo álbum é calmo e lento demais para os padrões da banda.

Concluindo: The Devil's Rain é bom ou é ruim? Analisado em si mesmo, sem comparações, o lançamento é legal e se mostra um sólido álbum de punk rock. Mas sofre de um GRAVE problema, que é a sensação geral de desorientação do fã de longa data. Isso porque o material não soa nem como o Misfits clássico, nem como o Misfits dos anos 90 - e isso não é nada, nada bom!

O mundo inteiro - de bandas que vendem milhões de álbuns às bandas punk de garagem ao redor do globo -  rende homenagens ao som e ao estilo que consagrou o Misfits, mas aparentemente Jerry Only & Cia estão mais preocupados em tentar "reinventar" a banda. Conseguem? Claro que não. O resultado ainda é Misfits - só que desprovido da inspiração e da energia que consagraram o nome da banda. Falta gritaria e caos nas músicas, coisas que sempre foram marca registrada das composições do Misfits. Pior: falta velocidade! As novas faixas são polidas, comportadas, "pasteurizadas". Samplers com efeitos "sinistros" e vozes de monstrinho aparecem aqui e ali, no lugar dos antigos backings anárquicos e microfonias.

Instrumentalmente, a banda está muito bem. Jerry Only está cantando melhor do que jamais se poderia esperar que ele conseguisse, o novo baterista Eric "Chupacabra" Arce cumpre seu papel numa boa e Dez Cadena visivelmente se puxa para mostrar serviço na guitarra, apresentando ao longo do álbum alguns dos solos mais elaborados da discografia da banda.

The Devil's Rain não é de forma nenhuma "ruim" e até conta com algumas faixas bem legais, mas é seguramente o material mais inexpressivo, pouco inspirado e dispensável da discografia da banda. Quem achava que Michale Graves e Doyle iriam fazer falta estava coberto de razão. Por mais que se queira defender a atual formação do Misfits, dificilmente alguém teria a audácia de negar que o álbum Punk Rock is Dead, lançado por Graves em 2005, é muito melhor (e muito mais fiel à sonoridade do Misfits) do que este novo The Devil's Rain.

Fica a minha sugestão: se você é fã de longa data do Misfits, não deixe de ouvir o novo álbum. Mas faça isso com a mente muito, muito aberta. Não espere a genialidade criativa da fase Danzig, nem a energia contagiante e frenética da fase Graves. Agora, se você ainda é novato e conhece pouco da discografia da banda, passe longe de The Devil's Rain. Vá correndo ouvir os discos Walk Among Us e Static Age, e depois se divirta com American Psycho e Famous Monsters. Deixe para ouvir The Devil's Rain no futuro, quando - e se - sobrar um tempo.

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