terça-feira, 13 de setembro de 2011

ENSAIO SOBRE A MUDANÇA



       "Tudo muda, até bermuda" - Platão.

Mudança. Mudança é uma droga, um horror. Um pé no saco, alguns diriam. Não estou falando só de mudança de casa, tipo aquelas mudanças que você faz com o caminhão de mudança. Estou falando de mudança em sentido amplo - alteração, transformação, modificação. E me poupem do papo auto-ajuda/new age de que "a mudança abre novas portas para blablablá". Vamos direto ao ponto: mudança é ruim. Todo mundo sabe.

A mudança é uma absoluta inconveniência até no ancestral baralho de tarô. Sabe a carta da "Morte", aquela que todo mundo conhece e morre de medo achando que é uma previsão literal de que a pessoa vai bater as botas? Pois é, na verdade a carta da "Morte" não significa literalmente "morte", mas sim "mudança". Viu só? Se fosse uma coisa boa, não representariam o fenômeno na forma de um esqueleto-zumbi agressivo e armado com uma foice!


Claro, podem existir aspectos positivos na mudança. Você pode ficar um ano mais velho e estar finalmente apto a tirar carteira de motorista. Você pode se mudar para um lugar melhor. Você pode mudar do velho emprego para um melhor, com aumento de salário ou redução de serviço. Mas sempre fica uma névoa de desconforto ao redor, pelo menos por algum tempo. Mudar, mesmo quando para melhor, é ser atirado pra fora da nossa zona de conforto - como o inquilino inadimplente que é despejado na rua e fica com aquela cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

Sabe qual é o grande problema sobre a questão da mudança? É o seguinte: muitas vezes, a gente só se dá conta de que não queria que as coisas mudassem depois que elas já mudaram. Quando estamos no presente, estamos sempre buscando algum tipo de mudança - mudança de emprego, de posição social, de escola, de faculdade, de status de relacionamento, de endereço, de cidade, de país, de sexo, de posição na tabela do Brasileirão etc. 


É só depois do caminhar dos anos - quando olhamos as velhos fotos do presente que virou passado - que suspiramos e nos damos conta de que gostaríamos que tudo tivesse continuado do jeito que era. Mas daí já é tarde, pois já caímos no conto do vigário da insatisfação humana e da natureza essencialmente fluída e transmutante da vida. Eu chamo esse fenômeno de "A Grande Sacanagem Cósmica", mas é um título ainda em desenvolvimento.

De qualquer forma, só o que sei é que um apartamento novo a gente eventualmente coloca em ordem, mesmo que demore alguns meses. Com uma rotina nova é a mesma coisa, a gente acaba se acostumando depois de um tempo. Agora: fazer 30 anos é um troço que não tem volta. É uma mudança com passagem só de ida. Não tem retorno. Como cantarolavam em prosa e verso os musifilósofos do Ratos de Porão na bonita melodia denominada Anarkophobia: "a cura é a sua morte"!

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